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CHUVAS
Proposta federal em estudo prevê que prefeituras cobrem pela impermeabilização do solo, que impede a absorção da água
Projeto abre brecha para taxa de enchente
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA REPORTAGEM LOCAL
Os municípios terão a possibilidade de cobrar uma taxa de drenagem, pela impermeabilização
do solo, caso seja mantida a atual
proposta de Política Nacional de
Saneamento Ambiental, em discussão no Ministério das Cidades.
Pela idéia, quanto maior a área
construída, maior o valor do tributo. A impermeabilização acelera o ritmo de escoamento da água
da chuva para as galerias, córregos e rios, facilitando enchentes.
A proposta federal possibilita
que as prefeituras implantem a taxa sem contestação judicial porque prevê a inclusão do manejo
de águas pluviais e de resíduos sólidos entre os serviços de saneamento, cujo controle passaria para as mãos dos municípios.
"Queremos acabar com a história de que o melhor projeto de
drenagem é o que escoa a água
mais rápido", afirmou o secretário de Saneamento Ambiental,
Abelardo Oliveira Filho.
Especialistas, porém, contestam
a eficácia da cobrança para minimizar as enchentes ou reduzir a
impermeabilização excessiva.
Segundo Oliveira Filho, a cobrança das taxas já é possível hoje,
mas há contestações judiciais em
alguns casos. Para ele, a experiência de Santo André (Grande SP) é
um exemplo de como pode funcionar o sistema integrado.
"Santo André é um exemplo
porque o mesmo órgão [o Semasa, Serviço Municipal de Saneamento de Santo André] cuida de
todo o processo, do tratamento de
água, coleta de lixo, drenagem."
Modelo
A taxa de drenagem é cobrada
em Santo André desde 1998. Os
moradores da cidade pagam entre R$ 0,20 e R$ 0,40 por metro
quadrado de área coberta do imóvel -a variação leva em conta
também a localização do terreno e
a pluviometria média da região
onde ele está (em áreas altas de regiões mais chuvosas, por exemplo, a taxa é mais elevada).
Com o tributo, o Semasa arrecada anualmente cerca de R$ 6 milhões, que cobrem metade dos
gastos com manutenção de galerias, limpeza de bocas-de-lobo e
desassoreamento de córregos,
afirma o superintendente do órgão, Sebastião Ney Vaz.
Um imóvel de 100 m2 de área coberta, que contribui, num ano de
chuvas dentro da média, com o
escoamento de 1.800 litros de
água, paga em média R$ 2 por
mês. Moradores de prédios chegam a desembolsar centavos porque o total de telhado é dividido
pelos apartamentos.
Como forma de educar e incentivar as pessoas a reter e até reaproveitar a água das chuvas,
quem consegue provar que armazena todo o volume que escoa do
telhado em bacias de contenção
ganha isenção da taxa.
Talvez pelo baixo valor pago, a
motivação ainda não surtiu efeitos: os isentos não chegam a 10% e
incluem moradores de favelas e
dos cinco bairros considerados
áreas de risco na cidade.
"No início, as pessoas reclamaram porque achavam que estávamos punindo as vítimas das enchentes, mas, na verdade, estamos socializando os prejuízos, fazendo os que não sofrem com as
cheias, mas contribuem de alguma forma para elas, pagarem a
sua parte", diz Vaz. A opção por
cobrar por área coberta e não por
área impermeável foi política: a
segunda sairia muito mais cara.
Pela proposta discutida no Ministério das Cidades, a sustentabilidade dos serviços públicos de saneamento, sempre que for possível, deve ser obtida pela cobrança
direta da prestação.
"Não vamos determinar ou cobrar nada. Estamos criando um
marco regulatório que permita a
regulamentação do saneamento",
afirmou Oliveira Filho.
Os projetos da política nacional
e da regulamentação do setor serão encaminhados ao ministro
Olívio Dutra após análise da consultoria jurídica. Depois seguem
para a Casa Civil e serão colocados em consulta pública por até
60 dias. Com a aprovação do governo, as propostas serão encaminhadas ao Congresso.
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