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GUERRA DOS SEXOS
Por que ainda há cursos "masculinos" e "femininos'?
PARECE COISA DOS ANOS 50, MAS EXISTEM CARREIRAS QUE SÓ ATRAEM PESSOAS DO MESMO SEXO
ANDRÉ NICOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
Homens têm de ser engenheiros
e mulheres têm de cuidar de
pessoas. Esse pensamento pode
parecer coisa dos anos 50, mas
ainda hoje algumas carreiras continuam concentrando muito mais
gente de um sexo do que do outro.
Em geral, profissões ligadas ao
ensino ou à saúde concentram
mais mulheres, enquanto os homens são maioria nas de exatas.
Segundo um estudo feito pela
professora da USP (Universidade
de São Paulo) Eva Blay, os cursos
relacionados à área de saúde, de
educação e de cuidado de outras
pessoas concentrou 76% de mulheres em 2000 na USP. As áreas
técnicas, por outro lado, reuniram 73% de homens.
Segundo especialistas, essa concentração ocorre por motivos histórico-sociais. As mulheres, até a
década de 80, quando efetivamente entraram no mercado de
trabalho, eram educadas para serem boas mães e tomar conta da
família, enquanto os homens
eram treinados para serem competitivos e racionais.
"Elas eram educadas para serem as rainhas do lar e para cuidar
das pessoas, por isso as profissões
paramédicas são predominantemente femininas", afirmou Dulce
Whitaker, socióloga da Unesp
(Universidade Estadual Paulista).
Outro fator, segundo Dulce, é o
prestígio social de algumas profissões que pode atrair mais os homens. "É algo inconsciente, mas
quando o vestibulando escolhe
sua carreira, ele já sabe qual profissão é de homem e qual tem
prestígio", disse a professora.
Homens e mulheres que rompem com essa divisão sofrem preconceito, mas de formas diferentes. "Para as mulheres, fazer engenharia, por exemplo, tem um caráter de conquista, para os homens [que escolhem cursos mais
freqüentados por mulheres", entretanto, há um preconceito
quanto à masculinidade", disse o
professor de psicologia social da
PUC-SP, Odair Furtado.
Os estudantes Igor Aleixo Baldani, 21, e Luís Felipe Ferro, 21,
são os dois únicos rapazes de uma
sala de 25 alunos de terapia ocupacional da USP. Segundo eles, o
preconceito não é grande. "Só às
vezes, quando as meninas falam
para algum colega de fora da faculdade que há homens na sala,
eles perguntam se somos homens
mesmo", disse Baldani, que não
acredita que enfrentará discriminação quando procurar emprego.
Justamente por serem homens e
saberem jogar futebol, ele e Ferro
foram os únicos alunos da sala a
conseguir um estágio, auxiliando
no tratamento de um paciente.
"Há pacientes para quem é importante a figura masculina", disse a vice-diretora da faculdade de
fonoaudiologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,
Maria Cecília Trenche. Ao todo, a
PUC tem 479 alunas de fonoaudiologia e apenas cinco alunos.
Para a professora da USP Denise Consonni, que coordena um
grupo de 20 professores homens
da Poli, há pouco preconceito
com as engenheiras. "As pessoas
estão mais acostumadas com engenheiros homens. Talvez tenhamos mais dificuldade de mostrar
que somos capazes, mas, ultrapassadas as barreiras iniciais, não
há diferença", diz ela.
Ana Regina Nunes dos Santos,
19, uma das 17 garotas numa sala
com mais de 200 alunos do terceiro ano de engenharia elétrica da
USP, diz sofrer preconceito de alguns clientes em seu estágio. "Às
vezes eles ligam e pedem "posso
falar com um homem?'"
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