São Paulo, domingo, 10 de dezembro de 2000

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DROGAS
Pesquisa sugere combate por tipo de tóxico e sem negar que dá prazer
Comercial na TV é ineficaz, indica estudo

ESTANISLAU MARIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Campanhas de TV são ineficazes contra as drogas, também não adiantam slogans do tipo "tô fora", "nem morto" ou "diga não". Nem tampouco dá resultado falar genericamente em drogas, cada uma requer um foco diferente, e a estratégia muda para maconha, cigarro, cocaína, crack ou álcool.
Essas são conclusões da pesquisa "Drogas, Juventude e Mídia", divulgada na última terça-feira, o mais recente levantamento da ONG Associação Parceria contra Drogas, uma entidade que, nos últimos anos, fez comerciais de TV e criou o slogan "drogas, nem morto" -com a mão espalmada em sinal de pare.
A pesquisa foi qualitativa: usou o método Delphi (de entrevistas longas), com especialistas da área em diversas cidades, e pôs antropólogos acompanhando consumidores jovens em São Paulo.
Além de minar velhas estratégias de combate, o estudo derruba também alguns mitos e tabus.
Segundo as conclusões, a maconha não é "a porta de entrada que vai levar para drogas mais pesadas"; o marketing do tráfico é quase imbatível; e a sociedade precisa perder a hipocrisia e assumir que existe um lado prazeroso nas drogas, para poder combatê-las seduzindo os jovens com opções melhores.
"A propaganda do "não" só incentiva a transgressão e qualquer outro tipo de sensação que não a de evitar a droga ou deixar de usá-la", diz a antropóloga Oriana White, responsável pelas entrevistas com os especialistas.
"Não sabemos exatamente como fazer o combate. A pesquisa foi feita para lançar um novo olhar sobre o problema. Queremos agora uma ampla discussão na sociedade", completou ela.
Participaram do levantamento o ex-secretário nacional antidrogas Walter Maierovitch; o ex-presidente do Confen (Conselho Federal de Entorpecentes) Luiz Matias Flach; o secretário executivo do Ilanud (Instituto Latino-Americano da ONU para a Prevenção do Delito e Tratamento do Delinquente) no Brasil, Oscar Vilhena Vieira; o diretor do Cebrid (Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas e Psicotrópicos), Elisaldo Carlini; psicólogos, psicanalistas, jornalistas, cientistas sociais e o ex-jogador de vôlei da seleção Xandó, que tem projetos sociais.
A pesquisa aponta que campanhas na mídia precisam de continuidade, ser críveis e só funcionam dentro de um projeto maior de mobilização social e educação. Também não devem criar pânico ou terror nem negar o lado prazeroso da droga, mas mostrar opções melhores. "Criar caminhos em que a cultura e os valores não contemplem a droga; valorizar o jovem e envolvê-lo em projetos maiores, como esporte, cidadania e solidariedade."


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