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"Não deu para salvar nada", diz morador após acidente
Estudante diz que acordou quando a lama já atingia sua casa; 5.000 foram atingidos
Começará a ser avaliada hoje pelo Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) a extensão dos danos ao
ser humano e ao ambiente
DA AGÊNCIA FOLHA
DA REPORTAGEM LOCAL
Um mar de lama. Foi assim
que moradores de Miraí descreveram a cidade após a invasão de água e argila da barragem rompida da mineradora
Rio Pomba. "Perdi tudo, estou
com o coração apertado, não dá
nem para falar", disse o estudante Daniel Mendes, 23.
Mendes mora com a mãe e a
irmã no bairro Indaiá, o mais
atingido pelo desastre. Ele disse que foi acordado pelo forte
barulho da água que se aproximava da casa. "Não deu para
salvar nada. A água chegou até
o teto", afirmou o estudante,
que lamentou a perda de fotografias da família.
Segundo o setor de assistência social da cidade, pelo menos
500 famílias tiveram perda total de seus pertences e seis casas foram levadas pela lama.
Ainda havia moradores sem
abrigo na cidade na tarde de
ontem. "Estamos no meio da
rua com a roupa do corpo. Não
temos para onde ir", disse Solange Pires Afonso, 30.
Para a Associação Mineira de
Defesa do Ambiente (Amda),
esse tipo de acidente é inaceitável, já que "a tecnologia de
construção e de manutenção
de barragens é perfeitamente
dominada, e chuvas fortes não
podem ser a justificativa para
que arrebentem".
A entidade vai solicitar aos
órgãos ambientais de governo
que façam vistorias em outros
empreendimentos da empresa
Rio Pomba Mineração. "Podemos desconfiar que isso pode
acontecer nos outros empreendimentos da empresa", afirmou a superintendente da associação, Maria Dalce Ricas.
A extensão dos danos humanos e ambientais começará a
ser avaliada hoje pelo DNPM
(Departamento Nacional de
Produção Mineral). "Ainda
precisamos aguardar o diagnóstico, mas, como há uma
reincidência, nós vamos tomar
as medidas mais enérgicas possíveis", afirmou à Folha o diretor de fiscalização do órgão,
Walter Arcoverde.
Segundo Raimundo Mártires, geólogo do DNPM, o rompimento da barragem não deve
trazer riscos de intoxicação da
água do rio. Os danos ambientais são mais de natureza física.
"O minério [bauxita] é rico em
argila e é lavado de forma a soltar uma polpa que é 100% água
e argila em suspensão", diz.
A quantidade de argila no rejeito, porém, é muito grande e
pode matar animais de outras
maneiras. "A água do rio fica
turva e pode ocorrer um processo em que algumas formas
de vida sucumbem em detrimento da suspensão", diz Mártires. "Se o peixe não enxerga a
comida, não tem como comer."
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