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REVISTA
Cuidado, frágil
ROBERTO DE OLIVEIRA
DA REVISTA
O bebê nasce prematuro, no
provador de uma loja de roupas.
Preocupado com seu choro forte e
persistente, o médico que acaba
de chegar quer saber se o recém-nascido caiu ou se houve algum
problema na hora do parto. Nada,
dizem todos. "Parece que o seu
bebê sofreu algumas fraturas dentro do seu útero. Ele está com as
pernas e os braços quebrados",
diz o médico à mãe, intrigado.
A cena, impactante, abre o filme
"Corpo Fechado", um dos atuais
campeões de bilheteria em São
Paulo. Nele, o diretor americano
de origem hindu M. Night Shyamalan contrapõe um personagem
extremamente frágil a outro quase "inquebrável" (seu título original, "Unbreakable"). O mix de
realidade e história em quadrinhos acaba dando a impressão de
que, ali, tudo é ficção. Não é.
O mal que acomete o sr. Vidro
-apelido dado ao frágil personagem de Samuel L. Jackson- existe e atinge cerca de 12 mil brasileiros. Chamada osteogênese imperfeita (OI), é uma doença genética
sem cura, que provoca fraturas
múltiplas e sucessivas, dores contínuas e deformidades, podendo
ser letal em alguns casos (veja
quadro ao lado).
As fraturas ocorrem, principalmente, durante a infância, às vezes até antes de nascer. Como o
bebê de "Corpo Fechado", o chaveiro Marcus Vinicius de Oliveira
Gonçalves, 34, de Santos (SP),
quebrou a tíbia (osso que liga o
joelho ao pé) esquerda durante o
parto.
Três meses depois, ao ser mudado de posição no colo do pai, o bebê começou a chorar: havia quebrado o fêmur.
Conviver com as fraturas constantes era difícil, recorda Marcus,
mas pior era engolir as doses de
cálcio e as "toneladas" de geléia de
mocotó. "Não posso nem lembrar
que me embrulha o estômago",
diz.
O sacrifício foi em vão. A professora de reumatologia da Unifesp (Universidade Federal de São
Paulo) Vera Lúcia Szejnfeld, 46,
diz que o cálcio não muda nada.
"É uma doença genética. Muitas
adultos que sofrem de OI tomam
cálcio na infância, mas não surte
nenhum efeito favorável", diz.
Com OI em grau 3, variável
mais comum da doença, as fraturas constantes nos fêmures comprometeram sua estatura (ele mede 1,43 m, e seu pai 1,75 m) e lhe
renderam o apelido de Tatoo, referência ao anão da antiga série de
TV "A Ilha da Fantasia".
Marcus não tem antepassados
com a doença, mas a transmissão
hereditária, responsável pela
maioria dos casos, se manifestou
em sua filha Ana Júlia, de 6 meses.
Ana Júlia quebrou o fêmur dentro
da barriga da mãe, mas a fratura
"colou" antes do parto e até agora
não ocorreram outras.
Um dos aspectos mais impressionantes da doença, as fraturas
intra-uterinas atingem cerca de
20% das vítimas de OI. A garota
Thuany Regina Teixeira, 4 anos,
30 fraturas, já nasceu com pernas,
braços e costelas quebrados. "O
médico me disse que nunca eu
poderia abraçar minha filha, pois
ela quebraria", recorda a cabeleireira Regina Teixeira, 28.
Nos primeiros meses de vida,
Thuany se quebrava dormindo,
ao virar no berço, e a previsão era
de que não sobreviveria. Hoje,
graças à hidroginástica, seus movimentos melhoraram, e há cerca
de um ano não sofre fraturas.
Mas, com os ossos encurvados
como se fossem de plástico, não
consegue andar.
"Existe muito desconhecimento
médico sobre a OI, tanto na hora
de diagnosticar como na de aconselhar", admite Cláudio Santili,
48, chefe do grupo de ortopedia
pediátrica da Santa Casa. "O problema é que a doença é rara e se
manifesta de diversas formas diferentes", completa.
Vera Lúcia, da Unifesp, recomenda que os portadores façam o
mapeamento genético antes de
terem filhos.
Leia a reportagem completa no site www.uol.com.br/revista
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