São Paulo, sábado, 11 de setembro de 2004

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MASSACRE NO CENTRO

Júlio Lancellotti vê "lei do silêncio"

Padre relaciona crime a grupos de segurança privada clandestina

SÍLVIA CORRÊA
DA REPORTAGEM LOCAL

Há indícios de que uma disputa entre esquadrões clandestinos de segurança privada possa estar por trás dos ataques de moradores de rua no centro de São Paulo. A informação foi dada ontem pelo padre Júlio Lancellotti, da Pastoral do Povo de Rua, após uma reunião com o diretor da Divisão de Homicídios, na qual o caso está sendo apurado.
"Existem sinais de que isso tenha sido uma demonstração de força e de serviço. Porque há um interesse geral e não declarado no centro de limpar a cidade pela violência, e assim como há grupos na periferia que brigam pelas áreas de tráfico, no centro há grupos que brigam pela hegemonia da segurança", disse Lancellotti.
Por essa tese, ainda segundo o padre, assassinar as pessoas que vivem sob as marquises seria a forma escolhida por um desses grupos que disputam a região para mostrar serviço aos contratantes e manter a posse do negócio.
Segundo informações já divulgadas pela Polícia Civil, há suspeita de que um ou mais guardas-civis tenham participado do crime. "Pode ser [guardas ou] "n" grupos. O importante é que essas pessoas se organizaram e formaram um grupo que tem um outro interesse", disse Lancellotti. "Mas no centro há a lei do silêncio: muita gente sabe e tem medo de dizer. O que me parece é que, além da limpeza, alguns deles [dos moradores de rua] poderiam ter informações -saber demais por estar no epicentro dessa efervescência."
Os ataques deixaram seis mortos e nove feridos nos dias 19 e 22 de agosto. Questionado sobre a existência de provas concretas que apontam para a ação da segurança clandestina no massacre, o padre respondeu: "Algumas informações vão coincidindo, apontando na mesma direção. Há um conjunto de dados que formam um quadro. E é esse quadro que é mantido em sigilo".
Ele diz que ontem foi trocar "leituras e informações com a polícia" e que essa troca tem sido muito boa, "porque em muitos pontos a leitura coincide".
Mantido sempre a par dos passos da investigação, Lancellotti disse ainda que não acha provável que o caso esteja esclarecido até o final da semana que vem, como prometeu anteontem o secretário da Segurança Pública, mas confirmou que já há no inquérito relatos de testemunhas oculares de algumas das agressões.
Informalmente, a Polícia Civil afirmou ter pedido ao Metrô fichas de alguns de seus funcionários -os seguranças das estações trabalham uniformizados com roupas escuras, semelhantes às dos agressores descritos por testemunhas. Nem o governo nem a companhia, no entanto, confirmaram ter havido a solicitação.


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