São Paulo, sexta-feira, 11 de janeiro de 2002

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VIOLÊNCIA

Dona-de-casa de Campinas ficou seis dias no cativeiro

Mulher é morta por sequestradores em frente à própria casa

Ricardo Lima/Folha Imagem
Parentes e amigos participam de enterro da dona-de-casa Rosana Rangel Melotti, acompanhado por policiais, no Cemitério da Saudade


RAQUEL LIMA
DA FOLHA CAMPINAS

CLAUDIO LIZA JUNIOR
FREE-LANCE PARA A FOLHA CAMPINAS

Depois de seis dias em poder de uma quadrilha de sequestradores, a dona-de-casa Rosana Rangel Melotti, 52, foi assassinada na madrugada de ontem em frente à sua casa, no Parque Taquaral, bairro de classe média alta de Campinas (91 km de São Paulo).
Rosana foi morta com três tiros de fuzil porque a família não tinha o dinheiro pedido pelo resgate -R$ 100 mil-, segundo a polícia. A Deas (Delegacia Especializada Anti-Sequestro) de Campinas atribuiu o sequestro à quadrilha de Wanderson Newton de Paula Lima, 23, o Andinho.
"Com o crime, a quadrilha quis valorizar outros sequestros, já que nenhuma vítima foi assassinada dessa forma", disse o delegado da Deas, Joel Antônio dos Santos.
O delegado Valdir Bianchi, 58, coordenador do Disque-Denúncia de São Paulo e professor da disciplina ""sequestro" da Academia de Polícia Civil do Estado, afirma não se lembrar de caso parecido na história do país.
Após matar a refém, os sequestradores, segundo a polícia, voltaram a ameaçar o marido da vítima, o empresário Pierro Melotti.
O clima no enterro de Rosana foi de muita tensão. Segundo vizinhos da família, os sequestradores teriam dito, durante as negociações, que possuem uma lista com outras 29 pessoas que seriam sequestradas no mesmo bairro.
Rosana, que faz parte da comunidade cigana de Campinas, foi sequestrada no último dia 4, por volta das 22h30, quando voltava de um shopping. Segundo a polícia, ela estava com os dois filhos e a neta, quando foram abordados por três homens armados, que estavam em um Santana vinho. Rosana foi levada no porta-malas.
O primeiro contato, segundo a polícia, foi feito na madrugada do dia seguinte. O delegado Santos afirmou que o pedido inicial de resgate era de R$ 400 mil. "Depois, conseguimos fechar em R$ 100 mil." Novo contato entre a quadrilha e a família foi feito momentos antes do assassinato, quando os sequestradores pediram os R$ 100 mil. Segundo familiares e amigos, o marido estava com R$ 80 mil, mas a quadrilha não concordou.
O delegado Godofredo Bittencourt, que chefia as investigações de sequestro no Estado, disse que o valor obtido pela família "não chegava a R$ 10 mil".
Sem acordo, o grupo colocou novamente Rosana no porta-malas do mesmo Santana e voltou ao bairro na noite de anteontem.
Segundo a polícia, quatro sequestradores estavam encapuzados no carro. Eles teriam rendido dois vigias de rua, colocando-os também no veículo, e teriam rondado por um tempo o bairro.
Depois, a quadrilha teria parado na frente da casa da vítima, pedido para ela descer e correr. "Ela chegou a descer, mas ficou agachada na rua. Aí eles atiraram", disse o delegado Bittencourt.
Dois tiros acertaram as costas e um a cabeça, segundo os policiais. Os sequestradores teriam ainda atirado nos vigias, sem acertá-los. "Ouvi quatro tiros. Três seguidos e outro depois de um tempo", disse o aposentado Nilson Rossi, 55, vizinho da vítima.
Em seguida, a família, que deixou a casa por orientação da polícia, recebeu um telefonema da quadrilha, informando a morte.
O delegado do 5º DP de Campinas, Airton Bicudo, disse que ela pode ter sido morta porque havia reconhecido um membro da comunidade cigana na quadrilha.
Para Bittencourt, a ação é "surpreendente e atípica". "Precisamos descobrir por que a mataram. Em geral, isso ocorre porque a vítima reconhece alguém ou descobre alguma coisa."

Colaborou a Reportagem Local

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