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São Paulo, quinta-feira, 10 de julho de 2003

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INFÂNCIA

Mulheres que tiveram filhos sequestrados em hospitais acham que a eventual solução de um caso pode dar pistas de outros

Sumiço de bebê anima busca de outras mães

DO "AGORA"

Quando Francineide Batista Lopes, 28, ficou sabendo do desaparecimento de Carla -o bebê de 16 dias sumiu do estacionamento da Santa Casa de Misericórdia, anteontem-, foi tomada por uma onda de esperança.
Soa estranho, mas foi assim mesmo. Há dois anos e três meses, Lopes procura pelo filho, sequestrado três dias após o parto, em abril de 2001, de dentro de um hospital do litoral paulista.
"Eu sei que é lamentável o que aconteceu, mas, infelizmente, todas as vezes que aparece uma história dessas, ela renova a esperança de a gente encontrar Filipe."
Filipe era o primeiro e único filho da empregada doméstica Lopes e do garçom Francisco Fernandes Dantas. Foi levado também por uma falsa enfermeira de dentro do Hospital Guilherme Álvaro, em Santos.
É um dos mais recentes casos desse tipo ocorridos no Estado. Mas, infelizmente, não é o único nos últimos anos. Em São Paulo, havia, no começo de 2002, pelo menos 2.896 crianças desaparecidas antes de completar 12 anos. Não se sabe quantas sumiram de hospitais, mas cerca de 1,5% dos casos se referem a bebês com menos de um ano.
O sumiço de Filipe aconteceu cinco anos depois do desaparecimento do bebê de Ana Paula Vital, hoje com 21 anos. Na época, o drama de Lopes funcionou como um revigorante para ela.
"Eu ouvi o depoimento dela numa rádio e liguei na hora. "Passe o meu telefone", pedi. Queria falar com ela. Nos encontramos e conversamos", contou.
Vital tinha 14 anos quando o filho Alexsandro -hoje com sete anos- foi levado, em 1996, do Hospital Santo Amaro, no Guarujá, também por uma suposta enfermeira, um dia depois do parto.
"Eu não esqueço dele", diz. "Acho que, investigando qualquer caso, a polícia pode descobrir uma quadrilha que possa levar à mulher que pegou meu filho", completa Lopes.
As mães sabem que o tempo é o principal inimigo nessa busca. No caso de Filipe e Alexsandro, por exemplo, a única imagem dos meninos está na memória das famílias. "A gente ainda não tinha nem tirado foto", diz Lopes. "Em toda a criança que vejo nas ruas procuro um traço familiar."
Estudos de uma organização não-governamental do Distrito Federal -Serviço de Proteção e Atenção ao Desaparecimento de Crianças e Adolescentes- mostram que, quanto maior o tempo de desaparecimento das crianças, menores as possibilidades de os parentes a localizarem.
Segundo a entidade, cerca de 70% dos casos foram solucionados nos primeiros 30 dias após o sumiço. E apenas 9,3% chegaram a um desfecho após seis meses.

Artifício
Assim como no caso da adolescente que perdeu o bebê na Santa Casa, retirar a criança de perto da mãe alegando a necessidade de fazer exames é um artifício comum usado pelos sequestradores.
Ana Paula Vital, por exemplo, não viu mais seu filho Alexsandro depois que uma "mulher de branco e com crachá" entrou no quarto de um hospital, no Guarujá, e disse que levaria o bebê para fazer o exame do pezinho.


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