São Paulo, quinta, 11 de junho de 1998

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SAÚDE
Hospital universitário vai atender, de graça, 40 pacientes por mês; método é indicado quando o tumor é pequeno
Semente radioativa trata câncer de próstata

LUCIA MARTINS
da Reportagem Local

A Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) vai começar a usar uma nova técnica para tratar o câncer na próstata. O hospital da universidade será o primeiro da rede pública de São Paulo a realizar esse tipo de terapia -prevista para começar em 15 dias.
A braquiterapia, usada há cerca de cinco anos nos EUA, é uma boa alternativa à cirurgia tradicional porque evita o pós-operatório (já que não há necessidade de cortes) e reduz a chance -de 50% para 30%- de o paciente se tornar impotente após o tratamento.
A técnica consiste na aplicação, com agulhas, de "sementes" radioativas na próstata (veja quadro nesta página). As sementes de iodo radioativo são deixadas na próstata, destroem o tumor e depois se desativam. Após a aplicação das sementes, que dura cerca de uma hora e meia, o paciente pode voltar para casa e sente apenas uma pequena ardência -tratada com analgésicos.
"Essa técnica é muito simples. Em dois dias, a pessoa pode voltar a trabalhar. Na cirurgia normal, pode demorar 30 dias", afirma o professor-titular de urologia da Unifesp e chefe da equipe que vai realizar a terapia, Miguel Srougi.
A braquiterapia, no entanto, só é indicada para 15% dos casos -em tumores ainda pequenos. A partir dessa fase, o melhor tratamento continua sendo a cirurgia tradicional, que retira a próstata do paciente. Hoje, a cirurgia é usada em cerca de 60% dos doentes.
A cirurgia também é o método que mais cura. Consegue eliminar o tumor em cerca de 85% dos casos. A eficácia da braquiterapia é de 70%. Em terceiro lugar, está a radioterapia, cuja porcentagem de cura não ultrapassa os 60%.
Uma das principais preocupações do homem quando ultrapassa os 50 anos, o câncer da próstata afeta 1 a cada 12 brasileiros e é a terceira causa de morte da população masculina -perdendo apenas para os cânceres no pulmão e no estômago-, segundo o Instituto Nacional do Câncer.
A Unifesp pretende realizar a terapia em cerca de 40 pacientes por mês. Para conseguir destruir um tumor, é necessário implantar cerca de 80 sementes na próstatas. O tratamento custa cerca de US$ 3.000 por paciente.
Para montar a unidade de braquiterapia e comprar as sementes (R$ 40 cada uma), a Unifesp conseguiu um patrocínio de R$ 130 mil dos bancos Itaú e Real e fez um acordo com uma equipe do Hospital Sírio Libanês.
O Sírio Libanês vai colaborar com uma equipe de radiologistas que vai realizar as cirurgias em conjunto com um grupo da Unifesp. Na última terça-feira, o Sírio Libanês implantou sementes no primeiro paciente de São Paulo.
"Essa intervenção é importante porque cria mais uma opção para quem sofre de câncer na próstata e porque coloca a universidade como pioneira em avanços tecnológicos com o apoio da iniciativa privada", afirma Srougi.



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