São Paulo, Sábado, 11 de Setembro de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

POLÍCIA
Família diz que presenciou pulsação e respiração e acusa médicos de recusar atendimento no cemitério
Morto se movimenta durante velório

da Reportagem Local

A família do pintor Joaquim Gilberto da Silva, 61, suspeita que ele possa ter morrido quando já estava sendo velado por cerca de cinco horas no cemitério da Vila Nova Cachoeirinha, na zona norte de São Paulo.
A suspeita surgiu após Silva ter, segundo a família, aberto os olhos e apresentado sinais de pulsação e de respiração. Tudo teria acontecido na madrugada de ontem, quando Silva já estava no caixão e sendo velado pela família.
Segundo o atestado de óbito, assinado pelo médico Oscar Teixeira Hellwig, Silva morreu anteontem às 16h por insuficiência respiratória. Ele tinha, ainda segundo o atestado de óbito, câncer no estômago e havia sido internado na quarta-feira no Complexo Hospitalar do Mandaqui.
Um novo atestado de óbito feito ontem pelo IML (Instituto Médico Legal) confirmou a causa da morte. A pedido da polícia, o instituto elaborará um laudo para revelar o horário provável da morte de Silva. O objetivo é tentar esclarecer se há fundamento na suspeita da família.
"Nós estávamos colocando flores no caixão e o meu tio abriu os olhos. Começamos a passar a mão nele e percebemos que não havia enrijecimento cadavérico. Fomos correndo para o hospital para chamar um médico", disse ontem a professora Sheila de Andrade Leonardo, sobrinha de Silva.
"Não sei até onde vão meu sentimento e minha razão. Mas a minha intuição diz que ele estava vivo", afirmou a professora.
Sheila disse que a pulsação e a respiração de Silva foram presenciadas por parentes e pessoas que acompanhavam o velório, após ela ter ido ao Complexo Hospitalar do Mandaqui para pedir ajuda a um médico.
No hospital, médicos teriam se recusado a acompanhá-la até o velório argumentando certeza sobre a morte de Silva. Depois disso, Sheila procurou a polícia e Silva acabou sendo levado para o Hospital da Vila Nova Cachoeirinha. Lá, médicos também atestaram a morte do pintor.
Do hospital, Silva foi levado novamente para o velório, que acabou sendo interrompido novamente. Dessa vez, o corpo de Silva foi levado para o IML devido ao pedido da família para que a horário da morte dele fosse descoberto. O corpo do pintor não tinha sido liberado até ontem à noite. Ele seria enterrado hoje no Cemitério de Vila Cachoeirinha.
A Folha procurou ontem o médico Oscar Teixeira Hellwig em sua casa. Ele não respondeu ao recado deixado pela reportagem.
No Complexo Hospitalar do Mandaqui, uma funcionária informou que a direção não se manifestaria sobre o assunto.
(JCS)


Texto Anterior: Letras jurídicas - Walter Ceneviva: (In)dependência ou morte
Próximo Texto: Movimento "leve" tem explicação
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.