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PF aponta 3 falhas graves de controladores
Para a polícia, erros contribuíram para o acidente entre o Legacy e o Boeing da Gol, que matou 154 pessoas no ano passado
Problemas justificariam o indiciamento dos três operadores envolvidos, o que não ocorreu apenas porque eles são militares
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Polícia Federal teria indiciado três controladores de vôo
do Cindacta-1 (Brasília) no caso
do acidente do avião da Gol,
que matou 154 pessoas, não
fosse a barreira legal que impede a PF de investigar militares,
segundo a Folha apurou.
No inquérito concluído anteontem, encaminhado à Justiça Federal em Sinop (MT), o
delegado Renato Sayão indiciou os pilotos americanos Joe
Lepore e Jan Paladino, do jatinho que colidiu contra o avião
da Gol, por entender que eles
expuseram a aeronave a perigo
de forma culposa -sem intenção de matar.
No documento, Sayão apontou também três graves erros
de procedimento cometidos
pelos controladores (todos militares) que justificariam o indiciamento, além de outros
deslizes de menor relevância.
Segundo o delegado da PF, o
primeiro erro dos controladores do Cindacta-1 foi ter passado a informação para a torre de
controle do aeroporto de São
José dos Campos, de onde o jatinho partiu, de que o Legacy
deveria voar até Manaus (AM)
a uma altitude de 37 mil pés (11
mil metros), enquanto o plano
de vôo da aeronave previa uma
descida para 36 mil pés ao passar por Brasília.
O segundo erro foi não ter
identificado na tela de seu radares que o transponder (equipamento que permite comunicação precisa com radares em
terra) do Legacy estava desligado. Eles teriam, nesse caso, que
solicitar aos pilotos do jatinho
que ligassem o aparelho. Se não
conseguissem contato com eles
via rádio, teriam de acionar o
Cindacta de Manaus para que
desviasse o avião da Gol da rota
de colisão, o que não foi feito.
O terceiro erro foi ter confiado na informação do radar primário (uma vez que o transponder não estava funcionando), que informava que o jatinho estava a 36 mil pés. Como a
informação do radar primário
é muito imprecisa, os controladores teriam de tentar checar o
dado. No lugar dessas providências, numa das trocas de
um turno, um dos controladores passou a informação de 36
mil pés para seu substituto como se o dado fosse preciso.
Contudo, como a lei não permite indiciar os controladores,
o delegado recomendou ao juiz
federal Charles Frazão, responsável pelo caso, que autorize o envio do inquérito ao Ministério Público Militar, órgão
competente para denunciar
militares.
Após a análise do inquérito, o
juiz vai encaminhá-lo ao Ministério Público Federal, que
ficará encarregado de propor
ou não a denúncia contra os pilotos, assim como decidirá se o
material referente aos controladores será repassado para o
Ministério Público Militar.
Negligência
O procurador do Ministério
Público Militar Giovanni Rattacaso entende que, com base
no que foi publicado pela imprensa nos últimos meses, já
existem elementos para denunciar os controladores de
vôo envolvidos no acidente do
avião da Gol.
De acordo com ele, os controladores agiram com negligência, o que caracterizaria, no caso, crime de homicídio culposo
duplamente qualificado.
Ele ressalta, porém, que uma
posição final só será possível
após o recebimento do inquérito da PF. Além disso, o inquérito será distribuído, podendo ir
para outro procurador.
No entanto, a Folha apurou
que na Aeronáutica predomina
a tese de que os controladores
não têm de ser punidos, mesmo se comprovada falha humana no monitoramento das aeronaves. O objetivo da Aeronáutica seria descobrir as causas que levaram à colisão e adotar medidas preventivas para
evitar novos acidentes.
Normando Cavalcanti, advogado que defende os controladores, disse que o procurador
exprimiu apenas sua opinião, o
que não reflete necessariamente o procedimento que será
adotado pelo Ministério Público Militar.
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