São Paulo, Sexta-feira, 10 de Setembro de 1999
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INFÂNCIA
Crianças, que estavam desaparecidas, teriam sido trocadas por material de construção e cestas básicas
Polícia investiga adoção feita por deputado


WAGNER OLIVEIRA
da Agência Folha, em Curitiba

A Polícia Civil do Paraná investiga a adoção ilegal de um casal de gêmeos pelo deputado estadual Edson da Silva Praczyk (PL-PR).
Os bebês foram trocados pela mãe biológica em dezembro de 98, segundo ela, por material de construção e cestas básicas dados por um casal que ela disse ser desconhecido.
Mas, insatisfeita por ter recebido menos do que o prometido, denunciou a situação à polícia para recuperar a guarda dos filhos.
Segundo a polícia, a troca dos gêmeos foi intermediada pela empregada doméstica Sirlene Aparecida Pinto, que está desaparecida.
O superintendente do Sicride (Serviço de Investigação de Criança Desaparecida), Renato Ferreira, enviou ontem à presidência da Assembléia Legislativa um ofício pedindo autorização para ouvir Praczyk, que tem imunidade parlamentar e mantém em sua casa as duas crianças, que estavam desaparecidas até então.
Presidente da Comissão dos Direitos Humanos da Assembléia Legislativa e pastor da Igreja Universal do Reino de Deus, Praczyk registrou como sendo seus filhos legítimos os gêmeos doados.
Marisa de Souza Taborda da Maia, 35, e Natálio Firszt, 34, deram os filhos a um casal desconhecido em Campo Largo (região metropolitana de Curitiba).
Arrependida, Marisa procurou o Sicride em fevereiro para denunciar que um casal desconhecido havia levado os gêmeos.
Após quatro meses de investigação, a polícia chegou até o deputado e a mulher dele, Rosária Tobias Praczyk, 36, que registram no cartório do bairro Uberara, em Curitiba, as crianças com os nomes de Moisés Tobias Praczyk e Priscilla Tobias Praczyk.
No registro em que o deputado e sua mulher declaram ser os pais biológicos das crianças, consta como data de nascimento 22 de dezembro de 1998, um dia após os gêmeos terem desaparecido.
Ferreira afirmou que o deputado desrespeitou os artigos 242 do Código Penal e 238 do Estatuto da Criança e do Adolescente, que prevêem até quatro anos de prisão por registro falso de criança, em caso de condenação.
Praczyk não foi encontrado pela Agência Folha. Seu advogado, José Antonio Brito, disse que o deputado "não tinha consciência do erro" ao registrar como sendo seus filhos os gêmeos considerados desaparecidos pela polícia.
Segundo Brito, Praczyk entrou com processo para fazer a adoção legal dos gêmeos. "Ele pegou as crianças porque elas corriam o risco de morrer desnutridas."
Ferreira disse que os pais biológicos serão responsabilizados na Justiça por terem feito "uma troca" com os filhos. A Agência Folha não conseguiu localizá-los.




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