São Paulo, sábado, 11 de abril de 1998

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Crime reflete banalização da violência

GILBERTO DIMENSTEIN
do Conselho Editorial

O assassinato da professora Beatriz Junqueira, cometido por adolescentes, é reflexo não apenas da epidemia da violência, mas da crescente contaminação dos jovens.
A violência é um fenômeno cada vez mais banalizado, tornando os indivíduos insensíveis -o que apenas estimula sua evolução.
Policiais, psicólogos e educadores vêm alertando sobre os crescentes níveis de violência entre jovens dentro e fora das escola, muitas vezes movidos pelas drogas.
Com medo de retaliação, professores preferem manter silêncio diante das quadrilhas.
Briga por território, vinganças pela falta de pagamento das drogas, estado emocional alterado pelo vício, facilidade de acesso a armas de fogo ajudam a explicar como a delinquência juvenil vai tornando-se cada vez mais violenta.
As causas, porém, vão mais longe. Psicólogos alertam para os efeitos da desestruturação familiar numa combinação com a miséria, marcada pelo subemprego e desemprego.
A escola não consegue reter os alunos, submetidos a um processo de bombardeio da auto-estima por meio da repetência crônica e, no final, a evasão.
O poder público dispõe de escassos mecanismos de reciclagem dos jovens. Se detidos, não são levados a treinamento especial que facilite a volta à escola ou escolha de profissão.
Também não são oferecidas opções de lazer. Não por coincidência que boa parte dos assassinatos ocorre nos finais de semana, quando os jovens se drogas ou bebem em excesso, sem alternativas culturais e nem sequer de esportes.
É um ciclo vicioso da marginalidade, na qual a violência indiscriminada se torna um ingrediente de resolução de conflitos. Os bairros pobres não têm policiamento e, muito menos, acesso ao sistema judiciário.



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