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QUÍMICA
Ataque de ácido estraga os dentes de Leka do "BBB"
LUÍS FERNANDO PEREIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA
Está no dicionário. Bulimia nervosa: doença que leva a pessoa
a comer muito e depois a forçar o
vômito ou a tomar laxantes para
emagrecer ou não engordar.
Leka, participante eliminada do
programa de TV "Big Brother
Brasil", é hoje a bulímica mais famosa do país. O que ela não deve
saber é que, além de outros problemas de saúde e de uma anorexia à vista, ela está acabando com
seus dentes. Vamos ver por quê.
Um dente saudável é recoberto
por uma camada de esmalte que
protege seu interior. Esse esmalte
contém uma substância chamada
hidroxiapatita (Ca10(PO4)6(OH)2).
Apesar de dura e resistente, a hidroxiapatita tem íons hidróxido
(OH-) na sua composição, que a
tornam muito sensível ao ataque
de ácidos (substâncias fornecedoras de íons H+).
H+ e OH- se adoram. Um não
pode ver o outro, que imediatamente reagem. Por isso a saliva
ácida (rica em íons H+) acaba prejudicando o esmalte dos dentes.
O pior é que é muito fácil ficar
com a saliva ácida. Basta comer
açúcar! Bactérias que vivem na
nossa boca (argh!) convertem o
açúcar em ácidos que atacam o
escudo de hidroxiapatita dos dentes. Com o esmalte meio capenga,
os dentes ficam desprotegidos.
Assim, certos microorganismos
conseguem entrar e fazer a festa.
O resultado é cárie ou coisa pior!
É por isso que muitas pastas de
dente contêm bicarbonato de sódio (NaHCO3), que atua contra a
acidez e também faz parte da
composição do sal de frutas, um
antiácido estomacal.
Mas vamos voltar à bulimia de
Leka. Quando vomitamos, o suco
gástrico, que contém ácido clorídrico -um tremendo produtor
de íons H+-, vai parar na boca.
Detalhe: o suco gástrico é cerca de
100 mil vezes mais ácido que a saliva! Imagine o estrago nos dentes
de Leka se ela não se tratar logo, já
que pelo jeito ela vomita religiosamente após cada refeição.
O ideal, depois de comer, é só
escovar os dentes. Como as pastas
contêm fluoreto (F-), a hidroxiapatita, em contato com elas,
transforma-se em fluorapatita
(Ca10(PO4)6F2).
É que os íons fluoreto conseguem trocar de lugar com os íons
hidróxido (OH-), aqueles que os
ácidos atacam sem dó. Assim, os
vilões H+ não acham mais a sua vítima (OH-) no esmalte, e os dentes
ficam muito menos sensíveis ao
ataque ácido que, ao contrário do
da nossa seleção, é extremamente
perigoso para o adversário. É isso
aí, a química está em todas!
Luís Fernando Pereira é professor do
curso Intergraus e coordenador de química do sistema Uno/Moderna
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