São Paulo, sábado, 10 de outubro de 1998

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FAVELA NAVAL
Ex-PM foi julgado por quatro dias e considerado culpado de homicídio em operação policial; defesa vai recorrer
Justiça comum condena Rambo a 65 anos

Renata Freitas/Folha Imagem
Otávio Lourenço Gambra entra no Fórum de Diadema, em São Paulo, no último dia de seu julgamento


ANDRÉ LOZANO
da Reportagem Local

O ex-PM Otávio Lourenço Gambra, o Rambo, 40, foi condenado ontem pelo Tribunal do Júri de Diadema (Grande São Paulo) a 65 anos de prisão, após quatro dias de julgamento. A defesa vai recorrer na próxima semana.
A sentença foi lida às 19h40 pela juíza Cláudia Maria Carbonari de Faria. Gambra e outros nove ex-PMs foram flagrados por um cinegrafista, em março de 97, espancando pessoas que passavam por um bloqueio que montaram na favela Naval, em Diadema.
Na ocasião, o conferente Mário José Josino foi morto. Laudos periciais apontaram Gambra como o autor do tiro que matou o conferente. Todos os envolvidos já foram expulsos da corporação e oito deles, condenados pela Justiça Militar, em agosto deste ano.
A acusação iniciou os debates ontem, às 10h45, e sustentou a tese de homicídio doloso (com intenção) triplamente qualificado, três outras tentativas de homicídio e 12 abusos de autoridade, que foi acatada integralmente pelos jurados.
No caso de Josino, o mais grave, o promotor José Carlos Blat alegou o dolo eventual. Ou seja, ao atirar contra o vidro do carro que levava Josino no banco traseiro, Gambra assumiu o risco de atingir os ocupantes, no caso, acabou acertando o conferente.
Blat também procurou mostrar as contradições e mudanças nos cinco depoimentos do réu, ao longo de um ano e sete meses.
"No primeiro disse que não atirou, depois chegou a afirmar que usou bala de festim, em um outro momento, falou em uma garrafa de coca-cola com gelo seco para produzir barulho de estampido. Por fim, disse que atirou na lateral carro. Em qual dessas versões acreditar?", disse Blat ao jurados.
O assistente de acusação Antonio Carlos Cristiano sustentou que o músico Silvio Calixto -que foi espancado atrás de uma parede- "só não morreu porque havia uma testemunha, José Paulo de Oliveira". Gambra afirmou, nesse episódio, ter dado um tiro para cima. A perícia constatou que o tiro foi dado na parede.
O advogado de Gambra, Gamalher Corrêa, procurou demonstrar aos jurados que seu cliente era uma "vítima do comando deficiente da PM" e que não era justo que ele, um soldado, fosse responsabilizado por tudo.
"Olha o que a PM fez com essa criança", afirmou Corrêa, mostrando uma foto de Gambra quando criança, com um capacete de brinquedo na cabeça.
Corrêa disse que as filmagens foram "uma armação do tráfico para retirar a polícia do local". Ele pediu aos jurados que condenassem Gambra por homicídio culposo (sem intenção) e que desconsiderassem o abuso de autoridade e as três tentativas de homicídio.



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