São Paulo, quarta-feira, 11 de fevereiro de 2004

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RIO INSEGURO

No campus do Fundão, alunos temem assaltos e estupros; contra balas perdidas, escola de enfermagem blinda prédio

Guerra do tráfico atinge universidades

FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO

As duas principais universidades federais do Rio, a UFF (Universidade Federal Fluminense) e a UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), enfrentam hoje o medo da violência.
Na Faculdade de Enfermagem da UFF, em Niterói (a 15 km do Rio), os vidros serão blindados para evitar que alunos, professores e funcionários sejam atingidos por balas perdidas.
A faculdade fica ao lado do morro do Arroz e perto dos morros da Chácara e do Estado. Durante as aulas, é comum que os alunos ouçam tiros. No ano passado, uma perseguição policial dentro da faculdade acabou com um assaltante morto e os alunos em pânico.
O vice-reitor da UFF, Antônio José Peçanha, disse que recebeu do Ministério da Educação autorização para blindar os vidros e promessa de liberação de verba.
"Temos várias paredes atingidas por balas", afirmou o vice-reitor. Segundo ele, o MEC autorizou ainda a transferência da entrada, hoje feita por uma rua lateral e que dá acesso ao morro, para a avenida em frente ao prédio.
"Já houve aulas em que tive de me jogar no chão com os alunos", afirma Maria Bertila L.R. Branco, professora do curso profissionalizante de formação de técnicos e auxiliares de enfermagem.
Os alunos já receberam do morro avisos de que é proibido ir às aulas de vermelho -cor associada à facção criminosa CV (Comando Vermelho)-, já que a área do Arroz é dominada pelo TC (Terceiro Comando).
Por enquanto, segundo Peçanha, a proposta inicial da UFF -transferir o curso de enfermagem para outro campus- não foi aceita. Ele disse que a UFF pedirá reforço no policiamento e vai intensificar os trabalhos sociais nos morros próximos, como uma "política de boa vizinhança".
Há dez dias, a polícia encontrou os corpos de quatro homens mortos a tiros dentro do campus da UFRJ na Ilha do Fundão (zona norte). Os cadáveres estavam perto do alojamento.
O campus é vizinho à Ilha do Governador, onde há hoje uma guerra entre as facções criminosas TCP (Terceiro Comando Puro) e ADA (Amigo dos Amigos). Do campus também se vê o complexo de favelas da Maré, onde facções disputam o comando do tráfico. Da zona sul ao Fundão, é obrigatório cruzar a Linha Vermelha ou a avenida Brasil, ambas palcos de constantes tiroteios.
Os alunos temem furtos, assaltos e estupros. No campus de 4,5 milhões de m2 (equivalente, segundo a UFRJ, aos bairros de Ipanema e Leblon juntos), circulam 60 mil pessoas/dia.
"Quase todo dia ouço tiros na Maré. Para sair tarde do Fundão, só num grupo grande", diz Gaby Santos, 20, aluna de belas artes.
Em outubro de 2003, a UFRJ criou uma comissão para cuidar da segurança. A presidente da comissão, a vice-reitora Sílvia Vargas, disse que os problemas do campus não diferem dos que existem no Rio e que a "desova" de cadáveres se deve à grande extensão do local, com iluminação precária e pouca movimentação à noite.
Vargas disse que foram implementadas medidas experimentais, como ronda diária da Polícia Militar, e que há previsão de construção de guaritas, monitoramento com câmeras de vídeo e segurança 24 horas. Ela disse que, formalmente, ainda não levou o caso ao MEC e que, ao final do trabalho da comissão, um relatório será enviado ao ministério.


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