São Paulo, sábado, 10 de julho de 2004

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Açougueiro blinda casa com paralelepípedos

MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO

Há cinco anos, depois de mais uma noite de tiroteio entre traficantes rivais dos morros do Andaraí e da Chácara do Céu, na Tijuca (zona norte do Rio), a dona-de-casa Janete Targino contou pelo menos dez marcas de tiros de fuzil em sua casa, que fica no limite entre as duas comunidades, na localidade Caveira do Burro.
Apavorada, ela disse ao marido, o açougueiro Oscar Tomás da Costa, que queria mudar imediatamente dali. Do contrário, voltaria para João Pessoa, na Paraíba. Mas Costa encontrou uma solução inusitada: forrou de paralelepípedos -blocos de pedra usados no calçamento de ruas- a fachada que dá para a sala e para o quarto dos três filhos. A iniciativa deu certo. Nunca mais as balas furaram as paredes, apesar de o imóvel de sala e dois quartos ficar na linha de tiro. As balas batem na parede de pedra e caem no chão.
A região onde fica a casa do casal é rodeada de favelas em que quadrilhas de traficantes disputam pontos-de-venda de drogas. Além da Chácara do Céu, onde o tráfico é controlado pela facção criminosa ADA (Amigo dos Amigos), e do Andaraí, onde atua o CV (Comando Vermelho), há ainda os morros do Borel e da Formiga, ambos do CV, da Casa Branca e da Cruz, do ADA.
Segundo Janete, o marido conseguiu os paralelepípedos com funcionários da Prefeitura do Rio, que, na época, realizavam obras do programa Favela-Bairro.
Vizinho do casal, o aposentado José Severino da Silva, 66, teve a mesma idéia depois que 36 balas de fuzil furaram as paredes de sua casa. Algumas delas atingiram a cozinha e os quartos. Ele recolheu paralelepípedos que não foram utilizados no Favela-Bairro e também construiu uma parede de pedra na fachada lateral. Ele disse que os traficantes do Andaraí não gostaram da novidade e, quando construía a parede, dispararam três tiros contra a sua casa. Os tiros por pouco não acertaram os pedreiros que faziam o trabalho.
Segundo ele, antes da instalação de um Destacamento de Policiamento Ostensivo da PM na Chácara do Céu, os traficantes chegavam a subir no telhado de sua casa para trocar tiros com rivais.


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