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FUTURA ADMINISTRAÇÃO
Em assembléia, médicos afastados na administração Maluf exigem direito de escolher vagas
"Exilados do PAS" querem recompensas
AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Os médicos da prefeitura que se
recusaram a participar do PAS
querem ser recompensados pelo
"período de humilhação a que foram submetidos na administração de Paulo Maluf". O Plano de
Atendimento à Saúde, implantado há cinco anos, já teve seu fim
anunciado pela prefeita eleita
Marta Suplicy e sua equipe.
Uma das recompensas pedidas
é o direito de serem os primeiros a
escolher o local onde irão trabalhar. Com o PAS, todos os "rebeldes" foram deslocados para outros postos e funções.
As reivindicações serão levadas
ao futuro secretário Eduardo Jorge ao longo desta semana pelas
entidades médicas.
As propostas dos médicos foram aprovadas em assembléia
convocada pelo Conselho Regional de Medicina na noite da última quarta-feira. O encontro
transformou-se numa comemoração que lembrava refugiados
políticos retornando à pátria. Os
"exilados do PAS", como eles
mesmos se classificam, festejavam com abraços e aplausos a cada vez que alguém lembrava os
"sofrimentos e humilhações impostos pelo programa do Maluf".
Como é normal nas "retomadas
de poder", também não faltaram
conclamações de vingança e retaliação contra aqueles que ocuparam cargos de chefia e "contra todos que de alguma forma colaboraram para a implantação do
PAS". Uma das propostas aprovada veta a participação de qualquer
dirigente do PAS em cargos de
chefia ou de confiança. Outra, não
aprovada, pedia que médicos da
prefeitura que se licenciaram para
aderir ao PAS tivessem que se
submeter a novo concurso para
voltar ao sistema público.
Cerca de 150 médicos participaram da assembléia. Como a maioria dos "exilados" foi transferida
várias vezes de local, ninguém sabia mais onde trabalhava antes da
implantação do PAS.
Sabe-se agora que 544 foram
"empurrados" para outras secretarias e cerca de 1.900, mesmo
permanecendo na Saúde, passaram a desempenhar funções estranhas à sua especialidade.
Além do direito de escolher o local onde irão trabalhar, os médicos querem a revisão das demissões e penalidades que sofreram
nesse período. Pedem também
um piso salarial de R$ 2.500 por
20 horas, contra os R$ 900 pagos
hoje, e a realização de concursos
públicos para o preenchimento
dos cargos que ficarem vagos.
"O direito de escolher primeiro
é uma questão política", disse José
Erivalder Guimarães, presidente
do Sindicato dos Médicos. "Os
que resistiram não podem ser colocados no mesmo nível daqueles
que aderiram a um projeto que
prejudicou a sociedade."
Pérsio da Silva Alves, que deixou a unidade da Vila Madalena
com todos os 60 profissionais do
posto, defendeu que o "privilégio
da escolha seja dado aos perseguidos e humilhados".
Regina Parisi, presidente do
CRM, lembrou que as denúncias
que pesam sobre médicos do PAS
devem ser julgadas pelos órgãos
competentes, como o conselho já
vem fazendo. "Há questões de
responsabilidade civil, ética e criminal que precisam ser julgadas,
mas não podemos nos transformar num tribunal de exceção."
O chamado à moderação feito
pela presidente não diminuiu o
ímpeto de vários participantes.
"O PAS só foi implantado porque
colegas participaram de sua implantação", disse um cirurgião
que teve de sair do Hospital Campo Limpo. "Fui proibido de voltar
ao hospital para pegar meus pertences. Fomos enxotados, agora
deveríamos fazer a mesma coisa."
Um pediatra "expulso" do Hospital Menino Jesus fez um chamamento à retaliação. Outro médico
disse que "o ressentimento" entre
os que aderiram ao PAS e os que
se rebelaram "vai durar muito
tempo". "A questão é de Justiça.
Quem roubou, que pague, que vá
para a cadeia."
As manifestações eram saudadas com palmas. A médica Adeilde Maria de Oliveira disse ser impossível adotar o "discurso do filho pródigo" que é recebido pelo
pai de braços abertos. "Há pessoas que esfacelaram o sistema de
saúde. E há aquelas que lutaram
contra o esfacelamento. Não dá
para perdoar o caos que essas pessoas causaram."
O neurocirurgião Jair Urbano,
que foi transferido para uma fábrica de asfalto, tentou acalmar os
ânimos. "Certamente há pessoas
que foram para o PAS porque tinham contas a pagar. Devemos
evitar os ressentimentos."
O anestesista João Eduardo
Charles falou dos cuidados que é
preciso ter "nessa hora de transição". "Não devemos esquecer que
na frente das cooperativas existem bandidos e que eles estão raspando o tacho."
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