|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
INFÂNCIA
Mulheres que tiveram filhos sequestrados em hospitais acham que a eventual solução de um caso pode dar pistas de outros
Sumiço de bebê anima busca de outras mães
DO "AGORA"
Quando Francineide Batista
Lopes, 28, ficou sabendo do desaparecimento de Carla -o bebê de
16 dias sumiu do estacionamento
da Santa Casa de Misericórdia,
anteontem-, foi tomada por
uma onda de esperança.
Soa estranho, mas foi assim
mesmo. Há dois anos e três meses, Lopes procura pelo filho, sequestrado três dias após o parto,
em abril de 2001, de dentro de um
hospital do litoral paulista.
"Eu sei que é lamentável o que
aconteceu, mas, infelizmente, todas as vezes que aparece uma história dessas, ela renova a esperança de a gente encontrar Filipe."
Filipe era o primeiro e único filho da empregada doméstica Lopes e do garçom Francisco Fernandes Dantas. Foi levado também por uma falsa enfermeira de
dentro do Hospital Guilherme Álvaro, em Santos.
É um dos mais recentes casos
desse tipo ocorridos no Estado.
Mas, infelizmente, não é o único
nos últimos anos. Em São Paulo,
havia, no começo de 2002, pelo
menos 2.896 crianças desaparecidas antes de completar 12 anos.
Não se sabe quantas sumiram de
hospitais, mas cerca de 1,5% dos
casos se referem a bebês com menos de um ano.
O sumiço de Filipe aconteceu
cinco anos depois do desaparecimento do bebê de Ana Paula Vital, hoje com 21 anos. Na época, o
drama de Lopes funcionou como
um revigorante para ela.
"Eu ouvi o depoimento dela numa rádio e liguei na hora. "Passe o
meu telefone", pedi. Queria falar
com ela. Nos encontramos e conversamos", contou.
Vital tinha 14 anos quando o filho Alexsandro -hoje com sete
anos- foi levado, em 1996, do
Hospital Santo Amaro, no Guarujá, também por uma suposta enfermeira, um dia depois do parto.
"Eu não esqueço dele", diz.
"Acho que, investigando qualquer caso, a polícia pode descobrir uma quadrilha que possa levar à mulher que pegou meu filho", completa Lopes.
As mães sabem que o tempo é o
principal inimigo nessa busca. No
caso de Filipe e Alexsandro, por
exemplo, a única imagem dos
meninos está na memória das famílias. "A gente ainda não tinha
nem tirado foto", diz Lopes. "Em
toda a criança que vejo nas ruas
procuro um traço familiar."
Estudos de uma organização
não-governamental do Distrito
Federal -Serviço de Proteção e
Atenção ao Desaparecimento de
Crianças e Adolescentes- mostram que, quanto maior o tempo
de desaparecimento das crianças,
menores as possibilidades de os
parentes a localizarem.
Segundo a entidade, cerca de
70% dos casos foram solucionados nos primeiros 30 dias após o
sumiço. E apenas 9,3% chegaram
a um desfecho após seis meses.
Artifício
Assim como no caso da adolescente que perdeu o bebê na Santa
Casa, retirar a criança de perto da
mãe alegando a necessidade de fazer exames é um artifício comum
usado pelos sequestradores.
Ana Paula Vital, por exemplo,
não viu mais seu filho Alexsandro
depois que uma "mulher de branco e com crachá" entrou no quarto de um hospital, no Guarujá, e
disse que levaria o bebê para fazer
o exame do pezinho.
Texto Anterior: Mortes Próximo Texto: Menor é levada para novo abrigo Índice
|