São Paulo, terça-feira, 10 de julho de 2001

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9 DE JULHO

Coronel condenado a 632 anos de prisão é impedido pelo comando da PM de marchar à frente da cavalaria em SP

Aplaudido, Ubiratan desfila como civil

DA REPORTAGEM LOCAL

A Polícia Militar de São Paulo impediu que desfilasse nas comemorações de 9 de Julho, à frente da cavalaria, o coronel reformado Ubiratan Guimarães, condenado em primeira instância a 632 anos de prisão pela morte de 102 presos no massacre do Carandiru.
O coronel deveria encerrar o desfile com o regimento da corporação que leva como nome a data da revolução constitucionalista de 32, fardado com trajes da época. Essa é a tradição para os ex-comandantes da cavalaria.
Por conta própria, após a proibição do Comando Geral, Ubiratan decidiu participar das comemorações como civil, em cima de um jipe, com a roupa da cavalaria. Ele foi aplaudido principalmente pelos convidados da tribuna de honra, onde estavam o governador Geraldo Alckmin, o secretário da Segurança, Marco Vinicio Petrelluzzi, e o comandante-geral da PM, coronel Rui César Melo.
Em pé no veículo, do lado do passageiro, ele olhou e não cumprimentou Alckmin nem Petrelluzzi nem Melo, ao passar por eles. Se o coronel estivesse desfilando como militar, acompanhado da cavalaria, haveria o gesto obrigatório da saudação militar: a continência às autoridades.
"Ele [Ubiratan" está querendo criar polêmica, se passar por vítima, e nós não vamos colaborar para isso. Ele é um problema da Justiça", disse Alckmin, que não aplaudiu a passagem do coronel como fez com outras delegações.
""A decisão [de proibir o desfile de Ubiratan" é do comandante da PM, a qual eu endosso", disse o secretário da Segurança. Segundo ele, a secretaria soube que o desfile seria transformado em um ato de apoio ao coronel. ""Houve uma iniciativa de afrontar."
Melo disse que resolveu proibir o desfile do coronel à frente da cavalaria para evitar o envolvimento da PM. "Passaria a conotação de aprovação institucional."
Visivelmente nervoso depois de passar de jipe pela avenida, o coronel disse que não pretendia afrontar ninguém. ""É uma retaliação me proibir de alguma coisa que sempre fiz. Há 40 anos eu desfilo no 9 de Julho", disse o coronel, que apelou da condenação.
Amigos do coronel, incluindo oficiais da ativa, usavam camisetas com a frase ""os humanos direitos absolvem o coronel Ubiratan" e traziam faixas de apoio.
Ubiratan disse que a ordem de proibição veio de Petrelluzzi e foi repassada a ele duas horas antes do desfile pelo coronel Melo.
(ALESSANDRO SILVA E GILMAR PENTEADO)


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