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entrevista
"Nem todo mundo pode ser médico", diz conselheiro
MARIANA BARROS
DA REPORTAGEM LOCAL
Nos últimos anos, embora
a medicina tenha se tornado
mais eficiente, ela tem perdido o seu caráter humanista.
A opinião é de Bráulio Luna
Filho, coordenador do exame do Cremesp (Conselho
Regional de Medicina do Estado de São Paulo) e livre-docente da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
Para ele, o que diferencia
um bom médico de um médico comum não é o conhecimento técnico, mas a relação
com o paciente. Ele acredita
ainda que "não é todo mundo
que pode ser médico".
Na opinião de Luna Filho,
a UEL agiu certo ao decidir
suspender a formatura dos
alunos que invadiram o hospital universitário.
FOLHA - Como o sr. avalia o
comportamento dos estudantes?
BRÁULIO LUNA FILHO - É lamentável. A profissão médica é
uma profissão cuja essência
é uma relação humanista. E,
nos últimos anos, embora a
medicina tenha se tornado
mais eficiente, ela tem perdido esse caráter. O que diferencia um bom médico de
um médico comum não é o
conhecimento técnico, mas a
relação com o paciente.
FOLHA - Essa distância é uma
questão tecnológica ou educacional?
LUNA FILHO - As duas coisas.
Os alunos são cada vez mais
científicos na sua abordagem, em detrimento da relação com o paciente. Cerca de
pelo menos 30% da cura ou
do cuidado dependem da
empatia [entre médico e paciente]. Temos de reumanizar o curso médico. Está
muito técnico, e isso influencia a prática médica.
FOLHA - Como corrigir?
LUNA FILHO - Na seleção, é
preciso ter uma melhor avaliação. Acredito também que
durante o curso é preciso que
ele tenha acesso a esse tipo
de discussão. Esses indivíduos que vão fazer medicina
têm de ter uma qualidade
ética que não pode ser qualquer coisa. Eles vão lidar
com o íntimo das pessoas.
Não quero externar nenhum
pensamento preconceituoso, mas não é todo mundo
que pode ser médico.
FOLHA - O que pode ser feito em
relação a esses alunos?
LUNA FILHO - Nunca é tarde
para receber uma boa lição.
Acho que a faculdade tomou
uma boa decisão de suspender a graduação, de fazer um
processo de avaliação desses
alunos. Não é o comportamento que a sociedade espera de um médico.
FOLHA - Por estresse profissional, estudantes de medicina têm
maior necessidade de extravasar?
LUNA FILHO - Há evidências
que mostram que alunos de
medicina bebem muito. São
trabalhos publicados pela faculdade Santo Amaro há alguns anos e, mais recentemente, na Unifesp. É preciso
trabalhar isso. Os trotes [de
medicina] eram muito agressivos, houve toda uma preocupação e isso diminuiu.
FOLHA - Quais os principais problemas dos cursos médicos no
Brasil?
LUNA FILHO - O currículo é desatualizado, as turmas são
grandes. Essas escolas não
têm hospitais ou esses hospitais são de má qualidade para
a educação, não são estruturados para receber e ensinar
os alunos. E na maioria das
escolas há professores contratados por tempo parcial.
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