UOL


São Paulo, quarta-feira, 10 de dezembro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Para coordenador, acordo é possível

DA ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA

Evitando ampliar a polêmica, o coordenador de DST/Aids do Ministério da Saúde, Alexandre Grangeiro, destacou a parceria da Igreja Católica no combate à doença e falou da possibilidade de um acordo: a coordenação não trata das questões católicas e a igreja não questiona a competência da pasta para determinar políticas públicas de saúde.
"Temos um excelente diálogo com a igreja. Desde o início da epidemia, a igreja montou diversas casas de apoio, desenvolve projetos de prevenção. Tem uma atuação forte. Neste momento a pastoral de Aids lança uma campanha para incentivar a população a fazer o diagnóstico. Para nós, é um diálogo consistente."
O temor da pasta é que uma reação exagerada de setores conservadores da igreja prejudique, por exemplo, o trabalho que é desenvolvido com as pastorais, que, silenciosamente, adotam em materiais de prevenção informações sobre o risco do sexo sem proteção -amparadas pela convenção de cúpula da CNBB de 2000, quando o preservativo foi considerado, dos males, o menor.
Grangeiro disse que não é possível, em estratégias de prevenção de massa, adotar o discurso católico. "A política de saúde pública deve estar voltada para todos os cidadãos. Não podemos falar numa campanha para a população em geral que fidelidade é um bom método de prevenção." Ele afirma, por exemplo, que parte das mulheres que contraíram Aids diz ter tido poucos parceiros.

Carta
Segundo Grangeiro, a carta aberta deve ser contextualizada. Afirma que foi uma resposta ao Ministério Público. O texto foi construído a partir de orações do papa sobre confissões de culpa e pedidos de perdão e estudos sobre o assunto. A coordenação tentou mostrar, diz Grangeiro, que a ONG autora do vídeo apenas reproduziu ações que foram efetivamente revistas pela igreja e alertou para o risco do mesmo acontecer com o veto à camisinha.
Na representação feita à Promotoria, a Arquidiocese do Rio contesta a segurança das camisinhas, mas sobretudo o conteúdo supostamente injurioso do comercial.
"O que fizemos é nada mais do que ampliar o debate para que a população possa fazer uma avaliação, na perspectiva histórica, e de fato tentar fazer com que a igreja se engaje mais na prevenção da Aids", disse Grangeiro.
Ele afirmou que não faria juízo sobre a posição da igreja, mas "um pedido" de colaboração. "Estamos diante de uma epidemia. Todos os órgãos, OMS (Organização Mundial da Saúde), Nações Unidas para a Aids, reconhecem como método mais eficiente de prevenção o uso da camisinha. Qualquer discussão que fragilize isso vai aumentar a vulnerabilidade." (FABIANE LEITE)


Texto Anterior: Aids: Bispo diz que carta da Saúde "afronta" igreja
Próximo Texto: Educação: MEC lança projeto para qualificar escolas em municípios isolados
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.