São Paulo, sábado, 11 de maio de 2002

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CENSO 2000

Segundo dados preliminares, Estado pode ter o segundo maior número de índios; grupo dobrou no país de 1991 a 2000

População indígena quintuplica em SP

Antonio Viegas/"Correio do Estado"
Índios da Reserva de Dourados, a 210 km de Campo Grande, em lixão onde procuram alimentos


FABIANO MAISONNAVE
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPO GRANDE

"Não vai haver índio no século 21. A idéia de congelar o homem no estado primário de sua evolução é, na verdade, cruel e hipócrita". A frase, proferida pelo sociólogo Hélio Jaguaribe em 1994, causou polêmica e provocou um grande debate naquele ano no país: estaria o índio brasileiro condenado à extinção?
Pelos números de Censo 2000, divulgados nesta semana, Jaguaribe errou longe: a taxa de crescimento da população indígena foi maior do que todas as outras.
De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o número de índios saltou de 294.135, em 91, para 701.462, em 2000 -um aumento de 138,5%. Apesar disso, os índios representam apenas 0,4% dos brasileiros. Em 91, esse número era ainda menor: 0,2%.
Em alguns Estados, o crescimento foi ainda maior. Em São Paulo, o número saltou de 13.166 para 62.019 na última década -um acréscimo de 371%. De acordo com os dados ainda preliminares, o Estado pode concentrar a segunda maior população indígena do país, ultrapassando Mato Grosso do Sul.
No Amazonas, Estado com o maior número de índios, a população chega a 119.927, crescimento de 77% em comparação a 91, quando o havia 67.789 índios.

Funai
Os números surpreenderam até a Funai (Fundação Nacional do Índio), que trabalha com a estimativa de 358 mil índios. O órgão só contabiliza a população que vive em reservas.
Para a Funai, em 2000, só havia 2.716 índios em todo o Estado de São Paulo. O órgão não levou em conta, por exemplo, os cerca de 2.000 índios pancarurus que vivem na capital paulista.
De acordo com o historiador André Ramos, chefe do departamento de documentação da Funai, os números devem ser aceitos com ressalvas. "O IBGE usa o critério da autodeclaração", o que pode criar distorções, diz.
Ramos, no entanto, concorda que há uma tendência de crescimento. "Em algumas etnias do país, a taxa de crescimento anual chega a 4,5%, bastante superior à média brasileira."

Tribos urbanas
O IBGE ainda não divulgou dados mais minuciosos sobre como vivem e onde estão esses índios, mas a diferença com os dados da Funai é um dos indícios de que boa parte dessa população esteja morando em cidades.
Em Campo Grande (MS), estima-se que vivam cerca de 7.000 índios, a maioria terenas vindos do interior do Estado. Já existem duas "aldeias urbanas" na cidade -loteamentos destinados especificamente a essa população.
De acordo com Nilza Oliveira Martins Pereira, demógrafa e estatística do IBGE, os números podem sofrer uma variação de até 15%. Mesmo assim, o crescimento foi considerado espantoso.
Já existe pelo menos uma reclamação sobre os números. O Conselho do Índio de Santa Catarina informou que foram contados apenas 1.515 índios no Estado. O correto, segundo o órgão, é que esse número ultrapasse 8.000. Já está sendo estudado um pedido de recontagem ao IBGE.
Procurado pela Agência Folha para comentar o assunto, o sociólogo Hélio Jaguaribe informou, por meio de sua assessoria, que ainda não havia tomado conhecimento dos novos números.



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