|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
União cria grupo para proteger militantes
Força Nacional de Segurança Pública terá 30 homens para atuar somente na guarda de defensores de direitos humanos
Unidade cuidará de pessoas que, para o governo, sofrem ameaça por sua atuação e não têm proteção adequada
ITALO NOGUEIRA
DA SUCURSAL DO RIO
A Secretaria Nacional de Segurança vai criar uma unidade
específica dentro da Força Nacional (FNS) para atuar exclusivamente na escolta de defensores de direitos humanos
ameaçados por sua atuação.
De acordo com o governo, as
polícias militares e a Federal
alegam em muitos casos falta
de efetivo para não disponibilizar agentes para a segurança de
militantes ameaçados, ou mesmo falta de atribuição legal. A
Senasp quer também melhorar
a capacitação dos agentes para
esse tipo de serviço.
Só no ano passado, 18 pedidos de escolta foram negados
pelas polícias Federal e militares, segundo dados da SEDH
(Secretaria Especial de Direitos
Humanos) e dos programas estaduais de proteção aos defensores de direitos humanos.
São militantes que, na avaliação do governo, sofrem grave
ameaça por sua atuação e não
têm a devida proteção.
Atualmente há 152 pessoas
consideradas ameaçadas, a
maioria (96) no Pará -nem todos precisam de proteção policial. Do total, 12 estão sob escolta, entre eles dom Erwin Kräutler, bispo do Xingu e presidente nacional do Conselho Indigenista Missionário.
O grupo será formado, inicialmente, por 30 homens cedidos pela Secretaria de Segurança do Distrito Federal à Secretaria Nacional de Segurança
Pública. O convênio será assinado até o final de junho. A
FNS é formada por policiais cedidos pelos Estados.
Os agentes serão submetidos
a cursos de formação em direitos humanos e técnicas de segurança pessoal. Só atuarão no
Distrito Federal quando não
estiverem servindo à FNS.
Essa, no entanto, é considerada uma medida de "curto
prazo". A Senasp e a SEDH querem criar uma "tropa" fora das
demais polícias, mas sem vinculação definida, para atuar
nesses casos. Seria aberto concurso público para a criação da
unidade. A proposta será analisada pela Presidência.
"Eventualmente, em determinados locais, o defensor está
sendo ameaçado por membros
da polícia local. Como vamos
pedir [policiais] num Estado
em que essa própria polícia faça
a proteção?", disse o Ricardo
Balestreri, diretor da Senasp.
Ele reconhece que a unidade
a ser criada agora "não resolve
todos os problemas de ameaças
de defensores de direitos humanos no país". Para cada
ameaçado são necessários três
ou quatro seguranças.
Para Rosa Correa, que integra o Movimento Nacional de
Direitos Humanos, a proteção
deve garantir que o militante
possa continuar atuando.
"Quando uma pessoa entra
no programa de proteção à testemunha, tem que se esconder.
No caso dos defensores, não.
Esse é o desafio para esses programas: garantir segurança para que os eles continuem fazendo o seu papel."
De acordo com Fernando
Matos, coordenador nacional
do Programa de Proteção de
Defensores de Direitos Humanos, alguns dos militantes que
não receberam a escolta solicitada foram retirados de sua
área de trabalho.
Correa afirma que a relação
entre agentes e escoltado "é
complexa", pois "as forças oficiais, na maioria dos casos, são
preparadas para reprimir os
defensores de direitos humanos quando estão na ponta, fazendo a sua luta".
Segundo Balestreri, os policiais selecionados terão aulas
"teóricas e práticas". "Policiais
democráticos não apenas têm
que ser respeitadores dos direitos humanos, mas também
promover esses direitos."
Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Foco: Casas de modernistas são adaptadas para oficinas culturais em São Paulo Índice
|