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São Paulo, terça-feira, 10 de junho de 2003
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INTOXICAÇÃO Presidente de laboratório afirma que químico "deve ter esquecido" de lavar equipamento usado para fabricar Celobar Enila diz que pode ter usado máquina "suja"
SABRINA PETRY DA SUCURSAL DO RIO O diretor-presidente do laboratório Enila, Márcio D'Icarahy, produtor do Celobar, responsabilizou ontem o químico da empresa, Antônio Carlos Fonseca, pela contaminação do medicamento com substâncias tóxicas. Segundo a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), 21 pessoas podem ter morrido após consumir o medicamento, que foi contaminado com carbonato de bário, substância usada em veneno de ratos. Em depoimento à Delegacia de Repressão aos Crimes contra a Saúde Pública, órgão da Polícia Civil do Rio, D'Icarahy disse que Fonseca "deve ter esquecido" de lavar os equipamentos do laboratório após usá-los em uma tentativa de transformar cerca de 600 kg de carbonato de bário em sulfato de bário, produto não-tóxico normalmente usado no Celobar. O objetivo seria produzir o insumo, que é importado, como forma de reduzir custos. O Enila, porém, não tem autorização para produzir insumos, segundo o delegado Renato Nunes. Segundo D'Icarahy, o material resultante do processamento foi descartado. O diretor-presidente afirmou ainda que demitiu Fonseca no último dia 23. O químico também foi ouvido ontem pela polícia, por cerca de cinco horas e meia. Nem ele nem seu advogado falaram com a imprensa. Às 23h, o delegado disse que Fonseca admitiu a possibilidade de ter usado um equipamento "sujo" ao produzir o medicamento. Antes, o mesmo delegado havia dito que o químico negava ser responsável pela contaminação. Laudo da Fundação Oswaldo Cruz indicou "grande quantidade" de carbonato de bário em um lote do Celobar. Procedimentos D'Icarahy descartou a hipótese de o carbonato de bário ter sido utilizado por engano no lote contaminado do Celobar. Questionado sobre o que pode ter dado errado, o diretor-presidente respondeu: "Nada deu errado". "O carbonato foi comprado para ser usado na área química da empresa, não na produção farmacêutica. Toda matéria-prima é importada", afirmou D'Icarahy. Notas D'Icarahy contestou o laudo da Vigilância Sanitária que apontou uma quantidade insuficiente de sulfato de bário no laboratório, incompatível com a produção do medicamento. Isso reforçaria a suspeita de utilização dos 600 kg de carbonato de bário na fabricação do Celobar. Para tentar provar que o laboratório tinha matéria-prima suficiente para a produção, o diretor-presidente apresentou notas fiscais de compra de sulfato de bário dos últimos três anos. Apesar de o diretor ter responsabilizado Fonseca pela contaminação, o delegado afirmou que os dois poderão ser indiciados por adulteração de medicamentos, crime cuja pena vai de 10 a 15 anos de prisão, e que pode ser dobrada por envolver mortes. "A responsabilidade não é só de quem manipulou. Ela tem que ser atribuída aos seus superiores, os responsáveis pelo laboratório." Nunes não descartou a possibilidade de os dois serem também indiciados por homicídio culposo (sem intenção). Próximo Texto: Clínica goiana alertou empresa no dia 22 Índice |
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