São Paulo, domingo, 11 de fevereiro de 2001

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SAÚDE

Falsa labirintite lidera queixa popular

KÁTIA STRINGUETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Entre os seus familiares, vizinhos ou amigos há sempre alguém reclamando de que está ou já esteve com a famosa labirintite? É provável que sim. Como também é muito provável que as tonturas, as vertigens e o zumbido não tenham nada a ver a labirintite de fato.
Esta última doença é extremamente rara e grave e se caracteriza pela inflamação do labirinto, uma estrutura do ouvido interno responsável pelo equilíbrio do corpo.
O que a maioria das pessoas chama de labirintite, na verdade, pode ser um sintoma de pelo menos 300 doenças que acometem o pequeno órgão do ouvido interno (de distúrbios vasculares a erros de alimentação e tumores).
"O termo está sendo mal usado. O correto é chamar os distúrbios do labirinto de labirintopatias", explica Mário Sérgio Lei Munhoz, chefe da disciplina de otoneurologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Perde-se no tempo, no entanto, o dia em que a palavra começou a ser usada por engano. O fato é que ela caiu no vocabulário popular e tentar corrigi-la parece impossível. "É remar contra a maré", diz o otorrinolaringologista Gilberto Formigoni, do Hospital das Clínicas de São Paulo.
É mesmo uma maré de gente que manifesta os sintomas. Os diversos tipos de tontura acometem pessoas de todas as idades, com uma ligeira predominância do sexo feminino, em virtude das oscilações hormonais. Observa-se que adolescentes que começam a menstruar e mulheres próximas da menopausa são mais propensas ao problema.
"Depois das dores de cabeça e das musculares, as queixas por causa da tontura, ou "labirintite", são as mais frequentes no pronto-socorro do HC", diz Formigoni.
Não há estatísticas do problema no Brasil. Mas acredita-se que a realidade do país seja semelhante à americana.
Para se ter uma idéia da dimensão dos números, o Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos fez um levantamento dos sintomas que envolvem a "labirintite" e descobriu que 42% da população local está tendo ou já teve tontura, 17% sofre ou já sofreu com zumbido e 13%, com alterações auditivas.
O motivo é que toda essa região é muito sensível. O ouvido interno está dividido em duas partes: uma que percebe o som (cóclea) e outra que percebe os movimentos (labirinto). Quando ocorre algum distúrbio no labirinto, a percepção dos movimentos é alterada e a pessoa pode sentir movimentos que não existem. É a tontura. Se o distúrbio acontece na cóclea (encostada ao labirinto), há uma perturbação sonora. É o zumbido.
Nomear a tontura de labirintite ou não, pouco importa. A maneira de tratar o sintoma é o que preocupa. Não adianta dar medicamento para tirar o sintoma se a causa não for atacada. "É preciso descobrir porque o labirinto está doente", diz Luc Weckx, presidente da Sociedade Brasileira de Otorrinolaringologia.
O diagnóstico é fundamental para se chegar à cura e também para evitar complicações futuras. "O distúrbio do labirinto em crianças pode, mais tarde, ser a causa da enxaqueca", afirma Munhoz.
Uma pessoa que tem tontura deve ser bem investigada. Há vários pontos que podem colaborar para a tontura e o correto é intervir em todos eles. Em alguns casos, a raiz do problema está na coluna cervical. Ao lado da coluna vertebral passam artérias que levam sangue até o labirinto.
Qualquer compressão óssea que altere o fluxo de sanguíneo pode diminuir a irrigação do labirinto, que se ressente e não consegue funcionar tão bem.
Em adultos jovens que apresentam o problema é frequente haver, por exemplo, alteração de metabolismo no sangue. Isso pode ser desencadeado pela baixa concentração de açúcar no sangue, pelo aumento do nível de colesterol e pelo estresse.
Outra responsável pelo que se chama "labirintite", na faixa dos 20 aos 45, é a doença de Ménière. Por causa de infecções virais, alergias, distúrbios do metabolismo entre outros fatores, há uma concentração de líquido dentro do labirinto. A pressão faz o paciente sentir que o ouvido está sempre tapado além de provocar tonturas, náuseas e suor frio.
"Nesse caso, é possível só tratar do sintoma. Faz-se um furinho no labirinto para o líquido em excesso sair e a pressão voltar ao normal. Mas o problema pode voltar a qualquer momento", explica Munhoz.
Outra alternativa menos incômoda é o uso de uma sonda que emite pulsos de pressão para dentro do labirinto. A intenção é diminuir a pressão interna do órgão.
O aparelho ainda está em teste na Universidade Federal de São Paulo, mas os estudos na Suécia, de onde o produto foi importado, demonstraram bons resultados. "As pesquisas indicaram 90% de melhora dos sintomas", diz Munhoz.
No idoso, a doença mais frequente do labirinto é a Vertigem Postural Paroxística Benigna (VPPB). Estruturas semelhantes a pequenas pedrinhas e que estão localizadas nos canais semicirculares do labirinto, saem do lugar. Como consequência tiram o equilíbrio labiríntico. "É o caso típico do idoso que passa mal ao abaixar para pegar alguma coisa no chão", diz Munhoz.
Em vez de tomar medicamento para o equilíbrio, é possível usar uma manobra de reposição do labirinto. São feitos alguns movimentos na cabeça do paciente para que as tais pedrinhas voltem para o lugar certo. "O melhor tratamento, portanto, é o que está mais dirigido para a causa do problema", afirma Richard Voegels, otorrinolaringologista de São Paulo.


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