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Açougueiro blinda casa com paralelepípedos
MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO
Há cinco anos, depois de mais
uma noite de tiroteio entre traficantes rivais dos morros do Andaraí e da Chácara do Céu, na Tijuca (zona norte do Rio), a dona-de-casa Janete Targino contou
pelo menos dez marcas de tiros de
fuzil em sua casa, que fica no limite entre as duas comunidades, na
localidade Caveira do Burro.
Apavorada, ela disse ao marido,
o açougueiro Oscar Tomás da
Costa, que queria mudar imediatamente dali. Do contrário, voltaria para João Pessoa, na Paraíba.
Mas Costa encontrou uma solução inusitada: forrou de paralelepípedos -blocos de pedra usados no calçamento de ruas- a fachada que dá para a sala e para o
quarto dos três filhos. A iniciativa
deu certo. Nunca mais as balas furaram as paredes, apesar de o
imóvel de sala e dois quartos ficar
na linha de tiro. As balas batem na
parede de pedra e caem no chão.
A região onde fica a casa do casal é rodeada de favelas em que
quadrilhas de traficantes disputam pontos-de-venda de drogas.
Além da Chácara do Céu, onde o
tráfico é controlado pela facção
criminosa ADA (Amigo dos Amigos), e do Andaraí, onde atua o
CV (Comando Vermelho), há
ainda os morros do Borel e da
Formiga, ambos do CV, da Casa
Branca e da Cruz, do ADA.
Segundo Janete, o marido conseguiu os paralelepípedos com
funcionários da Prefeitura do Rio,
que, na época, realizavam obras
do programa Favela-Bairro.
Vizinho do casal, o aposentado
José Severino da Silva, 66, teve a
mesma idéia depois que 36 balas
de fuzil furaram as paredes de sua
casa. Algumas delas atingiram a
cozinha e os quartos. Ele recolheu
paralelepípedos que não foram
utilizados no Favela-Bairro e também construiu uma parede de pedra na fachada lateral. Ele disse
que os traficantes do Andaraí não
gostaram da novidade e, quando
construía a parede, dispararam
três tiros contra a sua casa. Os tiros por pouco não acertaram os
pedreiros que faziam o trabalho.
Segundo ele, antes da instalação
de um Destacamento de Policiamento Ostensivo da PM na Chácara do Céu, os traficantes chegavam a subir no telhado de sua casa
para trocar tiros com rivais.
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