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França prende brasileiros acusados de ajudar ilegais
Segundo a polícia, 13 brasileiros chefiavam rede que organizava a ida de trabalhadores
Consulado Geral em Paris tem auxiliado detidos a entrarem em contato com advogados; Itamaraty só atua quando direitos humanos são violados
CÍNTIA CARDOSO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS
A polícia francesa realizou
ontem uma grande operação
para desmantelar uma rede
com 80 pessoas acusadas de
ajudar brasileiros ilegais na
França. Se confirmadas as acusações, eles podem ser expulsos
do país. A informação partiu da
DGGN (órgão ligado ao ministério da Defesa encarregado da
segurança interna).
Segundo a polícia, 13 brasileiros comandavam uma quadrilha que organizava a viagem de
trabalhadores brasileiros para
abrigá-los "e explorá-los em
condições indignas".
A operação começou às 6h da
manhã de ontem em Paris e em
cidades da periferia parisiense.
Cerca de cem pessoas foram
detidas e 79 tiveram a prisão
preventiva decretada. Pelo menos 300 policiais foram deslocados para atuar em 31 locais.
Segundo a polícia, houve
operações "de rotina" para pedir documentos a trabalhadores da construção civil em Seine-et-Marne. Ao constatar a
presença de "um grande número de trabalhadores ilegais de
origem brasileira", a polícia deu
a ordem de prisão.
Condições difíceis
As autoridades francesas não
sabem estimar ainda a extensão da rede de aliciamento de
imigrantes brasileiros. A investigação mostrou que a maioria
desses trabalhadores morava
em condições extremamente
difíceis. Em um dos casos, mais
de 20 pessoas ocupavam um
apartamento de dois quartos.
Essa situação precária é igual a
de clandestinos chineses que se
concentram, sobretudo, no
"bairro" de Belleville (na região
leste de Paris).
Os agentes da imigração
francesa argumentam que a comunidade ilegal brasileira pode
se camuflar facilmente se passando por portuguesa. Alguns,
como a brasileira S., que não
quis ter o nome divulgado por
temer represálias, optam por
comprar documentos falsos.
"Comprei um passaporte português por 1.000 há um ano,
mas, agora, vou queimar tudo.
Tenho medo de ser presa."
S. mora no departamento de
Seine-Saint-Denis, ao lado de
Paris, trabalha como faxineira
e vende salgadinhos.
Para o geógrafo e especialista
em imigração Jorge Malheiros,
os imigrantes brasileiros começam a ser estigmatizados na
Europa, especialmente em países como Portugal e Espanha,
que têm assistido a um número
crescente de clandestinos brasileiros. "Infelizmente começa
a haver uma certa associação
entre brasileiras e prostituição
e entre brasileiros e tráfico de
drogas. Não é ainda uma tendência dominante, mas que começa a surgir", disse.
Combate à imigração
Desde que assumiu a presidência da França, em maio de
2007, Nicolas Sarkozy, fez do
combate à imigração clandestina um dos pilares da sua política externa. A França assume a
presidência da União Européia
(UE) a partir de julho deste
ano. O temor de muitos clandestinos e de especialistas em
imigração é que isso signifique
uma guinada para o endurecimento das políticas migratórias. Está em trâmite no parlamento europeu um projeto de
lei que fará com que os imigrantes encontrados ilegalmente na UE sejam expulsos e
impedidos de retornar à Europa por cinco anos.
O Ministério das Relações
Exteriores informou ontem
que o Consulado Geral do Brasil em Paris vem prestando assistência e auxiliando os brasileiros detidos a contatar seus
familiares e advogados. O Itamaraty só atua diretamente em
casos de prisão no exterior
quando há violação de direitos
humanos ou maus-tratos, para
não ferir a soberania judicial de
governos estrangeiros.
Colaborou a Sucursal de Brasília
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