São Paulo, quinta-feira, 11 de janeiro de 2007

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"Não deu para salvar nada", diz morador após acidente

Estudante diz que acordou quando a lama já atingia sua casa; 5.000 foram atingidos

Começará a ser avaliada hoje pelo Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) a extensão dos danos ao ser humano e ao ambiente

DA AGÊNCIA FOLHA
DA REPORTAGEM LOCAL

Um mar de lama. Foi assim que moradores de Miraí descreveram a cidade após a invasão de água e argila da barragem rompida da mineradora Rio Pomba. "Perdi tudo, estou com o coração apertado, não dá nem para falar", disse o estudante Daniel Mendes, 23.
Mendes mora com a mãe e a irmã no bairro Indaiá, o mais atingido pelo desastre. Ele disse que foi acordado pelo forte barulho da água que se aproximava da casa. "Não deu para salvar nada. A água chegou até o teto", afirmou o estudante, que lamentou a perda de fotografias da família.
Segundo o setor de assistência social da cidade, pelo menos 500 famílias tiveram perda total de seus pertences e seis casas foram levadas pela lama.
Ainda havia moradores sem abrigo na cidade na tarde de ontem. "Estamos no meio da rua com a roupa do corpo. Não temos para onde ir", disse Solange Pires Afonso, 30.
Para a Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda), esse tipo de acidente é inaceitável, já que "a tecnologia de construção e de manutenção de barragens é perfeitamente dominada, e chuvas fortes não podem ser a justificativa para que arrebentem".
A entidade vai solicitar aos órgãos ambientais de governo que façam vistorias em outros empreendimentos da empresa Rio Pomba Mineração. "Podemos desconfiar que isso pode acontecer nos outros empreendimentos da empresa", afirmou a superintendente da associação, Maria Dalce Ricas.
A extensão dos danos humanos e ambientais começará a ser avaliada hoje pelo DNPM (Departamento Nacional de Produção Mineral). "Ainda precisamos aguardar o diagnóstico, mas, como há uma reincidência, nós vamos tomar as medidas mais enérgicas possíveis", afirmou à Folha o diretor de fiscalização do órgão, Walter Arcoverde.
Segundo Raimundo Mártires, geólogo do DNPM, o rompimento da barragem não deve trazer riscos de intoxicação da água do rio. Os danos ambientais são mais de natureza física. "O minério [bauxita] é rico em argila e é lavado de forma a soltar uma polpa que é 100% água e argila em suspensão", diz.
A quantidade de argila no rejeito, porém, é muito grande e pode matar animais de outras maneiras. "A água do rio fica turva e pode ocorrer um processo em que algumas formas de vida sucumbem em detrimento da suspensão", diz Mártires. "Se o peixe não enxerga a comida, não tem como comer."


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