São Paulo, quinta, 10 de setembro de 1998

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Mulheres presas dizem ser mais controladas que os homens mas querem ter direitos iguais
Detentas defendem seu direito a sexo

da Reportagem Local

Detentas ouvidas pela Folha defendem o direito de receber visitas íntimas apesar de dizerem que não têm tanta "necessidade física quanto os homens".
"Tento controlar meus desejos correspondendo-me por cartas com meu companheiro", diz L.R., 28., acusada de mandante de homicídio.
Ela está presa no 89º Distrito Policial há cinco meses por um período que pode chegar a seis anos. Seu marido também está preso em outro distrito policial pelo mesmo motivo. "Acho que a mulher tem de ter o direito de se relacionar com o companheiro dentro da cadeia. Mas para mim não adianta porque meu marido está preso."
L. diz que ele manda cartas "picantes" a ela. "Eu fico envergonhada porque todas as cartas que recebo são lidas antes de serem entregues. Mas essa é uma maneira de matar as saudades."
As detentas negam manter relações homossexuais como forma de compensar a ausência do companheiro. "Os homens precisam de sexo mais do que a gente. Aqui a gente cozinha, joga baralho, fala muito de homem e só. Não é que não sentimos falta, mas temos mais controle", diz A.P.A, 27, presa acusada de assaltar um ônibus.
R.A.C, 27, detida há um ano e quatro meses acusada de traficar entorpecentes, é casada e seu marido também está preso. Mesmo que pudesse, ela não gostaria de manter relações sexuais com seu marido na cadeia. "Para mim, é indiferente. Não sinto falta de sexo nessas condições e esse lugar não é apropriado."
Já Lina de Souza, 25, presa há três meses por assalto à mão armada, defende com fervor o direito de a mulher receber visitas íntimas. Segundo ela, seu marido, também preso há oito meses, está prestes a ser solto. "Sinto muita falta dele. Não vejo a hora de receber sua visita e adoraria ter um lugar para matar a saudade", diz. "Por que só os homens têm esse privilégio?"
Uma pesquisa realizada com 153 presas de São Paulo em 1996 mostrou que 78% das detentas são a favor das visitas íntimas.
A pesquisa foi desenvolvida pelo Coletivo de Feministas Lésbicas em convênio com o Ministério da Saúde como parte de um projeto de prevenção às DSTs (doenças sexualmente transmissíveis). Mostraram-se contrárias às visitas 17% das entrevistadas (5% não responderam). Gravidez e aumento de DSTs foram os argumentos apresentados por elas. Cerca de 18% das detentas declararam ter iniciado relações homossexuais na cadeia. (PL)


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