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CASO RICHTHOFEN
Para Tardelli, basta ter "bom senso" para ver se há risco de os réus não comparecerem à audiência para retornar à prisão
Assassinos de casal vão fugir, diz promotor
DA REPORTAGEM LOCAL
O promotor Roberto Tardelli
afirmou ontem que se sentiu
"constrangido, envergonhado,
indignado e inconformado" com
a decisão do STJ (Superior Tribunal de Justiça) de autorizar que os
irmãos Daniel e Cristian Cravinhos aguardem o julgamento em
liberdade. Ele diz acreditar que os
assassinos vão fugir.
"Temos um processo com três
réus confessos que cometeram
crime hediondo. A pena será alta,
pelo menos 15 anos para cada homicídio. Basta usar o bom senso
para responder se há risco de eles
não comparecerem à audiência
para retornar à prisão."
Tardelli citou a estratégia dos
advogados de defesa do caso
Richthofen de impetrar recursos
na Justiça para atrasar o andamento do processo. "Os advogados dos réus recorreram várias
vezes à Justiça em segunda instância, que demora mais tempo para
julgar um recurso. É uma estratégia para atrasar o julgamento."
O advogado Antonio Cláudio
Mariz de Oliveira, que defende
Suzane, disse que os recursos impetrados estão previstos na lei.
"O advogado tem a obrigação
profissional de recorrer. O que o
promotor pode fazer é um projeto
de lei para acabar com os recursos." Segundo Mariz, tramita no
STJ um recurso impetrado por ele
questionando detalhes técnicos
do processo.
Erro
Para o promotor, a decisão de
ontem foi uma extensão do benefício concedido à Suzane, classificado por ele como um "erro".
"Imaginei que seriam soltos em
seguida, não meses depois da soltura da acusada." Ele disse que a
liberdade concedida aos envolvidos no crime contraria o pensamento da comunidade jurídica
que "não tem comprometimento
corporativista". A decisão do STJ,
em sua opinião, faz as pessoas
questionarem o comportamento
da Justiça, pois presos que cometeram crimes menos graves têm
pedidos de liberdade negados.
Segundo Tardelli, um processo
penal demora oito meses, em média, para ser julgado pelo Tribunal do Júri. Ele citou o exemplo de
um policial civil, que foi julgado
cerca de um ano após ter sido preso em flagrante por tentativa de
homicídio, porte ilegal de arma e
ameaça. O policial acabou condenado a 11 anos de prisão.
Presidente do 1º Tribunal do Júri de São Paulo, o juiz Alberto Anderson Filho, responsável pelo caso em primeira instância, afirmou
que a pronúncia (declaração de
que o crime será levado a júri popular) ocorreu apenas quatro meses depois do crime. E que, a partir daí, os recursos interpostos
acabaram impedindo que o caso
fosse para julgamento.
Ele criticou a legislação processual, que permite que as duas partes entrem com vários recursos e
agravos que acabam gerando
"um tumulto" no processo.
No caso dos irmãos Cravinhos,
afirmou que "quem deu causa à
demora [no processo] foram os
próprios réus", pois foram beneficiados por um habeas corpus possibilitado pela demora de o caso
ser levado a julgamento. O atraso,
lembra, foi justamente causado
pelo excesso de recursos. "Infelizmente existe um número absurdo
de processos, e os tribunais estão
atolados. Assim como esse caso é
importante, outros também são".
(ALEXANDRE HISAYASU e VICTOR RAMOS)
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