São Paulo, Quinta-feira, 11 de Fevereiro de 1999
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Pagodeiros invadem Sambódromo do RJ

Patrícia Santos/Folha Imagem
A modelo Solange Gomes, no barracão da escola de samba Acadêmicos do Salgueiro, do Rio


ANNA LEE
FERNANDA DA ESCÓSSIA
da Sucursal do Rio

A passarela do samba é também a passarela da fama. Por isso, este ano, pagodeiros se juntaram a modelos, atores e atletas que disputam lugar nas escolas.
É um duplo jogo de interesses. Para o destaque, são 80 minutos sob os olhos de 70 mil pessoas no Sambódromo e de milhões de pessoas que assistem ao desfile pela TV; para a escola, vale ter gente que atrai notícia.
A Mangueira e a Beija-Flor levaram para seus times, respectivamente, os pagodeiros Alexandre Pires, do grupo Só pra Contrariar, e Belo, do paulista Soweto.
Os pagodeiros buscam nas escolas o reconhecimento da tradição do samba. No CD dos sambas-enredo, Alexandre Pires divide o microfone com Jamelão, e Belo canta com Neguinho da Beija-Flor. Só Belo cantará no Sambódromo. Pires sairá de destaque.
Nenhum dos dois deu dinheiro às escolas, mas ambos cantaram nos shows organizados para arrecadar verbas para os desfiles.
Na Mangueira, a parceria com Alexandre Pires provocou protestos. "Se ele é mangueirense, que se junte a nós todos. Cantar com Jamelão é demais", reclama o crítico Ricardo Cravo Albim.
O presidente da Mangueira, Elmo dos Santos, não vê problema em ter Pires no disco. "Ele respeita Jamelão e a escola", diz.
Pires afirma que está honrado em sair na Mangueira e que não vai cantar no Sambódromo por considerar muita responsabilidade. Ele quer colaborar com os projetos sociais da Mangueira.
Belo diz gostar tanto de samba que, além da Beija-Flor, sairá nas 12 escolas paulistanas. "É bom para a escola, é bom para a gente. O pagode é filho do samba."
O produtor do CD dos sambas-enredo, Luiz Fernando Laíla, diz que a idéia de convidar os pagodeiros foi dele. "A vendagem do disco estava caindo, convidamos os dois porque são consagrados. É bom para eles e para nós", diz.
Para modelos semi-anônimas ou nem tanto, atingir o apogeu é ser madrinha da bateria, posto que impulsionou para o estrelato Luma de Oliveira e Monique Evans.
Também aqui há um jogo de toma-lá-dá-cá. O carnavalesco Joãosinho Trinta, da Viradouro, escola que terá Luma este ano, diz que hoje é ela que promove a escola.
Luma trocou a Tradição pela Viradouro e deixou uma polêmica: no ano passado, pagou as fantasias dos ritmistas. Outras madrinhas reclamam que a moda sai cara.
"As escolas passaram a achar que as madrinhas têm de pagar para sair", reclama Solange Gomes, madrinha da São Clemente. Luma diz que pagou porque podia e para retribuir o que a Tradição fizera por ela, mas não acha que isso deve se tornar um hábito.


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