São Paulo, quarta-feira, 11 de junho de 2008

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França prende brasileiros acusados de ajudar ilegais

Segundo a polícia, 13 brasileiros chefiavam rede que organizava a ida de trabalhadores

Consulado Geral em Paris tem auxiliado detidos a entrarem em contato com advogados; Itamaraty só atua quando direitos humanos são violados

CÍNTIA CARDOSO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS

A polícia francesa realizou ontem uma grande operação para desmantelar uma rede com 80 pessoas acusadas de ajudar brasileiros ilegais na França. Se confirmadas as acusações, eles podem ser expulsos do país. A informação partiu da DGGN (órgão ligado ao ministério da Defesa encarregado da segurança interna).
Segundo a polícia, 13 brasileiros comandavam uma quadrilha que organizava a viagem de trabalhadores brasileiros para abrigá-los "e explorá-los em condições indignas".
A operação começou às 6h da manhã de ontem em Paris e em cidades da periferia parisiense. Cerca de cem pessoas foram detidas e 79 tiveram a prisão preventiva decretada. Pelo menos 300 policiais foram deslocados para atuar em 31 locais.
Segundo a polícia, houve operações "de rotina" para pedir documentos a trabalhadores da construção civil em Seine-et-Marne. Ao constatar a presença de "um grande número de trabalhadores ilegais de origem brasileira", a polícia deu a ordem de prisão.

Condições difíceis
As autoridades francesas não sabem estimar ainda a extensão da rede de aliciamento de imigrantes brasileiros. A investigação mostrou que a maioria desses trabalhadores morava em condições extremamente difíceis. Em um dos casos, mais de 20 pessoas ocupavam um apartamento de dois quartos. Essa situação precária é igual a de clandestinos chineses que se concentram, sobretudo, no "bairro" de Belleville (na região leste de Paris).
Os agentes da imigração francesa argumentam que a comunidade ilegal brasileira pode se camuflar facilmente se passando por portuguesa. Alguns, como a brasileira S., que não quis ter o nome divulgado por temer represálias, optam por comprar documentos falsos. "Comprei um passaporte português por 1.000 há um ano, mas, agora, vou queimar tudo. Tenho medo de ser presa."
S. mora no departamento de Seine-Saint-Denis, ao lado de Paris, trabalha como faxineira e vende salgadinhos.
Para o geógrafo e especialista em imigração Jorge Malheiros, os imigrantes brasileiros começam a ser estigmatizados na Europa, especialmente em países como Portugal e Espanha, que têm assistido a um número crescente de clandestinos brasileiros. "Infelizmente começa a haver uma certa associação entre brasileiras e prostituição e entre brasileiros e tráfico de drogas. Não é ainda uma tendência dominante, mas que começa a surgir", disse.

Combate à imigração
Desde que assumiu a presidência da França, em maio de 2007, Nicolas Sarkozy, fez do combate à imigração clandestina um dos pilares da sua política externa. A França assume a presidência da União Européia (UE) a partir de julho deste ano. O temor de muitos clandestinos e de especialistas em imigração é que isso signifique uma guinada para o endurecimento das políticas migratórias. Está em trâmite no parlamento europeu um projeto de lei que fará com que os imigrantes encontrados ilegalmente na UE sejam expulsos e impedidos de retornar à Europa por cinco anos.
O Ministério das Relações Exteriores informou ontem que o Consulado Geral do Brasil em Paris vem prestando assistência e auxiliando os brasileiros detidos a contatar seus familiares e advogados. O Itamaraty só atua diretamente em casos de prisão no exterior quando há violação de direitos humanos ou maus-tratos, para não ferir a soberania judicial de governos estrangeiros.


Colaborou a Sucursal de Brasília


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