São Paulo, domingo, 11 de maio de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

DANUZA LEÃO

Mudar tudo


Chegou às minhas mãos, há muitos anos, um texto que me parece a perfeição, que fala de vida e de morte

ÀS VEZES FICO PENSANDO que a vida é muito malfeita. Então a gente nasce, se afeiçoa às pessoas, e um dia elas desaparecem, assim, a troco de nada?
Como diz um amigo meu, as pessoas têm a mania de morrer, o que é um péssimo hábito.
Não que se queira a vida eterna, que poderia ser de um tédio cruel, mas as pessoas são tão criativas -Deus, sobretudo, que criou um mundo tão incrível que até os políticos ele inventou, aliás não sei para quê; talvez para dar assunto aos jornais. Mas bem que ele poderia inventar um final menos doloroso para a tal da vida, para que se sofra um pouco menos os que morrem e os que estão em volta.
Há quem acredite no inferno e no purgatório, que seriam duas etapas até chegar ao paraíso. Aliás, devo estar falando bobagem: será que quem vai parar no inferno, se se comportar muito bem, tem chances de acabar no paraíso? As freiras se esqueceram de me ensinar isso, mas chegou às minhas mãos, há muitos anos, um texto que me parece a perfeição, que fala de vida e de morte.
Não foi escrito por nenhuma autoridade do Vaticano, nem avalizado pelo Padre Eterno, mas que considero uma perfeição. Seu autor foi, segundo consta, Charles Chaplin. Vamos a ele.
É um texto diferente de tudo o que se costuma ler, e mesmo que você já o conheça, lerá de novo com o mesmo prazer. O problema é: um colunista tem o direito de publicar um texto que não seja seu, mesmo dando o crédito? Eu, por mim, acho que sim, raramente, e só quando o texto merece muito; como estou saindo de férias, já estou com a cabeça lá longe, por isso não conseguiria escrever nada nem parecido com esse pequeno primor de que falei, tal a sua genialidade.
Ele vai, então, como um presente aos leitores. Na minha volta pretendo estar cheia de gás, pronta para recomeçar. Mas com a triste e melancólica sensação de que nunca seria capaz de escrever nada de tão precioso quanto o texto de Chaplin.
Na minha opinião, trata-se de uma pequena obra prima, e a genialidade é sempre digna de aplausos -de pé. É um texto curto, como devem ser os melhores -e este é um deles.

 "A coisa mais injusta sobre a vida é como ela termina. Eu acho que o verdadeiro ciclo da vida está todo de trás pra frente.
Nós deveríamos morrer primeiro, nos livrar logo disso. Daí viver num asilo, até ser chutado pra fora de lá por estar muito novo, ganhar um relógio de ouro e ir trabalhar. Então você trabalha 40 anos até ficar novo o bastante para poder aproveitar a sua aposentadoria.
Aí curte tudo, bebe bastante álcool, faz festas e se prepara para a faculdade. Vai para o colégio, tem várias namoradas, vira criança, não tem nenhuma responsabilidade, se torna um bebezinho de colo, volta pro útero da mãe, passa seus últimos nove meses de vida flutuando, e termina tudo num grande orgasmo. Não seria perfeito?" Charles Chaplin

danuza.leao@uol.com.br


Texto Anterior: Mãe de gêmeas, Fátima está "pasma" com nova gestação
Próximo Texto: Há 50 anos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.