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URBANIDADE
Ilustração Vincenzo Scarpellini
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HISTÓRIA TELEGRÁFICA Índia beija francês, escultura de William Zadig, sueco, inquieto com a sensualidade tropical. Aparece numa praça em 1922, homenagem a Olavo Bilac. Protestos populares, reprovação da crítica, remoção para o depósito. Em 1966 reaparece na entrada do túnel Nove de Julho, novos protestos. Estudantes de direito sequestram a peça. Até hoje permanece no largo de São Francisco (VINCENZO SCARPELLINI)
Prêmio Minhocão
GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA
A assessoria da prefeita
Marta Suplicy elaborou
um plano para fazer sumir o Minhocão.
Inaugurado em 25 de janeiro
de 1971 pelo então prefeito, Paulo
Maluf, o Minhocão, como foi apelidado o elevado Costa e Silva, é o
melhor símbolo paulistano da supremacia do carro sobre a cidade.
Estragou a paisagem dos prédios,
alguns deles de classe média e alta, cujos moradores passaram a
conviver com um ruído permanente e com a poluição dos carburadores. A cobertura de 3,4 km
de extensão atraiu moradores de
rua e ajudou a deteriorar a avenida São João em particular e o
centro da cidade em geral.
A discussão sobre o desmonte
do Minhocão entre os técnicos da
prefeitura foi estimulada pelo arquiteto Jorge Wilheim, secretário
municipal de Planejamento.
"Aquilo não tem remendo", diz
Wilheim. O projeto consiste, basicamente, em abrir um caminho
subterrâneo na avenida São João
-uma intervenção que se assemelharia à passagem de automóveis no vale do Anhangabaú. "Tirar o elevado é viável tecnicamente, mas não é prioridade", resigna-se.
Odiado a ponto de quererem
exterminá-lo sumariamente, o
Minhocão ganha, enfim, reconhecimento pela sua importância -e torna-se uma referência
de intervenção urbana. Um grupo de arquitetos e urbanistas da
Escola da Cidade, instalada na
rua General Jardim, cruzada pelo
elevado, decidiu lançar neste ano
o bem-humorado Prêmio Minhocão para premiar as obras de
mau gosto da cidade de São Paulo. Haverá um júri popular que
votará pela internet e um grupo
de professores que também farão
a escolha.
Difícil saber se os "premiados"
vão encarar a lista com bom humor. Nas discussões preliminares
sobre a lista de votação, apareceram candidaturas consensuais (a
praça Roosevelt, os corredores de
ônibus das avenidas Nove de Julho e Santo Amaro), mas também
nomes carimbados, que lançaram recentemente obras polêmicas -como a marquise de Paulo
Mendes da Rocha, na praça do
Patriarca, ou o Centro Tomie Ohtake, de Ruy Ohtake. Entrarão na
lista monumentos ao estilo neoclássico. "É um jeito de ensinar,
pela brincadeira, estética aos
paulistanos", diz o designer Rafic
Farhat, diretor da Escola da Cidade, para quem Paulo Maluf deveria ganhar um prêmio: morar
um mês, gratuitamente, num
apartamento no nível do elevado.
E-mail - gdimen@uol.com.br
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