São Paulo, quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

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Alunos de medicina bebem e soltam rojão em hospital

Catorze estudantes da Universidade Estadual de Londrina foram suspensos de formatura

Reitor diz que é preciso repensar curso de medicina; os 14 alunos identificados correm o risco de serem impedidos de se formar

Arquivo do "Jornal de Londrina"
Fachada do hospital universitário, onde ocorreu a confusão após a invasão dos estudantes da Universidade Estadual de Londrina

JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM LONDRINA

A Universidade Estadual de Londrina suspendeu ontem 14 estudantes do curso de medicina da formatura que acontece na próxima sexta-feira. Eles e mais outras dezenas de universitários são acusados de, após comemorar em um bar o final do curso, invadir o hospital universitário, com sprays de espuma, bebidas alcoólicas e rojões.
O grupo entrou em uma área onde pacientes, alguns em estado grave, estavam internados. Houve confusão. Pacientes relatam que foram ofendidos e que até mesmo um rojão foi solto dentro da unidade.
A festa ocorreu no último dia 20, mas a medida foi anunciada pelo Conselho Universitário após uma auditoria interna. Embora a reitoria admita que muitos outros alunos participaram da confusão, apenas 14 foram identificados pelas câmeras de vigilância do hospital.
Suspensos da colação de grau, esses 14 alunos -cujos nomes não foram divulgados- responderão a processo administrativo e disciplinar e poderão ser suspensos ou até mesmo impedidos de se formar. O processo terá prazo de 90 dias para ser concluído.
Outros 82 alunos do curso de medicina terão que, antes da colação de grau, ouvir uma palestra sobre ética. ""A punição é para os 14 estudantes devidamente identificados, mas a farra teve participação de mais alunos. Infelizmente, não podemos punir aqueles que não foram identificados", disse o reitor Wilmar Marçal, 49.
A festa foi no dia 20 de novembro, no final do ciclo escolar, em uma bar em frente ao Hospital Universitário de Londrina. Auditoria interna determinada pela reitoria ouviu cerca de 20 testemunhas, entre pacientes, médicos e funcionários, para decidir pelo processo administrativo e disciplinar.
Os testemunhos vão de ofensas dos alunos a pacientes até o estouro de um rojão no interior do hospital. Houve pânico entre funcionários e pacientes. Uma garrafa de champanhe foi quebrada no saguão do HU.
Além de responder ao processo administrativo e disciplinar, os 14 universitários tiveram suspensas sua notas do internamento médico. A UEL registrou o caso na polícia e irá noticiar o Ministério Público sobre o resultado da apuração.

Repensar o curso
O reitor disse que será necessário repensar o curso de medicina da instituição. ""Não é um fato isolado. Tivemos já outros exemplos de irreverência e até casos graves como manifestações racistas, o que nos leva a uma reflexão sobre o que os alunos estão a aprender."
Para ele, o caso foi ""extremamente grave". "Vamos abrir uma reflexão, uma análise sobre a ética profissional que os alunos estão assimilando. A decisão de instaurar processo administrativo é para não permitir que, após se formarem, se quebre o vínculo com a universidade, impedindo a punição."
O reitor afirmou ainda que determinou ao colegiado do curso que abra uma discussão sobre a formação dos profissionais num fórum onde se procure descobrir ""as causas dessas anomalias, que não estão restritas à baderna no hospital".
Segundo Marçal, é preciso rediscutir a necessidade de aumentar o número de aulas multidisciplinares para assegurar uma formação mais humana.
A coordenadora de Comunicação do DCE (Diretório Central dos Estudantes), Flávia Bischain, 23, disse ontem que os diretores do órgão não haviam ainda se reunido para discutir a suspensão dos alunos.
""Não tivemos condições de ouvir as razões dos alunos. Mas os fatos, por si só, são gravíssimos", disse ela.

Outros casos
Não é a primeira vez que alunos de medicina da UEL se envolvem em polêmica. Em 2005, foi aberto um inquérito para apurar manifestações racistas de ex-residentes e residentes divulgadas na internet contra funcionários do HU. No Orkut, eles criaram uma comunidade em que inseriam frases racistas e sexistas contra servidores. O caso ainda tramita na Justiça.


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