São Paulo, quinta-feira, 10 de novembro de 2005

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CASO RICHTHOFEN

Réus confessos vão aguardar em liberdade o julgamento, ainda sem data marcada; pai teme a reação popular

Irmãos Cravinhos deixam prisão após 3 anos

LUÍSA BRITO
ENVIADA ESPECIAL A IPERÓ (SP)

Três anos após confessarem terem assassinado com barras de ferro o casal Marísia e Manfred von Richthofen enquanto eles dormiam, os irmãos Cristian, 29, e Daniel Cravinhos, 24, saíram ontem às 15h40 da Penitenciária Odon Ramos Maranhão, em Iperó (a 120 km de SP).
Os dois, assim como Suzane, filha do casal e que também confessou participação no crime, aguardarão o julgamento em liberdade. Não há, porém, previsão de quando o caso irá ao Tribunal do Júri.
No banco de trás do carro dos advogados, os dois deixaram a prisão em silêncio. Vestindo camiseta e bermuda, aparentavam tranqüilidade.
Os pais, em outro carro, foram os únicos a acompanhar a saída dos criminosos. Na rodovia Castello Branco, o carro em que os irmãos estavam, um Mercedes, chegou a correr a mais de 150 km/h, despistando a imprensa.
Daniel, que namorava Suzane na época do crime, e Cristian foram beneficiados por uma decisão do STJ (Superior Tribunal de Justiça), sob o argumento de que não havia razões jurídicas suficientes para mantê-los na prisão. A legislação autoriza manter o réu preso até o julgamento em situações excepcionais -risco comprovado de o acusado coagir testemunhas, de fugir do país ou de ameaça à ordem pública.
A decisão ocorreu quase quatro meses após o mesmo STJ ter soltado Suzane.
Os dois irmãos serão julgados por duplo homicídio triplamente qualificado -motivo torpe, meio cruel e impossibilidade de defesa da vítima. Se condenados, poderão pegar até 62 anos de prisão.
O aposentado Astrogildo Cravinhos, 61, pai dos dois rapazes, disse estar feliz, mas preocupado "com a reação das pessoas" diante da decisão da Justiça. "Vamos correr riscos", disse ele, lembrando que, logo após o crime, chegou a ser agredido. "Jogaram pedra no meu carro", disse. Ele diz que os filhos sentem um "arrependimento monstro" pelo crime.
A mãe, Nadja, 59, estava chorando dentro do carro e não quis falar com os jornalistas. O pai, que é cardíaco, disse ter se medicado antes de ir a Iperó por conta da emoção. Ele lembrou que há exatamente três anos, em 9 de novembro de 2002, soube do envolvimento dos filhos no crime. O assassinato do casal ocorreu na madrugada do dia 31.

Comportamento exemplar
A direção da Penitenciária de Iperó afirma que o comportamento dos irmãos Cravinhos era exemplar. "Eles são educados e respeitam as regras do presídio", afirmou o diretor Flávio Alessandro Carneiro Timotéo de Oliveira.
Eles estavam na unidade havia oito meses e eram os únicos presos não condenados do local.
O diretor disse que os irmãos souberam pela TV da decisão do STJ. "Falei com eles hoje [ontem] de manhã e eles estavam eufóricos", contou Oliveira. Na cela onde estavam com dois outros presos, os irmãos tinham TV e rádio. Os presos podem ficar das 7h às 11h e das 13h às 16h no pátio. Aos domingos, eles recebiam a visita dos pais e, algumas vezes, da avó.
Segundo o diretor, eles costumavam ficar no pátio, jogando bola e conversando com outros detentos. Não trabalhavam nem ajudavam nos serviços dentro da unidade, já que, por não terem sido julgados, o trabalho não serviria para reduzir o tempo de pena.
A penitenciária de Iperó tem capacidade para 852 presos, mas abriga 1.230.


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