São Paulo, Domingo, 11 de Abril de 1999
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CET contrata "apadrinhados" políticos

LILIAN CHRISTOFOLETTI
da Reportagem Local

A CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), responsável pela fiscalização do caótico trânsito da cidade de São Paulo, se transformou em um cabide de emprego, no qual a indicação política é a moeda para contratação.
A Folha teve acesso a documento da companhia com a relação de 30 funcionários indicados. Ao lado dos nomes, salários e cargos correspondentes, consta quem fez a indicação.
O próprio presidente da CET, Nelson Maluf El Hage, já havia confirmado a existência da lista. "Vários funcionários foram indicados por vereadores, por exemplo. Eu não me lembro quantos, mas tenho tudo marcado."
Segundo um ex-superintendente da CET, que trabalhou na companhia por cinco anos e prefere não ser identificado, a maioria dos indicados foi contratada pela empresa em 93, na gestão do então prefeito Paulo Maluf (93-96).
A empresa municipal tem 3.622 funcionários, sendo que 110 são cargos de confiança, ou seja, não necessitam de concurso público.

Indicações
O recordista em indicações é Flávio Maluf, filho do ex-prefeito, que não possui cargo público. Ele é presidente da Eucatex, empresa da família Maluf. De acordo com a lista, ele indicou 14 pessoas.
O ex-superintendente afirmou que eles eram conhecidos como o "grupo mackenzista", pois a maioria havia estudado no Mackenzie e trabalhado na campanha eleitoral de Maluf. Dos 14, apenas dois foram desligados da empresa.
A lista mostra indicações feitas por pessoas que nada têm a ver com o setor de transportes. Além de Flávio Maluf, está na categoria Eurípedes Sales, conselheiro do TCM (Tribunal de Contas do Município). A explicação, segundo a Folha apurou, é simples: pessoas eram contratadas pela CET, mas logo removidas para outros órgãos públicos, como o TCM.
Para o presidente do tribunal, Walter Abrahão, apesar de não ser uma situação irregular, não é "recomendável eticamente".
O nome do conselheiro Eurípedes Sales aparece do lado de quatro pessoas, que teriam sido comissionadas para o TCM, apesar de receberem pela CET. Um deles foi desligado da empresa neste ano. Um dos casos mais recentes é a entrada de Thiago Thobias, 19, aluno do 1º ano de direito, que foi contratado em 11 de março deste ano pela CET, a pedido de Sales, para receber R$ 2.398. Funcionários dizem que ele está na CET à espera de comissionamento.
Muitos dos indicados são parentes dos políticos. O vereador José Izar (PFL) e o então presidente da Câmara Municipal, Nelo Rodolfo, hoje deputado federal, indicaram seus irmãos Willians José Izar e Viviane Giongo, respectivamente.
Após o escândalo da máfia da propina, a CET conseguiu expurgar pelo menos dez pessoas indicadas, como o filho do vereador Vicente Viscome (sem partido) Luis Manoel Pereira Viscome, que ganhou cerca de R$ 25 mil por dez meses em que nunca trabalhou.
De acordo com três funcionários e dois superintendentes, que não quiseram se identificar, o presidente da companhia mantém uma "assessora política" só para atender pedidos de políticos. A companhia não confirmou a informação.

Impunidade
Dois funcionários da CET que foram flagrados e investigados pelo Ministério Público por trabalharem na campanha do prefeito Celso Pitta durante o expediente ainda recebem pela companhia.
Alexandre Luiz Souza Dib e Astrogildo Correa de Mello foram flagrados na campanha de 96 trabalhando no comitê de Pitta durante o expediente. A denúncia foi para a promotoria da 1ª Zona Eleitoral de São Paulo, que abriu inquérito. A assessoria de imprensa da CET confirmou que Dib trabalhou na campanha do prefeito, mas que ele estava em férias na companhia.
Com relação a Mello, a assessoria não soube informar se houve punição administrativa e onde o funcionário está lotado. Segundo a assessoria de imprensa, o departamento pessoal vai apurar o fato e deve se posicionar segunda-feira.


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