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RIO
Anderson Carlos Crispiniano pode ter sido torturado por policiais; laudo dos exames de necropsia só foi liberado após um ano
Morte de feirante deverá ser investigada
FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO
O juiz da 33ª Vara Criminal do
Tribunal de Justiça do Estado,
Heraldo Saturnino de Oliveira,
vai pedir, em regime de urgência,
o desarquivamento do inquérito
sobre a morte do feirante Anderson Carlos Crispiniano, suposta
vítima de tortura policial no Rio.
Como revelou ontem a Folha, o
corpo de Anderson foi exumado
no dia 24 de agosto de 2000 e ficou
um ano no IML (Instituto Médico
Legal), à espera da liberação do
laudo dos exames de necropsia.
Só anteontem a família pode enterrar o corpo de Anderson.
O inquérito com a investigação
da morte do feirante não virou
processo. Foi arquivado a pedido
do Ministério Público, em maio
deste ano. A organização não-governamental Justiça Global solicitou ontem o desarquivamento.
O chefe de Polícia Civil, Álvaro
Lins, informou que pedirá à direção do IML um relatório com explicações sobre a demora na liberação do corpo de Anderson.
No dia 28 de junho do ano passado, o feirante foi sequestrado
em casa, no morro do Adeus (zona norte), por homens que se
identificaram como policiais da
DPCA (Delegacia de Proteção à
Criança e ao Adolescente).
Os sequestradores exigiram resgate de R$ 5.000, pago pela família. Treze horas depois, Anderson
foi libertado. Fora espancado e tivera as unhas arrancadas.
Levado ao Hospital Geral de
Bonsucesso, ficou na UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) e
morreu no dia 17 de julho, vítima
de infecção generalizada.
Não foi feita necropsia. O caso
começou a ser investigado, e a
Corregedoria da Polícia determinou a exumação para que fossem
identificadas as causas da morte.
O laudo final da exumação
-concluído no dia 28 de agosto
de 2000, mas que levou um ano
para chegar à família- não tem
conclusões. Afirma que, por causa do avançado estado de decomposição do corpo, não é possível
identificar a causa da morte.
A sindicância interna aberta na
Corregedoria da Polícia Civil para
investigar a morte de Anderson
foi arquivada. Um dos policiais
acusados foi afastado em julho do
ano passado, e o outro, só um ano
após a morte de Anderson.
O relator especial da ONU para
a tortura, Nigel Rodley, pediu informações sobre o caso. Agora, a
ONG Justiça Global quer levar a
história de Anderson à Comissão
Interamericana de Direitos Humanos da OEA (Organização dos
Estados Americanos).
O coordenador da Justiça Global, James Cavallaro, disse que irá
ao morro do Adeus ouvir testemunhas que possam dar mais detalhes sobre o caso.
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