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São Paulo, terça-feira, 10 de junho de 2003

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Primeiro aviso do laboratório Enila sobre as suspeitas a respeito de lote do Celobar veio a público no dia 26

Clínica goiana alertou empresa no dia 22

FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

A clínica radiológica Multimagem, de Goiânia, informou o laboratório Enila sobre problemas com o lote 3040068 do Celobar no dia 22 de maio. Mas o laboratório não comunicou a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que poderia soltar um alerta nacional sobre o problema.
O Enila só tornou pública a suspeita sobre o lote no dia 26 de maio, por meio de um pequeno anúncio no jornal "O Globo". Falava em risco de vômito e diarréia.
Ontem, em depoimento à polícia do Rio, o diretor-presidente do laboratório Enila, Márcio D'Icarahy, culpou um químico da empresa pela contaminação do contraste, usado para destacar órgãos em exames de imagem.
Segundo D'Icarahy, o químico não teria lavado direito os equipamentos depois de mexer com a substância tóxica carbonato de bário. O funcionário teria sido demitido no dia 23 -ou seja, três dias antes da divulgação.
No dia 21, um paciente da clínica Multimagem passou mal após tomar o contraste Celobar para um exame do coração. No dia seguinte, mais um teve problemas. Funcionários perceberam alterações na cor e no cheiro do contraste. Ambos os pacientes tinham tomado pequenas quantidades da droga, equivalentes a um copo plástico de cafezinho. Em alguns exames, é necessário tomar até dois copos americanos.
A clínica informou o distribuidor do qual comprara o lote 3040068, a Rey Drogas, de Goiânia, que contatou o laboratório Enila, relata Rita de Cássia Leite, administradora da Multimagem.
A clínica recebeu no dia 22 telefonema de um funcionário do Enila chamado Rodrigo, relata Leite. A Multimagem informou que suspendera a administração do lote e que poderia fornecer amostras para que o laboratório realizasse testes.
O funcionário teria dito, segundo Leite, que a empresa já dispunha de amostras para a análise.
"Aí eles passaram a entrar em contato com os clientes. Falaram que tinham constatado uma irregularidade, não sabiam o que era, que por motivo de segurança era preciso suspender a administração do lote até que se verificasse o que tinha acontecido", relata a administradora da Multimagem.
No dia 22 o Enila expediu laudo que aponta suposta contaminação bacteriana do lote. Laudo da Fiocruz apontou na sexta-feira passada que o contraste na verdade conteria substâncias tóxicas.
A distribuidora Unidrogas, de Goiânia, informou ter recebido comunicado por telefone do Enila no dia 23 de maio. Mais tarde chegou uma comunicação por escrito. "Eles não especificavam o problema", afirma Urbano Inácio, gerente de compras da Unidrogas. Até o dia 24 pelo menos cinco pessoas já tinham morrido depois de tomar a droga.

Bariogel
A Clínica São Matheus de Goiânia tenta localizar os pacientes que fizeram testes com contraste no dia 23 de maio no local.
Aldenora Izídio da Silva, 56, morreu depois de receber contraste na clínica. Maurício Ximenes, diretor da unidade, informou que Silva teria recebido contraste de outra marca, o Bariogel. Mas a Anvisa descarta a possibilidade de relação desse produto com as mortes. Segundo Ximenes, apesar de a clínica só ter em estoque o Bariogel, alguns pacientes traziam o Celobar. A investigação verifica se, por confusão, não foi usado em Silva Celobar trazido por outros pacientes.


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