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AIDS
D. Rafael Llano Cifuentes afirma que crítica do ministério à postura contrária ao uso do preservativo como prevenção é um insulto
Bispo diz que carta da Saúde "afronta" igreja
DA SUCURSAL DO RIO
O presidente da Comissão Família e Vida da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), d. Rafael Llano Cifuentes, 70,
disse ontem que é "uma afronta"
a carta do Ministério da Saúde
condenando as restrições da Igreja Católica ao uso do preservativo
na prevenção à Aids.
Segundo o Programa Nacional
de DST e Aids, "a Igreja está errada ao insistir que o preservativo
não protege, e pode estar cometendo mais um crime contra a humanidade". Feita em defesa de
um vídeo realizado por ONGs
com o slogan "Pecado é não usar
[camisinha]", a carta foi enviada
às organizações, que a entregaram ao Ministério Público Estadual do Rio.
"Ninguém tem direito de insultar a Igreja. É uma afronta, um insulto. Dá a impressão de que a
Igreja está querendo a difusão da
Aids", afirmou d. Rafael. Na opinião dele, a campanha e o slogan
são "indecentes" e estimulam a
promiscuidade sexual.
O vídeo associa as restrições ao
preservativo com as posições assumidas pela Igreja na época da
Inquisição e no Holocausto dos
judeus após a 2ª Guerra Mundial.
Pergunta quanto tempo vai levar
para que a Igreja peça perdão pelas vítimas da Aids, terminando
com a imagem de uma camisinha
e o slogan "Pecado é não usar".
A Arquidiocese do Rio conseguiu liminar na Justiça proibindo
a exibição do vídeo. Entrou também com uma representação no
Ministério Público Estadual para
impedir sua divulgação. Assinada
pelo arcebispo do Rio de Janeiro,
d. Eusébio Oscar Scheid, a representação alega que o vídeo difunde "a utilização de camisinha como único meio de sexo seguro,
sem alertar as pessoas para os efetivos e graves riscos de falhas".
Em nota divulgada ontem à noite, a CNBB apóia a posição da Arquidiocese do Rio, reafirma sua
objeção ao uso de preservativos e
esclarece que nunca, "nem em
Assembléia Geral, nem por declaração dos que representam a entidade", afirmou que o preservativo é "dos males, o menor".
"Ela [a Igreja] entende que esta
sua atitude é correta e socialmente responsável e que é seu direito,
num país democrático e pluralista, falar abertamente de suas próprias convicções à sociedade, na
certeza de que a educação para
hábitos saudáveis e para a prática
da virtude dignifica a vida humana e também é uma ajuda inestimável no combate à proliferação
de doenças. Assim fazendo, a
Igreja se submete, sem temor, ao
tribunal da história e ao julgamento de Deus", afirma a nota.
A nota, que critica a distribuição
de camisinhas nas escolas, diz
ainda que a Igreja "julga ser honesto" avisar os usuários que "os
preservativos não são 100% seguros e também admitir que há outros métodos eficazes para evitar a
transmissão da Aids".
Na defesa do vídeo, o Programa
Nacional de DST e Aids reiterou a
eficácia do preservativo como
única maneira de prevenir o HIV
entre pessoas com vida sexual ativa, cerca de 91 milhões no Brasil.
"No entanto, a Igreja erra quando, para fazer valer seu ponto de
vista teológico, lança dúvidas sobre verdades científicas há muito
comprovadas, pondo em risco a
vida de pessoas que, por obediência religiosa, acabam se descuidando. Quando lidamos com vidas humanas não temos o direito
de errar", diz a carta do Ministério
da Saúde.
O vídeo foi produzido pelas
ONGs Davida (de profissionais
do sexo), Grupo Gay da Bahia,
Rede de Pessoas que Vivem com
Aids (seção do Rio Grande do
Norte) e Fórum de ONGs/Aids do
Estado de São Paulo.
A promotora Gláucia Costa
Santana, da Promotoria de Defesa
de Cidadania do Rio de Janeiro,
disse que está examinando o caso.
Segundo ela, o procedimento administrativo aberto já corre como
um inquérito, mesmo sem uma
portaria de instauração. Dependendo de sua decisão, pode ser
instaurada uma ação civil pública.
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