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São Paulo, quarta-feira, 11 de junho de 2003

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URBANIDADE

Ilustração Vincenzo Scarpellini
HISTÓRIA TELEGRÁFICA Índia beija francês, escultura de William Zadig, sueco, inquieto com a sensualidade tropical. Aparece numa praça em 1922, homenagem a Olavo Bilac. Protestos populares, reprovação da crítica, remoção para o depósito. Em 1966 reaparece na entrada do túnel Nove de Julho, novos protestos. Estudantes de direito sequestram a peça. Até hoje permanece no largo de São Francisco (VINCENZO SCARPELLINI)


Prêmio Minhocão

GILBERTO DIMENSTEIN

COLUNISTA DA FOLHA

A assessoria da prefeita Marta Suplicy elaborou um plano para fazer sumir o Minhocão.
Inaugurado em 25 de janeiro de 1971 pelo então prefeito, Paulo Maluf, o Minhocão, como foi apelidado o elevado Costa e Silva, é o melhor símbolo paulistano da supremacia do carro sobre a cidade. Estragou a paisagem dos prédios, alguns deles de classe média e alta, cujos moradores passaram a conviver com um ruído permanente e com a poluição dos carburadores. A cobertura de 3,4 km de extensão atraiu moradores de rua e ajudou a deteriorar a avenida São João em particular e o centro da cidade em geral.
A discussão sobre o desmonte do Minhocão entre os técnicos da prefeitura foi estimulada pelo arquiteto Jorge Wilheim, secretário municipal de Planejamento. "Aquilo não tem remendo", diz Wilheim. O projeto consiste, basicamente, em abrir um caminho subterrâneo na avenida São João -uma intervenção que se assemelharia à passagem de automóveis no vale do Anhangabaú. "Tirar o elevado é viável tecnicamente, mas não é prioridade", resigna-se.
Odiado a ponto de quererem exterminá-lo sumariamente, o Minhocão ganha, enfim, reconhecimento pela sua importância -e torna-se uma referência de intervenção urbana. Um grupo de arquitetos e urbanistas da Escola da Cidade, instalada na rua General Jardim, cruzada pelo elevado, decidiu lançar neste ano o bem-humorado Prêmio Minhocão para premiar as obras de mau gosto da cidade de São Paulo. Haverá um júri popular que votará pela internet e um grupo de professores que também farão a escolha.
Difícil saber se os "premiados" vão encarar a lista com bom humor. Nas discussões preliminares sobre a lista de votação, apareceram candidaturas consensuais (a praça Roosevelt, os corredores de ônibus das avenidas Nove de Julho e Santo Amaro), mas também nomes carimbados, que lançaram recentemente obras polêmicas -como a marquise de Paulo Mendes da Rocha, na praça do Patriarca, ou o Centro Tomie Ohtake, de Ruy Ohtake. Entrarão na lista monumentos ao estilo neoclássico. "É um jeito de ensinar, pela brincadeira, estética aos paulistanos", diz o designer Rafic Farhat, diretor da Escola da Cidade, para quem Paulo Maluf deveria ganhar um prêmio: morar um mês, gratuitamente, num apartamento no nível do elevado.

E-mail - gdimen@uol.com.br


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