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GEOGRAFIA DA DROGA
Pesquisa mostra que 100 em cada 20 viciados morrem em 5 anos em SP
Morte é regra do jogo para dependente
do Conselho Editorial
R.L. é uma menina de 13 anos
que viveu até o ano passado nas
ruas, viciou-se em crack e já coleciona dois amigos mortos - um a
facada e outro queimado na linha
do trem.
Por muito pouco, a estatística
não é maior: um terceiro amigo recebeu vários tiros, mas escapou.
Dificilmente uma criança drogada, habituada a viver nas ruas ou a
conviver com traficantes, não tem
um amigo ou conhecido morto ou
gravemente ferido.
"É parte da regra do jogo", diz
L.G., 15, hoje no SOS Criança. Por
causa dessa regra e de tanto ver os
amigos apanharem, adoecerem ou
morrerem por causa do crack, ela
preferiu pedir ajuda.
Esse massacre começa, agora, a
ganhar novos números.
Numa das pesquisas mais profundas já feitas sobre a mortalidade causada pelo crack, três psiquiatras da Universidade de São
Paulo -Ronaldo Laranjeira, John
Dunn e Marcelo Ribeiro- acompanham viciados desde 1993.
Nesse ano, 131 viciados em crack
estavam sendo tratados por um
hospital público de São Paulo
(Hospital de Parada de Taipas).
Desde então, eles vão registrando o
que acontece com cada um deles,
rastreando seus caminhos.
No começo deste mês, já tinham
sido contatados 101 daqueles 131
de viciados, todos jovens.
Números da tragédia: 22 mortos.
"Não conheço nenhuma doença
que mate, proporcionalmente,
tanta gente nessa faixa etária", afirma Ronaldo Laranjeira.
Imagine-se o seguinte: de cada
100 jovens, 20 morrerem em cinco
anos.
Esses números são até amenos.
Afinal, o grupo estava no hospital,
logo procurou algum tipo de ajuda, estava disposto a se tratar e a
vencer o vício.
"Na população geral, certamente
é pior", afirma o psiquiatra John
Dunn. "Na pesquisa, temos apenas
um termômetro."
A morte é apenas a ponta mais
aguçada da tragédia. Dos 101, 28
continuam usando crack. Ou seja,
são candidatos à morte precoce.
Nove estão presos.
Apenas 39 deles estão abstinentes há mais de um ano, demonstrando que têm capacidade de vencer o vício.
O resultado é que a grande maioria daqueles 101 está morta, presa
ou ainda viciada.
Consequência
"É uma consequência óbvia da
falta de atendimento. O poder público não está equipado para enfrentar as vítimas de drogas. Eles
só tendem mesmo a sofrer um processo contínuo de marginalidade e
deterioração", afirma Ronaldo Laranjeira.
Por isso, ele considera que apenas reprimir nada resolve, apenas
muda o local onde se consome e se
trafica, numa alteração geográfica.
"É como espremer um balão com
água. O líquido só muda no espaço, mas permanece lá intacto",
afirma.
(GD)
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