São Paulo, sábado, 11 de agosto de 2001

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RIO

Anderson Carlos Crispiniano pode ter sido torturado por policiais; laudo dos exames de necropsia só foi liberado após um ano

Morte de feirante deverá ser investigada

FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO

O juiz da 33ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado, Heraldo Saturnino de Oliveira, vai pedir, em regime de urgência, o desarquivamento do inquérito sobre a morte do feirante Anderson Carlos Crispiniano, suposta vítima de tortura policial no Rio.
Como revelou ontem a Folha, o corpo de Anderson foi exumado no dia 24 de agosto de 2000 e ficou um ano no IML (Instituto Médico Legal), à espera da liberação do laudo dos exames de necropsia.
Só anteontem a família pode enterrar o corpo de Anderson.
O inquérito com a investigação da morte do feirante não virou processo. Foi arquivado a pedido do Ministério Público, em maio deste ano. A organização não-governamental Justiça Global solicitou ontem o desarquivamento.
O chefe de Polícia Civil, Álvaro Lins, informou que pedirá à direção do IML um relatório com explicações sobre a demora na liberação do corpo de Anderson.
No dia 28 de junho do ano passado, o feirante foi sequestrado em casa, no morro do Adeus (zona norte), por homens que se identificaram como policiais da DPCA (Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente).
Os sequestradores exigiram resgate de R$ 5.000, pago pela família. Treze horas depois, Anderson foi libertado. Fora espancado e tivera as unhas arrancadas.
Levado ao Hospital Geral de Bonsucesso, ficou na UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) e morreu no dia 17 de julho, vítima de infecção generalizada.
Não foi feita necropsia. O caso começou a ser investigado, e a Corregedoria da Polícia determinou a exumação para que fossem identificadas as causas da morte.
O laudo final da exumação -concluído no dia 28 de agosto de 2000, mas que levou um ano para chegar à família- não tem conclusões. Afirma que, por causa do avançado estado de decomposição do corpo, não é possível identificar a causa da morte.
A sindicância interna aberta na Corregedoria da Polícia Civil para investigar a morte de Anderson foi arquivada. Um dos policiais acusados foi afastado em julho do ano passado, e o outro, só um ano após a morte de Anderson.
O relator especial da ONU para a tortura, Nigel Rodley, pediu informações sobre o caso. Agora, a ONG Justiça Global quer levar a história de Anderson à Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA (Organização dos Estados Americanos).
O coordenador da Justiça Global, James Cavallaro, disse que irá ao morro do Adeus ouvir testemunhas que possam dar mais detalhes sobre o caso.



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