São Paulo, domingo, 10 de dezembro de 2000

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FUTURA ADMINISTRAÇÃO
Em assembléia, médicos afastados na administração Maluf exigem direito de escolher vagas
"Exilados do PAS" querem recompensas

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Os médicos da prefeitura que se recusaram a participar do PAS querem ser recompensados pelo "período de humilhação a que foram submetidos na administração de Paulo Maluf". O Plano de Atendimento à Saúde, implantado há cinco anos, já teve seu fim anunciado pela prefeita eleita Marta Suplicy e sua equipe.
Uma das recompensas pedidas é o direito de serem os primeiros a escolher o local onde irão trabalhar. Com o PAS, todos os "rebeldes" foram deslocados para outros postos e funções.
As reivindicações serão levadas ao futuro secretário Eduardo Jorge ao longo desta semana pelas entidades médicas.
As propostas dos médicos foram aprovadas em assembléia convocada pelo Conselho Regional de Medicina na noite da última quarta-feira. O encontro transformou-se numa comemoração que lembrava refugiados políticos retornando à pátria. Os "exilados do PAS", como eles mesmos se classificam, festejavam com abraços e aplausos a cada vez que alguém lembrava os "sofrimentos e humilhações impostos pelo programa do Maluf".
Como é normal nas "retomadas de poder", também não faltaram conclamações de vingança e retaliação contra aqueles que ocuparam cargos de chefia e "contra todos que de alguma forma colaboraram para a implantação do PAS". Uma das propostas aprovada veta a participação de qualquer dirigente do PAS em cargos de chefia ou de confiança. Outra, não aprovada, pedia que médicos da prefeitura que se licenciaram para aderir ao PAS tivessem que se submeter a novo concurso para voltar ao sistema público.
Cerca de 150 médicos participaram da assembléia. Como a maioria dos "exilados" foi transferida várias vezes de local, ninguém sabia mais onde trabalhava antes da implantação do PAS.
Sabe-se agora que 544 foram "empurrados" para outras secretarias e cerca de 1.900, mesmo permanecendo na Saúde, passaram a desempenhar funções estranhas à sua especialidade.
Além do direito de escolher o local onde irão trabalhar, os médicos querem a revisão das demissões e penalidades que sofreram nesse período. Pedem também um piso salarial de R$ 2.500 por 20 horas, contra os R$ 900 pagos hoje, e a realização de concursos públicos para o preenchimento dos cargos que ficarem vagos.
"O direito de escolher primeiro é uma questão política", disse José Erivalder Guimarães, presidente do Sindicato dos Médicos. "Os que resistiram não podem ser colocados no mesmo nível daqueles que aderiram a um projeto que prejudicou a sociedade."
Pérsio da Silva Alves, que deixou a unidade da Vila Madalena com todos os 60 profissionais do posto, defendeu que o "privilégio da escolha seja dado aos perseguidos e humilhados".
Regina Parisi, presidente do CRM, lembrou que as denúncias que pesam sobre médicos do PAS devem ser julgadas pelos órgãos competentes, como o conselho já vem fazendo. "Há questões de responsabilidade civil, ética e criminal que precisam ser julgadas, mas não podemos nos transformar num tribunal de exceção."
O chamado à moderação feito pela presidente não diminuiu o ímpeto de vários participantes. "O PAS só foi implantado porque colegas participaram de sua implantação", disse um cirurgião que teve de sair do Hospital Campo Limpo. "Fui proibido de voltar ao hospital para pegar meus pertences. Fomos enxotados, agora deveríamos fazer a mesma coisa."
Um pediatra "expulso" do Hospital Menino Jesus fez um chamamento à retaliação. Outro médico disse que "o ressentimento" entre os que aderiram ao PAS e os que se rebelaram "vai durar muito tempo". "A questão é de Justiça. Quem roubou, que pague, que vá para a cadeia."
As manifestações eram saudadas com palmas. A médica Adeilde Maria de Oliveira disse ser impossível adotar o "discurso do filho pródigo" que é recebido pelo pai de braços abertos. "Há pessoas que esfacelaram o sistema de saúde. E há aquelas que lutaram contra o esfacelamento. Não dá para perdoar o caos que essas pessoas causaram."
O neurocirurgião Jair Urbano, que foi transferido para uma fábrica de asfalto, tentou acalmar os ânimos. "Certamente há pessoas que foram para o PAS porque tinham contas a pagar. Devemos evitar os ressentimentos."
O anestesista João Eduardo Charles falou dos cuidados que é preciso ter "nessa hora de transição". "Não devemos esquecer que na frente das cooperativas existem bandidos e que eles estão raspando o tacho."


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