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RIO INSEGURO
No campus do Fundão, alunos temem assaltos e estupros; contra balas perdidas, escola de enfermagem blinda prédio
Guerra do tráfico atinge universidades
FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO
As duas principais universidades federais do Rio, a UFF (Universidade Federal Fluminense) e a
UFRJ (Universidade Federal do
Rio de Janeiro), enfrentam hoje o
medo da violência.
Na Faculdade de Enfermagem
da UFF, em Niterói (a 15 km do
Rio), os vidros serão blindados
para evitar que alunos, professores e funcionários sejam atingidos
por balas perdidas.
A faculdade fica ao lado do morro do Arroz e perto dos morros da
Chácara e do Estado. Durante as
aulas, é comum que os alunos ouçam tiros. No ano passado, uma
perseguição policial dentro da faculdade acabou com um assaltante morto e os alunos em pânico.
O vice-reitor da UFF, Antônio
José Peçanha, disse que recebeu
do Ministério da Educação autorização para blindar os vidros e
promessa de liberação de verba.
"Temos várias paredes atingidas por balas", afirmou o vice-reitor. Segundo ele, o MEC autorizou ainda a transferência da entrada, hoje feita por uma rua lateral e que dá acesso ao morro, para
a avenida em frente ao prédio.
"Já houve aulas em que tive de
me jogar no chão com os alunos",
afirma Maria Bertila L.R. Branco,
professora do curso profissionalizante de formação de técnicos e
auxiliares de enfermagem.
Os alunos já receberam do morro avisos de que é proibido ir às
aulas de vermelho -cor associada à facção criminosa CV (Comando Vermelho)-, já que a
área do Arroz é dominada pelo
TC (Terceiro Comando).
Por enquanto, segundo Peçanha, a proposta inicial da UFF
-transferir o curso de enfermagem para outro campus- não foi
aceita. Ele disse que a UFF pedirá
reforço no policiamento e vai intensificar os trabalhos sociais nos
morros próximos, como uma
"política de boa vizinhança".
Há dez dias, a polícia encontrou
os corpos de quatro homens mortos a tiros dentro do campus da
UFRJ na Ilha do Fundão (zona
norte). Os cadáveres estavam perto do alojamento.
O campus é vizinho à Ilha do
Governador, onde há hoje uma
guerra entre as facções criminosas TCP (Terceiro Comando Puro) e ADA (Amigo dos Amigos).
Do campus também se vê o complexo de favelas da Maré, onde
facções disputam o comando do
tráfico. Da zona sul ao Fundão, é
obrigatório cruzar a Linha Vermelha ou a avenida Brasil, ambas
palcos de constantes tiroteios.
Os alunos temem furtos, assaltos e estupros. No campus de 4,5
milhões de m2 (equivalente, segundo a UFRJ, aos bairros de Ipanema e Leblon juntos), circulam
60 mil pessoas/dia.
"Quase todo dia ouço tiros na
Maré. Para sair tarde do Fundão,
só num grupo grande", diz Gaby
Santos, 20, aluna de belas artes.
Em outubro de 2003, a UFRJ
criou uma comissão para cuidar
da segurança. A presidente da comissão, a vice-reitora Sílvia Vargas, disse que os problemas do
campus não diferem dos que existem no Rio e que a "desova" de cadáveres se deve à grande extensão
do local, com iluminação precária
e pouca movimentação à noite.
Vargas disse que foram implementadas medidas experimentais, como ronda diária da Polícia
Militar, e que há previsão de construção de guaritas, monitoramento com câmeras de vídeo e segurança 24 horas. Ela disse que, formalmente, ainda não levou o caso
ao MEC e que, ao final do trabalho
da comissão, um relatório será
enviado ao ministério.
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