São Paulo, segunda-feira, 10 de junho de 2002

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VIOLÊNCIA

Dois suspeitos presos no Rio disseram que Tim Lopes foi assassinado pelo traficante Elias Maluco com uma espada

Polícia confirma morte de repórter da Globo

Luis Alvarenga/"Agência O Globo"
Fernando Satiro da Silva, 25, o Frei, preso ontem; ele nega participação no crime, mas deu detalhes da morte de Tim Lopes


KARINE RODRIGUES
FREE-LANCE PARA A FOLHA

A polícia do Rio informou ontem que o jornalista Tim Lopes, 51, da Rede Globo, desaparecido havia oito dias quando fazia uma reportagem na favela Vila Cruzeiro, na Penha (zona norte), foi assassinado por traficantes. A informação foi dada pelo chefe da Polícia Civil, Zaqueu Teixeira.
Ele confirmou a morte do jornalista após ouvir os depoimentos de dois suspeitos de envolvimento no crime, presos na manhã de ontem, no morro da Caixa D'água, na Penha (zona norte).
"Ele foi executado e, em seguida, queimado. Eles [os traficantes" sabiam que ele era jornalista", afirmou o chefe da Polícia Civil.
Segundo Teixeira, Lopes foi morto por Elias Pereira da Silva, o Elias Maluco, líder da facção CV (Comando Vermelho), que teria usado uma espada do tipo ninja.
Elias Maluco é apontado pela polícia como um dos criminosos mais violentos do Rio. De acordo com a chefe de investigações da DRE (Divisão de Repressão a Entorpecentes da Polícia Civil), Marina Maggessi, ele é responsável pela organização da maioria dos "bondes" (comboio de traficantes armados) que aterrorizaram motoristas nos últimos tempos.
Estimativas da DRE indicam que a quadrilha de Elias Maluco movimenta cerca de R$ 2,5 milhões com o comércio de drogas.
O criminoso foi preso pela última vez em 1996 e solto em 2000, beneficiado com liberdade condicional por bom comportamento.

Suspeitos
Segundo a polícia, os suspeitos presos ontem, Fernando Satiro da Silva, 25, o Frei, e Reinaldo do Amaral de Jesus, 25, o Cadê, pertencem à quadrilha de Elias Maluco. Embora tenham negado participação no crime, eles revelaram "com riqueza de detalhes", segundo a polícia, a morte de Lopes.
""Eles [os suspeitos" disseram que sabem do que aconteceu de ouvir dizer. Mas é um ouvir dizer com muita precisão, e isso nos faz acreditar que eles estavam na cena do crime", afirmou Teixeira.
O delegado-titular da 38ª DP (Brás de Pina), Reginaldo Guilherme, contou que Lopes estava no baile funk na Vila Cruzeiro quando foi abordado por um segurança do tráfico e levado até Maurício Martins, o Boi, do CV.
"Lopes foi reconhecido, pois já havia estado lá outras vezes. Eles encontraram a microcâmera que o jornalista escondia na pochete", afirmou o delegado.
Boi teria ligado para Elias Maluco. O chefe do CV teria ordenado que Lopes fosse levado para a favela da Grota, no Complexo do Alemão. De acordo com o relato, o jornalista teve as mãos amarradas para trás e foi levado de carro para o topo da favela, onde levou um tiro no pé, para não fugir.
Em entrevista na delegacia, Frei disse que Lopes foi submetido a um julgamento. Elias Maluco, Boi, André da Silva Barbosa, o André Capeta, e Ratinho teriam participado. "Quando Elias decide matar alguém, não volta atrás", afirmou o suspeito.
"Ele [Elias Maluco" abriu a barriga de Lopes com um golpe de espada. Depois o colocaram dentro de pneus e queimaram o corpo", contou o titular da 38º DP. O corpo estaria enterrado ao lado do local onde foi queimado.
De acordo com o delegado, Elias teria feito questão de matar Lopes por causa da reportagem "Feira das Drogas", exibida pelo "Jornal Nacional" em julho. Lopes filmou traficantes vendendo cocaína e maconha na entrada da favela da Grota. Pela reportagem, Lopes recebeu o Prêmio Esso de Telejornalismo de 2001.
O titular da 38ª DP disse que outras três pessoas -uma delas menor- foram detidas na operação policial, mas foram liberadas após prestar depoimento.

Colaborou MARIO HUGO MONKEN, da Sucursal do Rio)


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