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CET contrata "apadrinhados" políticos
LILIAN CHRISTOFOLETTI
da Reportagem Local
A CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), responsável pela
fiscalização do caótico trânsito da
cidade de São Paulo, se transformou em um cabide de emprego,
no qual a indicação política é a
moeda para contratação.
A Folha teve acesso a documento
da companhia com a relação de 30
funcionários indicados. Ao lado
dos nomes, salários e cargos correspondentes, consta quem fez a
indicação.
O próprio presidente da CET,
Nelson Maluf El Hage, já havia
confirmado a existência da lista.
"Vários funcionários foram indicados por vereadores, por exemplo. Eu não me lembro quantos,
mas tenho tudo marcado."
Segundo um ex-superintendente
da CET, que trabalhou na companhia por cinco anos e prefere não
ser identificado, a maioria dos indicados foi contratada pela empresa em 93, na gestão do então prefeito Paulo Maluf (93-96).
A empresa municipal tem 3.622
funcionários, sendo que 110 são
cargos de confiança, ou seja, não
necessitam de concurso público.
Indicações
O recordista em indicações é Flávio Maluf, filho do ex-prefeito, que
não possui cargo público. Ele é
presidente da Eucatex, empresa da
família Maluf. De acordo com a lista, ele indicou 14 pessoas.
O ex-superintendente afirmou
que eles eram conhecidos como o
"grupo mackenzista", pois a maioria havia estudado no Mackenzie e
trabalhado na campanha eleitoral
de Maluf. Dos 14, apenas dois foram desligados da empresa.
A lista mostra indicações feitas
por pessoas que nada têm a ver
com o setor de transportes. Além
de Flávio Maluf, está na categoria
Eurípedes Sales, conselheiro do
TCM (Tribunal de Contas do Município). A explicação, segundo a
Folha apurou, é simples: pessoas
eram contratadas pela CET, mas
logo removidas para outros órgãos
públicos, como o TCM.
Para o presidente do tribunal,
Walter Abrahão, apesar de não ser
uma situação irregular, não é "recomendável eticamente".
O nome do conselheiro Eurípedes Sales aparece do lado de quatro pessoas, que teriam sido comissionadas para o TCM, apesar
de receberem pela CET. Um deles
foi desligado da empresa neste
ano. Um dos casos mais recentes é
a entrada de Thiago Thobias, 19,
aluno do 1º ano de direito, que foi
contratado em 11 de março deste
ano pela CET, a pedido de Sales,
para receber R$ 2.398. Funcionários dizem que ele está na CET à
espera de comissionamento.
Muitos dos indicados são parentes dos políticos. O vereador José
Izar (PFL) e o então presidente da
Câmara Municipal, Nelo Rodolfo,
hoje deputado federal, indicaram
seus irmãos Willians José Izar e Viviane Giongo, respectivamente.
Após o escândalo da máfia da
propina, a CET conseguiu expurgar pelo menos dez pessoas indicadas, como o filho do vereador Vicente Viscome (sem partido) Luis
Manoel Pereira Viscome, que ganhou cerca de R$ 25 mil por dez
meses em que nunca trabalhou.
De acordo com três funcionários
e dois superintendentes, que não
quiseram se identificar, o presidente da companhia mantém uma
"assessora política" só para atender pedidos de políticos. A companhia não confirmou a informação.
Impunidade
Dois funcionários da CET que foram flagrados e investigados pelo
Ministério Público por trabalharem na campanha do prefeito Celso Pitta durante o expediente ainda recebem pela companhia.
Alexandre Luiz Souza Dib e Astrogildo Correa de Mello foram flagrados na campanha de 96 trabalhando no comitê de Pitta durante
o expediente. A denúncia foi para a
promotoria da 1ª Zona Eleitoral de
São Paulo, que abriu inquérito. A
assessoria de imprensa da CET
confirmou que Dib trabalhou na
campanha do prefeito, mas que ele
estava em férias na companhia.
Com relação a Mello, a assessoria
não soube informar se houve punição administrativa e onde o funcionário está lotado. Segundo a assessoria de imprensa, o departamento pessoal vai apurar o fato e
deve se posicionar segunda-feira.
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