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Parlamentar exige título para cadastrar eleitor
DA REPORTAGEM LOCAL
Ele não é idoso, não tem barbas
brancas, não veste roupas vermelhas, não usa trenó. Mas há quem
diga que o vereador Alan Lopes
(PTB) é o Papai Noel, tal a quantidade de pedidos que ele atende
em seu escritório político, no Jardim Miriam (zona sul). São mais
de 200 por semana.
Material de construção, cadeira
de rodas, jogo de camisa, enxoval,
cesta básica, advogado, emprego,
vaga em escola, asfalto na rua. Lopes fornece o que for preciso, sem
que o eleitor tenha que desembolsar um único centavo.
Para ser cadastrado, só existe
uma exigência: não pode esquecer de levar o título de eleitor.
Ansiosa para ganhar novos óculos, a dona-de-casa Maria José de
Araújo, 60, explica o motivo da
exigência. "Ele tem de saber que
nós votamos. O título é uma prova que não mente."
Ela não fica irritada com a exigência: "Ele tem a obrigação de
pedir. Se ele dá uma ajuda, a gente
tem de ajudar também".
Há outras regras. No último dia
26, a costureira Adelina Garcia
Franceschi, 59, visitava o escritório do vereador pela terceira vez
para receber seus óculos.
Na primeira, um mês atrás, fez o
cadastro. Na segunda visita, foi
informada sobre o endereço da
ótica. Na terceira, pretendia finalmente receber o presente.
Os óculos já estavam prontos na
Ótica Ângela. Mas Adelina só poderia retirá-los com a equipe de
assessores de Alan Lopes. O motivo ela não sabe. "Tem de vir até
aqui. Acho que deve ser o regulamento. Eu não entrei em detalhes
porque já estou ganhando. Eu
quero mais é conseguir."
A justificativa do vereador é que
o escritório político fica mais perto da sua base eleitoral.
Como uma criança, a costureira
rezava, com a Bíblia na mão, para
ter seu desejo realizado. "Estou
com muita fé. Nem dormi à noite,
parecia uma criança que vai ganhar um presente especial."
A mesma Ótica Ângela já fez
mais de cem óculos para o vereador de dois meses para cá. Paulo
Silas da Silva, irmão do dono do
estabelecimento, explica que, para Alan Lopes, o produto sai pela
metade do preço (de R$ 60 para
R$ 30, em média).
O vereador, porém, garante que
não tira nada do seu bolso. "Não
gasto nada. Tenho "n" amigos que
me ajudam."
Apesar de ter orgulho de seu
trabalho assistencial, Lopes afixou cartazes no escritório político
sobre a legislação eleitoral informando sobre a proibição de fazer
doações em troca de votos.
No dia 26 passado, os pedidos
continuavam. A dona-de-casa Fabiana Pinto, 19, grávida de 9 meses, e a estudante Fabiana Águida
dos Santos, 18, grávida de 5 meses,
tentavam ser beneficiadas pela
distribuição de enxoval. Naquele
dia, com a presença da reportagem, o vereador afirmou: "Agora
não pode mais".
Os cerca de dez funcionários
que, segundo ele, recebem uma
ajuda de custo, ficarão responsáveis apenas pelo cadastramento
da população.
Alan Lopes afirma que a tática, a
partir de agora, será a de repassar
os produtos para as entidades,
que ficarão responsáveis pela
doação. "A Lei Eleitoral é rígida.
Não faremos distribuição aqui."
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