São Paulo, quinta, 10 de setembro de 1998

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Linguistas defendem o uso de sinônimos

da Reportagem Local

A incorporação de palavras estrangeiras na língua portuguesa é um processo que faz parte de sua evolução e mudanças a que está submetida. Apesar disso, linguistas e dicionaristas defendem a utilização de sinônimos em português, quando eles existem.
"Vejo com pesar a predominância de termos ligados à cibernética e à informática. Espero que, no futuro, eles acabem sendo substituídos por outros em português", diz Antônio Houaiss.
"Quando um termo designa um processo novo, como quando se diz "xerocar', é inevitável, mas quando há um correspondente em português, este deve ser privilegiado", diz o professor de língua portuguesa da USP (Universidade de São Paulo), Ataliba de Castilho.
No entanto as influências de línguas de uma sociedade dominante sobre outras percorrem a história e as culturas. "A presença dos portugueses na Ásia, na época dos descobrimentos (séculos 15 e 16), influenciou o japonês", conta Castilho. Ele cita um exemplo: o da palavra "veludo", que em japonês se escreve "birodo".
As influências estrangeiras não tiram porém a identidade de uma língua, diz o professor. "Uma língua se define pela maneira como é estruturada, organizada. Quase 60% das palavras inglesas são de origem latina, mas ninguém fica falando por aí que o inglês está sofrendo uma invasão latina."
Quanto à presença de termos ligados à tecnologia em dicionários de língua geral, essa é uma tendência internacional. "É um processo quase incontrolável", diz a lexicógrafa Ieda Maria Alves, também professora da USP.
Outra tendência, na opinião do linguista Dino Pretti, é o surgimento de termos ligados a linguagens de grupo -mais informais que a língua culta- , que acabam sendo incorporados à linguagem escrita. "Há alguns dias, a Folha usou "transar' em um título. Isso seria inconcebível há alguns anos", diz Pretti.
Isso decorre de dois processos: a maior liberdade de expressão (consequência do processo de democratização do Brasil) e a valorização da linguagem do povo. (MAv)



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