São Paulo, quinta-feira, 11 de abril de 2002

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GUERRA DOS SEXOS

Por que ainda há cursos "masculinos" e "femininos'?

PARECE COISA DOS ANOS 50, MAS EXISTEM CARREIRAS QUE SÓ ATRAEM PESSOAS DO MESMO SEXO

ANDRÉ NICOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Homens têm de ser engenheiros e mulheres têm de cuidar de pessoas. Esse pensamento pode parecer coisa dos anos 50, mas ainda hoje algumas carreiras continuam concentrando muito mais gente de um sexo do que do outro.
Em geral, profissões ligadas ao ensino ou à saúde concentram mais mulheres, enquanto os homens são maioria nas de exatas. Segundo um estudo feito pela professora da USP (Universidade de São Paulo) Eva Blay, os cursos relacionados à área de saúde, de educação e de cuidado de outras pessoas concentrou 76% de mulheres em 2000 na USP. As áreas técnicas, por outro lado, reuniram 73% de homens.
Segundo especialistas, essa concentração ocorre por motivos histórico-sociais. As mulheres, até a década de 80, quando efetivamente entraram no mercado de trabalho, eram educadas para serem boas mães e tomar conta da família, enquanto os homens eram treinados para serem competitivos e racionais.
"Elas eram educadas para serem as rainhas do lar e para cuidar das pessoas, por isso as profissões paramédicas são predominantemente femininas", afirmou Dulce Whitaker, socióloga da Unesp (Universidade Estadual Paulista).
Outro fator, segundo Dulce, é o prestígio social de algumas profissões que pode atrair mais os homens. "É algo inconsciente, mas quando o vestibulando escolhe sua carreira, ele já sabe qual profissão é de homem e qual tem prestígio", disse a professora.
Homens e mulheres que rompem com essa divisão sofrem preconceito, mas de formas diferentes. "Para as mulheres, fazer engenharia, por exemplo, tem um caráter de conquista, para os homens [que escolhem cursos mais freqüentados por mulheres", entretanto, há um preconceito quanto à masculinidade", disse o professor de psicologia social da PUC-SP, Odair Furtado.
Os estudantes Igor Aleixo Baldani, 21, e Luís Felipe Ferro, 21, são os dois únicos rapazes de uma sala de 25 alunos de terapia ocupacional da USP. Segundo eles, o preconceito não é grande. "Só às vezes, quando as meninas falam para algum colega de fora da faculdade que há homens na sala, eles perguntam se somos homens mesmo", disse Baldani, que não acredita que enfrentará discriminação quando procurar emprego.
Justamente por serem homens e saberem jogar futebol, ele e Ferro foram os únicos alunos da sala a conseguir um estágio, auxiliando no tratamento de um paciente.
"Há pacientes para quem é importante a figura masculina", disse a vice-diretora da faculdade de fonoaudiologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Maria Cecília Trenche. Ao todo, a PUC tem 479 alunas de fonoaudiologia e apenas cinco alunos.
Para a professora da USP Denise Consonni, que coordena um grupo de 20 professores homens da Poli, há pouco preconceito com as engenheiras. "As pessoas estão mais acostumadas com engenheiros homens. Talvez tenhamos mais dificuldade de mostrar que somos capazes, mas, ultrapassadas as barreiras iniciais, não há diferença", diz ela.
Ana Regina Nunes dos Santos, 19, uma das 17 garotas numa sala com mais de 200 alunos do terceiro ano de engenharia elétrica da USP, diz sofrer preconceito de alguns clientes em seu estágio. "Às vezes eles ligam e pedem "posso falar com um homem?'"



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