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Polícia quer impedir viciados de recolher latas na cracolândia
Objetivo é evitar que dinheiro obtido com a venda de material reciclável seja usado para comprar drogas na região central de SP
Críticos da proposta dizem que medida pode levar viciados a praticar roubos para conseguir dinheiro para comprar o crack
AFONSO BENITES
DA REPORTAGEM LOCAL
Quase quatro meses após o
início de uma operação na cracolândia que ainda não conseguiu acabar com o consumo de
drogas na região, as polícias Civil e Militar querem restringir o
acesso de catadores de lixo a
materiais recicláveis.
O objetivo é evitar que os viciados que frequentam o local,
no centro de São Paulo, obtenham dinheiro com a venda de
latinhas e papelão para empresas de reciclagem e o usem para
comprar droga.
A proposta foi apresentada
pelas polícias de São Paulo ao
grupo de trabalho que atua na
região e internou mais de 40
usuários - parte deles desistiu
de ser tratada.
"O pessoal [da cracolândia]
está sobrevivendo [da venda]
do lixo. Pegam material reciclável, vendem por R$ 10, R$ 15,
comem no Bom Prato, por R$ 1,
e com o resto compram droga e
usam ali", diz o delegado da 1ª
seccional (centro), Aldo Galiano Júnior.
A ideia é que os comerciantes
coloquem o lixo nas lixeiras em
um horário previamente combinado com as empresas de coleta e que ele seja recolhido rapidamente. Assim, os "noias",
como são chamados os viciados, não teriam como catar o
material reciclável e vendê-lo.
Atualmente, a coleta na região central é feita à noite, geralmente após as 22h, três horas após o fechamento do comércio, segundo lojistas.
Em nota, o subprefeito da Sé,
Nevoral Bucheroni, informou
que o órgão está trabalhando
na conscientização dos grandes
geradores de lixo para que eles
colaborem com a limpeza, depositando o lixo no horário
próximo ao que é realizada a
coleta.
Catador
A arquiteta Nina Orlow,
membro do Grupo de Trabalho
e Meio Ambiente da ONG Movimento Nossa São Paulo, diz
que a proposta não tem relação
com a redução da permanência
de viciados na cracolândia.
"A solução não é a questão do
resíduo. Se o viciado não tirar a
renda de lá, vai tirar de outro
lugar, pode ser até roubando.
Ele não vai deixar de se viciar
porque ele não poderia mexer
no lixo", afirma.
Para ela, que defende uma
ampliação da coleta seletiva na
região, o projeto das polícias diz
nas entrelinhas que todo catador é usuário de crack. "O que
não é uma verdade."
"Vivo disso. Não uso drogas.
O dinheiro que eu tiro do lixo é
só para comer", disse o catador
José Alves, enquanto recolhia
papelão na rua Vitória.
Os comerciantes e moradores da região se dividem sobre a
proposta. Geraldo Oliveira, gerente de um bar na rua Guaianazes, diz que o projeto poderia
diminuir a sujeira das ruas e
evitar aglomerações de "noias".
Já Ribamar da Rocha e Silva,
recepcionista de um hotel na
Conselheiro Nébias e morador
da mesma rua, afirma que, sozinha, essa ação é inócua. "Nos
últimos meses já diminuiu a
quantidade de "noias", mas, para ficar melhor, tem de aumentar a segurança. Se tirarem as
latinhas, eles vão ficar pedindo
dinheiro ou praticando furtos."
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