São Paulo, quinta-feira, 10 de novembro de 2005

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Decisão reflete Justiça lenta, diz professor

VICTOR RAMOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Para o advogado Eduardo Reale Ferrari, professor de direito penal da USP e de processo penal na PUC-SP, a concessão do habeas corpus para os irmãos Cravinhos foi tecnicamente correta, mas reflete a morosidade da Justiça, causada pelo excesso de recursos previstos em lei e pela falta de estrutura do Poder Judiciário. Para ele, a reforma do Judiciário, aprovada em parte no final do ano passado, "foi pífia, mais propaganda do que efetividade". Leia trechos da entrevista a seguir.

 

Folha - Como o senhor avalia a concessão do habeas corpus para os irmãos Cravinhos?
Eduardo Reale Ferrari -
Era algo esperado. Tecnicamente, tem lógica. O STJ decidiu o que todos na área jurídica esperavam. O mais importante é que a decisão comprova a fragilidade tanto da legislação que temos como da estrutura do Poder Judiciário. A legislação permite a interposição de uma série de recursos que acaba gerando demora de julgamento do processo. Três anos presos sem julgamento de primeira instância é algo que realmente não pode servir de modelo para nenhum lugar. De outro lado, mostra a fragilidade da estrutura do Judiciário. Falou-se tanto da reforma do Judiciário, que teria sido muito importante, e verifica-se que ela não foi efetiva. Não deu conta de nada, foi pífia. Foi mais propaganda do que efetividade.

Folha - Que problemas há na estrutura?
Reale Ferrari -
Há um número de juízes per capita muito diminuto. É um Judiciário com um número de processos imenso, que traz dificuldade na hora de operacionalizar. É muito simples culpar o juiz, mas precisa analisar o que há por trás. Os juízes estão abarrotados de processos, e o número de juízes per capita no Brasil é ridículo. Além disso, os concursos públicos não conseguem aprovar pessoas para se tornarem juízes, o que mostra um sistema caótico na estrutura do poder. É preciso revitalizá-lo.

Folha - E a legislação? Também é preciso alterá-la?
Reale Ferrari -
Sim, nosso código [processual penal] é de 1942, defasado. Existem vários projetos de lei no Congresso Nacional, mas eles não vão adiante. [Diminuir os recursos] é uma via, alguns embargos, alguns agravos. Mas é importante que isso seja complementar. Só a legislação não resolve. É preciso estrutura, para poder cobrar produtividade.

Folha - Como essa morosidade afeta a Justiça?
Reale Ferrari -
Basicamente passa uma sensação de impunidade à sociedade. A Justiça tardia é uma [forma de] injustiça qualificada porque, independentemente do mérito, a ausência da prestação jurisdicional é muito grave. [Um processo] moroso, que se alonga por muito tempo, provoca descrença não só no Judiciário mas nas normas do país, e isso é muito grave para a democracia.


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