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CONGRESSO EM DURBAN
Discurso de presidente sul-africano frustra cientistas, que saem no meio da solenidade de abertura
Mbeki evita falar sobre origem da Aids
GABRIELA SCHEINBERG
JAIRO BOUER
ENVIADOS ESPECIAIS A DURBAN
Mesmo com uma das mais belas
cerimônias de abertura de um
congresso mundial de Aids, o
evento realizado ontem à noite
em Durban, na África do Sul, deixou muitos participantes frustrados, a ponto de saírem no meio do
show. A razão foi o discurso feito
pelo presidente da África do Sul,
Thabo Mbeki, que deu início ao
13º Congresso Mundial de Aids.
"Não podemos superestimar o
que o congresso mundial pode fazer pela África do Sul", disse. "Vocês que vieram a Durban para
participar da conferência não conhecerão a verdadeira África. Vocês não verão a pobreza das crianças e adultos que hoje sofrem com
a Aids", afirmou.
Mbeki evitou falar sobre o assunto que todos esperavam: a origem da Aids. Ele, a exemplo de
um grupo de cientistas dissidentes, questiona o HIV como sendo
responsável pela Aids. Essa posição o colocou em evidência nos
últimos meses. Entre as várias
possibilidades apontadas por esse
grupo estão a desnutrição, nitratos e até o AZT, medicamento
usado para combater a doença.
O presidente Bill Clinton, dos
EUA, e o primeiro-ministro Tony
Blair, do Reino Unido, já haviam
se manifestado contra Mbeki.
Agora, foi a vez dos cientistas.
A posição de Mbeki foi repudiada pela maior parte da comunidade médica mundial em uma declaração, publicada dia 6 de julho
na revista médica "Nature".
A Declaração de Durban, assinada por 5.000 cientistas, incluindo 12 vencedores de prêmios Nobel, afirma que o HIV é o único
responsável pela Aids.
Mbeki ignorou a declaração durante o discurso de abertura. Ele
nem sequer mencionou a origem
da Aids. Sem entrar diretamente
no assunto, apresentou várias
possíveis causas para a situação
atual da África do Sul, em que um
quarto da população está infectada pelo HIV.
"O principal problema da África
é a pobreza extrema. Ela é responsável pela falta de saneamento básico e de comida, pela alta taxa de
mortalidade materna e pelas
doenças." Nesse momento, muitos cientistas começaram a se levantar e a sair do Estádio de Cricket Kingsmead, onde a cerimônia
foi realizada. Mas Mbeki continuou: "Devemos respeitar todos
os pontos de vista", disse.
Mbeki também não falou sobre
a questão do acesso universal aos
medicamentos anti-HIV, um dos
principais temas do congresso.
Essa questão foi amplamente
abordada durante uma manifestação, que reuniu 4.000 pessoas e
foi realizada pela ONG Treatment
Action Campaign (Campanha de
Ação para o Tratamento).
"Mbeki não está fazendo um
trabalho efetivo para fazer os laboratórios farmacêuticos reduzirem os preços dos remédios",
afirmou Naghan Geffen, porta-voz da ONG.
A ex-mulher do ex-presidente
sul-africano Nelson Mandela,
Winnie Madikizela, também participou do evento. Durante seu
discurso, ela acusou os laboratórios farmacêuticos de responsáveis pelo "holocausto da Aids"
que ocorre na África.
A repórter Gabriela Scheinberg viajou a
convite do laboratório Merck Sharp Dohme. O repórter Jairo Bouer viajou a convite do laboratório Abbott.
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