São Paulo, Segunda-feira, 10 de Julho de 2000
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CARIDADE ELEITORAL
Para parlamentares de São Paulo, doações não têm como objetivo conquistar o voto do eleitor beneficiado
Vereadores negam caráter político da ação

DA REPORTAGEM LOCAL

Os vereadores desconversam quando questionados sobre a prática de clientelismo para manter fiel seu eleitorado.
Milton Leite (PMDB), por exemplo, nega que tenha pago formatura de alunos do ensino médio em troca de votos. Ele diz que o baile, a colação de grau, as becas e as fitas foram obtidos graças à ação de amigos.
O vereador cardiologista Paulo Frange (PTB) confirma que faz caridade, mas nega que o alvo sejam seus eleitores.

Cliente assíduo
Nascido em Uberaba, no Triângulo Mineiro, Frange diz que ajuda instituições em sua cidade. Por causa disso, é um dos clientes da Cirúrgica Pitta, em Pirituba, loja especialista em produtos hospitalares, como cadeiras de roda, bengalas e aparelhos para pressão.
Em cima dos letreiros da loja há um cartaz com a propaganda de Frange, nas mesmas cores e com o mesmo tipo de letra da propaganda da cirúrgica.
Frange confirma que costumava fazer doações para moradores de São Paulo, mas diz que parou em 1993, "quando a situação do país ficou ruim" e seu faturamento na clínica caiu. Atualmente, ele afirma que ajuda instituições filantrópicas com seus conhecimentos profissionais.

Ambulâncias
Jooji Hato (PMDB), que chegou a ser acusado de abuso econômico na eleição de 1996 porque utilizava ambulâncias, diz que não adota mais essa prática.
Quanto às ambulâncias, afirma que pertencem à sua clínica, localizada em Diadema (Grande São Paulo), e transportavam pacientes da cidade para serem tratados em São Paulo.
O vereador Jorge Taba (PSB) confirma a ajuda às igrejas. "A gente é ecumênico. Eu ajudo as igrejas budista, católica, evangélica, todas elas."
Questionado sobre as críticas à prática assistencialista, ele afirma: "O eleitor começa a acreditar pelo atendimento. Só assim você vai conquistar, vai plantar um terreno mais firme para poder colher."
Taba avalia que "o político, principalmente o de oposição, se não fizer isso, não tem nichos".

"Tenho limites"
Embora admita fazer doações, Edvaldo Estima (PPB) rejeita o caráter eleitoral dessa prática. Tanto, segundo ele, que eleitores já o abandonaram após terem ajuda negada. "Já perdi amigos porque fui sincero. Mas eu tenho limites."
Toninho Paiva (PFL) cita como evidências de que o seu trabalho é "social", e não clientelista, o fato de manter a mesma atuação durante os quatro anos de mandato. "Meu trabalho é constante."
Ele nega ter ambição de se perpetuar no cargo. Afirma ainda que quase decidiu parar com a vida pública. "Voltei atrás por causa dos apelos."
Gilson Barreto (PSDB) também nega interesses eleitorais nas ajudas que oferece em seu espaço político e cultural.
"É um trabalho que eu faço para a comunidade muito antes de me tornar vereador."



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