São Paulo, domingo, 11 de agosto de 2002

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SÃO CAETANO

Índice estaria relacionado à riqueza da cidade

Investimentos em segurança não derrubam violência no município

PALOMA COTES
DA REPORTAGEM LOCAL

Mesmo realizando uma espécie de municipalização da segurança pública -com investimentos de mais de R$ 7,6 milhões em equipamentos, infra-estrutura e até mesmo em suplementação de salários das polícias Civil e Militar- a cidade de São Caetano do Sul (Grande SP) não viu as ocorrências criminais caírem.
Em alguns casos, a cidade viu acontecer justamente o contrário.
É o que mostram estatísticas anuais de ocorrências policiais registradas pela Secretaria de Estado da Segurança Pública.
De 1999 a 2001, o número de furtos e homicídios cresceu. Já os roubos e furtos de veículos apresentaram queda de 1999 para 2000, para depois aumentarem.
Desde 1997, uma lei municipal -elaborada pelo prefeito reeleito Luiz Tortorello (PTB)- regulamentou o pagamento de pró-labore mensal, fixado no valor de R$ 300, para policiais militares. Em fevereiro deste ano, a gratificação foi estendida também para o efetivo da Polícia Civil.
Isso significa um aumento de 25% no salário de policiais -civis e militares- em início de carreira, que ganham, no município, segundo a Secretaria de Estado da Segurança Pública, R$ 1.200. Outros funcionários de ambas as polícias também recebem gratificação: R$ 80 por mês.
Além disso, a administração municipal investiu em equipamentos como coletes à prova de bala, rádios, capas de chuva, algemas e carros -que levam o brasão da atual gestão.
A medida não permitiria que carros comprados com a verba municipal fossem transferidos para outras cidades do Estado e, de quebra, os brasões acabam fazendo uma espécie de publicidade da atual gestão.
Já para a Polícia Civil, além do aumento salarial, o dinheiro municipal foi utilizado para a compra de computadores para as três delegacias que existentes no município. Uma delas foi reformada com verba da prefeitura.
Os gastos com segurança pública -que vale lembrar não são uma atribuição municipal - são da ordem de R$ 1,1 milhão com pró-labores e mais R$ 6,5 milhões com equipamento. Isso significa que São Caetano já gasta 3,6% de seu orçamento com segurança.
Pelo que os números indicam, não há uma relação direta entre investimento em equipamentos, a "caixinha" recebida pelos policiais -que resultaria em homens "mais motivados", segundo o comando da PM local- com a queda da criminalidade.
A constatação está nos dados e, segundo o sociólogo e consultor em segurança Tulio Kahn, não há uma relação direta entre as duas variáveis.
"A quantidade de crimes não tem relação direta com o número de policiais ou com quanto eles ganham. Isso tem mais relação com a renda média da cidade, por exemplo. Para conter o crescimento da criminalidade, é preciso mudar a estratégia de policiamento, não aumentar as quantidades", afirma.
A explicação para os crimes que acontecem em São Caetano, segundo Kahn, está relacionada com a "riqueza" do município. Dados de 2001, fornecidos pela prefeitura, mostram que a cidade tem uma renda per capita anual de US$ 16.500 e há apenas 1% de analfabetismo. No ano passado, a cidade foi a primeira colocada no ranking do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano).
"Em cidades com melhor qualidade de vida, há crescimento de crimes contra o patrimônio, já que há mais carros e coisas para roubar. É aí que acontecem os chamados crimes de oportunidade. O problema de São Caetano não é o mesmo de São Paulo", afirma Kahn.



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