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POLÍCIA FORA DA LEI
Abreu Filho afirma que não teve contato com o Gradi e que só agora soube de infiltração de detentos
Secretário diz que desconhecia uso de presos
DA REPORTAGEM LOCAL
Apesar de ser promotor e estar
acostumado a lidar com a lei, o secretário da Segurança Pública,
Saulo de Castro Abreu Filho, se
recusou ontem a dizer se infiltrar
presos em ações policiais é legal.
O próprio comandante-geral da
PM, coronel Alberto Silveira Rodrigues, empossado em abril por
ele e que suspendeu as ações do
Gradi, afirmou à Folha, no último
dia 28, que é ""totalmente irregular
e ilegal" o procedimento. ""Respeito a opinião dele", disse Abreu
Filho. Leia abaixo a entrevista que
o secretário deu à Folha ontem.
Folha - Quando o senhor ficou sabendo das ações com presos?
Saulo de Castro Abreu Filho -
Nunca soube.
Folha - Mas quando o senhor defende a PM, diz que era legal...
Abreu Filho - Não digo que a
ação é legal. O que é que diz a lei?
Pode fazer diligência? O que é diligenciar? Não sei. É reconhecer, é
apontar o comparsa, mostrar onde escondeu o cadáver? Como se
dá conteúdo ao verbo diligenciar?
Folha - A Lei de Execuções Penais
não fala o que é diligenciar.
Abreu Filho - Você tem lacunas
na lei. Cabe ao Poder Judiciário
interpretar. Não é o secretário,
não é o jornalista. É chegar e falar
o seguinte: como é que é isso? Se
você discorda da decisão judicial,
você recorre. O que eu coloquei:
desde que revestido de ordem judicial, qualquer ato é legal. Quem
interpreta a lei é o juiz.
Folha - Mas o senhor sabia que os
presos saíam com ordem judicial?
Abreu Filho - Soube agora. A forma como se investiga, se você
planta preso, se você grampeia, se
você se faz passar por traficante
para comprar droga não é discutido com o secretário da Segurança.
Folha - O senhor soube então pela
Folha, no domingo dia 28, quando o
jornal revelou as ações do Gradi?
Abreu Filho - É, o debate é de agora. Com relação à Castelinho, a informação me foi dada no dia, pelo
então comandante-geral, Rui César Melo, que me ligou de manhã.
Falou: ""Secretário, está em andamento uma operação, são bandidos, criminosos, não temos noção
de quantos são, mas nós estamos
fechando um cerco policial". Depois me ligou, falando: ""Olha,
morreram 12". É lógico que, internamente, exclamei: ""Nossa!". Doze pessoas mortas, deve ter sido
um negócio complicado. Imediatamente, a imprensa começou a
cobrir. Mandei chamar e perguntei como é que foi. Foi o serviço
velado da PM. Não me foi colocado que era o Gradi.
Folha - Após a acusação de tortura, em março, chegou ao senhor a
informação do uso de presos?
Abreu Filho - Não.
Folha - Em que momento...
Abreu Filho - Nem esses fatos
que o preso denuncia hoje chegaram aqui no nível de secretário.
Folha - Mas em que momento, antes de o senhor sair em defesa...
Abreu Filho - Qual é a questão?
Folha -Quando o senhor ficou sabendo que os presos eram retirados e usados nas ações da PM...
Abreu Filho - Materialmente, que
pega em presídio, leva e infiltra?
Folha - É.
Abreu Filho - Basicamente agora,
quando vocês começaram a falar.
Folha - Não estaria errado dizer
que só depois da divulgação da história é que o senhor tomou ciência?
Abreu Filho - Não tenho bem
certeza, talvez um pouco antes,
quando começou essa história,
não remontando à Castelinho.
Folha -O senhor acabou de dizer
que teve ciência dos fatos agora...
Abreu Filho - As informações
que eu recebo, basicamente, vem
de três pessoas: o superintendente
da Polícia Científica, do delegado-geral e do comandante-geral da
PM. Nunca me trouxeram essa
história. Eu nunca tive contato
com o Gradi. Nunca fui ao Dipo.
O juiz Octávio eu vi e o cumprimentei formalmente em uma cerimônia. O juiz Maurício trabalhei próximo, em uma Promotoria em Barueri. Esses personagens
nunca me trouxeram informação
de que havia infiltração de presos.
Folha - Há uma lei que estipula
quem pode fazer infiltração, agentes policiais ou de inteligência...
Abreu Filho - Você me desculpe,
mas não vou interpretar a lei. Sou
secretário da Segurança. Quem
interpreta lei é o Judiciário.
Folha -É legal a infiltração?
Abreu Filho - Tem ordem judicial, é legal. Toda ordem judicial é
legal. Na dúvida, é o Judiciário
que interpreta, e nós cumprimos.
Se o policial, na execução de uma
ordem legal, se desviou, puna-se.
Folha - A maioria das saídas de
presos (55%) ocorreram na gestão
do senhor. E quatro das cinco ações
suspeitas também...
Abreu Filho - Isso aí você tem de
perguntar para quem deu as autorizações [de saída de presos", não
para mim. É uma relação direta
dos policiais com a Justiça.
Folha - Não chama a atenção o
número de mortes?
Abreu Filho - O confronto, às vezes, é inevitável. O volume de mortes [de civis, pela PM", em 2000
cresceu muito, em 2001 abaixou
um pouco e em 2002 estabilizou.
Folha - Como explicar a diferença
entre a PM e a Polícia Civil, que conseguiu melhores resultados, matou menos, trabalhou com promotores e não usou presos?
Abreu Filho - Não sei até onde foi
a participação do Ministério Público nas ações da PM. Não teve
nenhuma reunião de promotores
com policiais militares, juízes?
Folha - Se teve reunião, não deixaram documento. A Polícia Civil
foi por uma linha que permitiu a
fiscalização, e a PM foi por outro,
que gerou suspeitas.
Abreu Filho - A suspeita é quanto
à infiltração de preso?
Folha - Suspeita em relação à infiltração de presos, abuso de autoridade, homicídio e tortura.
Abreu Filho - Em relação às operações que eu conheço, estão todas em investigação. Foram todas
revestidas de legalidade, não vi
abusos. Agora, a pluralidade de
mortes chama a atenção, mas não
me induz [a pensar], até agora,
em nenhum tipo de desvio. Sobre
a legalidade da ação, é uma questão a ser resolvida no Judiciário.
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