São Paulo, sábado, 10 de outubro de 1998

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Juiz ordena transferência de traficante

ABNOR GONDIM
da Sucursal de Brasília

A Polícia Federal recebeu ordem judicial para transferir da Casa de Detenção de São Paulo para a penitenciária de Manaus (AM) o maior traficante da Amazônia preso nos últimos três anos -Antonio Mota Graça, 42, o "Rei do Pó" ou "Curica".
A remoção contraria dossiê secreto da PF que alerta a Justiça sobre risco de fuga em Manaus. Ele já fugiu uma vez, em São Paulo, quando cumpria o segundo ano da pena de dez anos de prisão, em 92. No dia 24, o juiz Casem Mazloum, do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, ordenou a transferência em 15 dias.
Mazloum entendeu que o documento da polícia não tem "nenhuma validade jurídica" e atendeu o pedido de transferência feita pela advogada Silvana de Castro Follone porque os familiares do traficante moram em Manaus.
"Manter o sentenciado em estabelecimento penal longínquo de sua família constitui forma de vedação do direito do preso de receber visitas, além de afrontar regra constitucional e de direito internacional que proíbe a adoção de pena cruel", afirma o juiz.
A preocupação da PF também prende-se à fuga empreendida, em 97, por Jorge Mota Graça, irmão do traficante. Jorge fugiu da penitenciária de Mato Grosso do Sul. Ele cumpria pena pelo tráfico de 670 kg de cocaína apreendidos pela PF no dia 23 de outubro de 1995.
Por isso, a PF no Amazonas suspeita que a remoção vá permitir nova fuga ou irá servir para que ele retome, da cadeia mesmo, o comando do tráfico na região.
"Curica" foi recapturado em maio de 97 em um posto de gasolina, a 70 km de São Paulo. Ele havia sido condenado em agosto de 1991 a dez anos de prisão por tráfico de cocaína e formação de quadrilha.
Cumpriu a pena na Casa de Detenção até dezembro de 92, quando fugiu ao ir depor em Itapecerica da Serra (SP) sobre a acusação de autoria de um assassinato.
O dossiê secreto da PF afirma que, após fugir, "Curica" tornou-se uma das três principais fontes de escoamento da cocaína distribuída pelo cartel de Cali, organização criminosa da Colômbia.
Nos arquivos da PF consta que ele mantinha relações criminosas com as famílias colombianas Rodrigues Orejuela, Santacruz Londono e Grajales, membros do cartel de Cali. Na versão da PF, ele seria sócio do colombiano Vicente Wilson Rivera Ramos, envolvido na apreensão de 7,5 toneladas de cocaína em Tocantins em 95, a maior feita pela PF até hoje.
No Amazonas, "Curica" é apontado pela PF como dono de uma rede de transporte de combustíveis. Mas a polícia nunca conseguiu pôr as mãos em seus bens, que foram transferidos para parentes e amigos sem antecedentes criminais.



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