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Homem crê que divide as tarefas
DA SUCURSAL DO RIO
Para a maioria dos casais brasileiros, parece não haver dúvida.
Mesmo quando os dois trabalham, é para a mulher que sobra a
responsabilidade de lavar roupa,
limpar a casa, cozinhar, cuidar
das crianças ou lavar pratos. É o
que mostra o livro "Gênero, Família e Trabalho no Brasil" (editora FGV), das sociólogas Clara
Araújo e Celi Scalon, feito a partir
de pesquisa de opinião financiada
pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro.
Ao serem indagadas sobre a freqüência com que realizavam essas
atividades domésticas, o percentual de respostas "sempre eu" ou
"geralmente eu" das mulheres variou entre 73,5% (lavar pratos) e
95,7% (cuidar das crianças).
A mesma pergunta foi feita aos
homens e, em pelo menos um caso, a resposta deles foi totalmente
diferente da delas. Para 56,2% dos
homens, a tarefa de cuidar das
crianças era dividida igualmente.
Entre as mulheres, essa porcentagem era de apenas 0,9%. Das duas
uma: ou alguém está mentindo ou
a percepção sobre o que significa
cuidar são bastante diferentes.
Para Scalon, essa segunda hipótese é a mais provável. "Os homens saem para passear ou brincar com a criança e entendem isso
como cuidar, mas pouco ajudam
em tarefas como trocar fralda ou
limpar banheiro. Ele parece assumir mais as funções no espaço
público, mas, dentro de casa,
quem segura a onda é a mulher."
O psicólogo social Bernardo Jablonski, que também fez uma
pesquisa entrevistando casais sobre o assunto, afirma que, mesmo
quando o homem divide de maneira mais igualitária as tarefas
domésticas, isso é encarado como
uma ajuda e não como uma obrigação compartilhada.
"Eu percebi muito na minha
pesquisa que alguns homens usavam a palavra "ajudar". É como se
reafirmássemos que não temos
nada a ver com isso, mas que, como somos caras legais, sensíveis e
pós-modernos, a gente quebra
um galho", diz Jablonski.
Ele afirma que percebeu, em alguns casos, que os homens até se
comprometiam com algumas tarefas, mas só em situações nobres.
"O marido até se dispõe a cozinhar, mas não a fazer o trivial."
O psicólogo criou um termo para definir esse homem pós-moderno que, no discurso, defende a
igualdade, mas que tem dificuldade para executá-la na vida privada: "Somos "boçalossauros". É como se habitasse dentro de nós esse ser que a gente quer esconder,
mas que urina na privada, fica
sempre na frente da TV e não
aceita lavar prato. Temos um verniz pós-moderno, mas, se a gente
arranhar um pouquinho a casca,
acaba aparecendo esse monstro".
O curioso da pesquisa de Scalon
e Araújo é que, mesmo com a
existência de tantos "boçalossauros", 53,3% das mulheres consideram justa a divisão das tarefas
domésticas. "É inegável que existe
um certo consenso em parte da
sociedade de que essas atribuições são femininas. Quando trabalha fora, a mulher ainda carrega
culpa por não conseguir cuidar da
casa. Já os homens não sentem
tanto essa culpa", afirma Scalon.
No entanto, mesmo com uma
maioria achando justa a divisão, a
pesquisa indica que a percepção
de injustiça é muito maior entre
as mulheres. Para 43,3%, elas trabalham em casa mais do que o
justo. Entre os homens, essa porcentagem é de apenas 8,2%.
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