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MASSACRE NO CENTRO
Júlio Lancellotti vê "lei do silêncio"
Padre relaciona crime a grupos de segurança privada clandestina
SÍLVIA CORRÊA
DA REPORTAGEM LOCAL
Há indícios de que uma disputa
entre esquadrões clandestinos de
segurança privada possa estar por
trás dos ataques de moradores de
rua no centro de São Paulo. A informação foi dada ontem pelo padre Júlio Lancellotti, da Pastoral
do Povo de Rua, após uma reunião com o diretor da Divisão de
Homicídios, na qual o caso está
sendo apurado.
"Existem sinais de que isso tenha sido uma demonstração de
força e de serviço. Porque há um
interesse geral e não declarado no
centro de limpar a cidade pela
violência, e assim como há grupos
na periferia que brigam pelas
áreas de tráfico, no centro há grupos que brigam pela hegemonia
da segurança", disse Lancellotti.
Por essa tese, ainda segundo o
padre, assassinar as pessoas que
vivem sob as marquises seria a
forma escolhida por um desses
grupos que disputam a região para mostrar serviço aos contratantes e manter a posse do negócio.
Segundo informações já divulgadas pela Polícia Civil, há suspeita de que um ou mais guardas-civis tenham participado do crime.
"Pode ser [guardas ou] "n" grupos.
O importante é que essas pessoas
se organizaram e formaram um
grupo que tem um outro interesse", disse Lancellotti. "Mas no
centro há a lei do silêncio: muita
gente sabe e tem medo de dizer. O
que me parece é que, além da limpeza, alguns deles [dos moradores de rua] poderiam ter informações -saber demais por estar no
epicentro dessa efervescência."
Os ataques deixaram seis mortos e nove feridos nos dias 19 e 22
de agosto. Questionado sobre a
existência de provas concretas
que apontam para a ação da segurança clandestina no massacre, o
padre respondeu: "Algumas informações vão coincidindo,
apontando na mesma direção. Há
um conjunto de dados que formam um quadro. E é esse quadro
que é mantido em sigilo".
Ele diz que ontem foi trocar "leituras e informações com a polícia" e que essa troca tem sido
muito boa, "porque em muitos
pontos a leitura coincide".
Mantido sempre a par dos passos da investigação, Lancellotti
disse ainda que não acha provável
que o caso esteja esclarecido até o
final da semana que vem, como
prometeu anteontem o secretário
da Segurança Pública, mas confirmou que já há no inquérito relatos de testemunhas oculares de algumas das agressões.
Informalmente, a Polícia Civil
afirmou ter pedido ao Metrô fichas de alguns de seus funcionários -os seguranças das estações
trabalham uniformizados com
roupas escuras, semelhantes às
dos agressores descritos por testemunhas. Nem o governo nem a
companhia, no entanto, confirmaram ter havido a solicitação.
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