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SAÚDE
Falsa labirintite lidera queixa popular
KÁTIA STRINGUETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Entre os seus familiares, vizinhos ou amigos há sempre alguém reclamando de que está ou
já esteve com a famosa labirintite?
É provável que sim. Como também é muito provável que as tonturas, as vertigens e o zumbido
não tenham nada a ver a labirintite de fato.
Esta última doença é extremamente rara e grave e se caracteriza
pela inflamação do labirinto, uma
estrutura do ouvido interno responsável pelo equilíbrio do corpo.
O que a maioria das pessoas
chama de labirintite, na verdade,
pode ser um sintoma de pelo menos 300 doenças que acometem o
pequeno órgão do ouvido interno
(de distúrbios vasculares a erros
de alimentação e tumores).
"O termo está sendo mal usado.
O correto é chamar os distúrbios
do labirinto de labirintopatias",
explica Mário Sérgio Lei Munhoz,
chefe da disciplina de otoneurologia da Universidade Federal de
São Paulo (Unifesp).
Perde-se no tempo, no entanto,
o dia em que a palavra começou a
ser usada por engano. O fato é que
ela caiu no vocabulário popular e
tentar corrigi-la parece impossível. "É remar contra a maré", diz o
otorrinolaringologista Gilberto
Formigoni, do Hospital das Clínicas de São Paulo.
É mesmo uma maré de gente
que manifesta os sintomas. Os diversos tipos de tontura acometem
pessoas de todas as idades, com
uma ligeira predominância do sexo feminino, em virtude das oscilações hormonais. Observa-se
que adolescentes que começam a
menstruar e mulheres próximas
da menopausa são mais propensas ao problema.
"Depois das dores de cabeça e
das musculares, as queixas por
causa da tontura, ou "labirintite",
são as mais frequentes no pronto-socorro do HC", diz Formigoni.
Não há estatísticas do problema
no Brasil. Mas acredita-se que a
realidade do país seja semelhante
à americana.
Para se ter uma idéia da dimensão dos números, o Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos fez um levantamento dos sintomas que envolvem a "labirintite" e descobriu que 42% da população local está tendo ou já teve
tontura, 17% sofre ou já sofreu
com zumbido e 13%, com alterações auditivas.
O motivo é que toda essa região
é muito sensível. O ouvido interno está dividido em duas partes:
uma que percebe o som (cóclea) e
outra que percebe os movimentos
(labirinto). Quando ocorre algum
distúrbio no labirinto, a percepção dos movimentos é alterada e a
pessoa pode sentir movimentos
que não existem. É a tontura. Se o
distúrbio acontece na cóclea (encostada ao labirinto), há uma perturbação sonora. É o zumbido.
Nomear a tontura de labirintite
ou não, pouco importa. A maneira de tratar o sintoma é o que
preocupa. Não adianta dar medicamento para tirar o sintoma se a
causa não for atacada. "É preciso
descobrir porque o labirinto está
doente", diz Luc Weckx, presidente da Sociedade Brasileira de
Otorrinolaringologia.
O diagnóstico é fundamental
para se chegar à cura e também
para evitar complicações futuras.
"O distúrbio do labirinto em
crianças pode, mais tarde, ser a
causa da enxaqueca", afirma Munhoz.
Uma pessoa que tem tontura
deve ser bem investigada. Há vários pontos que podem colaborar
para a tontura e o correto é intervir em todos eles. Em alguns casos, a raiz do problema está na coluna cervical. Ao lado da coluna
vertebral passam artérias que levam sangue até o labirinto.
Qualquer compressão óssea
que altere o fluxo de sanguíneo
pode diminuir a irrigação do labirinto, que se ressente e não consegue funcionar tão bem.
Em adultos jovens que apresentam o problema é frequente haver, por exemplo, alteração de
metabolismo no sangue. Isso pode ser desencadeado pela baixa
concentração de açúcar no sangue, pelo aumento do nível de colesterol e pelo estresse.
Outra responsável pelo que se
chama "labirintite", na faixa dos
20 aos 45, é a doença de Ménière.
Por causa de infecções virais, alergias, distúrbios do metabolismo
entre outros fatores, há uma concentração de líquido dentro do labirinto. A pressão faz o paciente
sentir que o ouvido está sempre
tapado além de provocar tonturas, náuseas e suor frio.
"Nesse caso, é possível só tratar
do sintoma. Faz-se um furinho no
labirinto para o líquido em excesso sair e a pressão voltar ao normal. Mas o problema pode voltar
a qualquer momento", explica
Munhoz.
Outra alternativa menos incômoda é o uso de uma sonda que
emite pulsos de pressão para dentro do labirinto. A intenção é diminuir a pressão interna do órgão.
O aparelho ainda está em teste
na Universidade Federal de São
Paulo, mas os estudos na Suécia,
de onde o produto foi importado,
demonstraram bons resultados.
"As pesquisas indicaram 90% de
melhora dos sintomas", diz Munhoz.
No idoso, a doença mais frequente do labirinto é a Vertigem
Postural Paroxística Benigna
(VPPB). Estruturas semelhantes a
pequenas pedrinhas e que estão
localizadas nos canais semicirculares do labirinto, saem do lugar.
Como consequência tiram o equilíbrio labiríntico. "É o caso típico
do idoso que passa mal ao abaixar
para pegar alguma coisa no
chão", diz Munhoz.
Em vez de tomar medicamento
para o equilíbrio, é possível usar
uma manobra de reposição do labirinto. São feitos alguns movimentos na cabeça do paciente para que as tais pedrinhas voltem
para o lugar certo. "O melhor tratamento, portanto, é o que está
mais dirigido para a causa do problema", afirma Richard Voegels,
otorrinolaringologista de São
Paulo.
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