São Paulo, segunda-feira, 11 de outubro de 2004

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BALANÇA DESREGULADA

Pesquisa feita em São Paulo mostra que obesidade dobrou entre eles; elas estão menos sedentárias

Homem engorda mais rápido que mulher

Jorge Araújo/Folha Imagem
Ex-gordinha, a figurinista Patrícia Zuffa, 40, de São Paulo, trocou carne vermelha por proteína de soja


RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL

Os homens estão engordando em um ritmo bem mais acelerado que as mulheres. Num intervalo de 14 anos, a obesidade praticamente dobrou entre os homens da cidade de São Paulo -cresceu 97,3%. O aumento entre as mulheres foi menor, de 61,3%.
Esses números resultam de uma pesquisa feita na capital paulista pela Secretaria Estadual da Saúde nos anos de 2001 e 2002. Foram adotados os mesmos critérios de um levantamento realizado em 1987 para que se pudesse traçar a evolução do número de obesos na cidade ao longo desses 14 anos.
A sondagem de 2001-2002 foi domiciliar e examinou 2.103 pessoas com idade entre 15 e 59 anos (sendo 47% homens e 53% mulheres). A escolha das casas e das pessoas pesquisadas foi feita por sorteio. Elas foram pesadas e tiveram a barriga medida.
Nos dois períodos estudados, o problema da obesidade foi maior entre as mulheres. Mas os homens mostraram uma tendência de ganhar peso mais forte. Em 1987, 6,1% dos homens paulistanos eram obesos; o índice saltou para 12,4% no início desta década. No caso das mulheres, o número subiu de 9,3% para 15%.
O número de homens que estão pouco acima do peso ideal -o sobrepeso (ou pré-obesidade)- também subiu (de 28,3% para 35,5%). Entre as mulheres, houve queda (de 27,8% para 22,9%).
O problema é tão grave, no Brasil e em todo o mundo, que hoje é o Dia Internacional de Combate à Obesidade, data criada para estimular comportamentos que evitem ganho de peso excessivo.
Uma das explicações para que o problema da gordura seja mais preocupante entre os homens é dada pela própria pesquisa: eles estão cada vez mais sedentários.
Enquanto aumentou o número de homens que não praticam nenhum tipo de exercício físico nas horas livres (de 58,3% para 59,2%), a quantidade de mulheres consideradas sedentárias diminuiu (de 81,6% para 71,8%).
"Muitos homens não acreditam que fazer uma simples caminhada de 30 minutos seja um ótimo exercício", diz uma das pesquisadoras do estudo, a enfermeira Ana Paula Coutinho, diretora técnica da Divisão de Doenças Crônicas Não-Transmissíveis da Secretaria Estadual da Saúde. "Além disso, a onda das academias de ginástica atinge mais as mulheres, pela questão estética."
Outra explicação para o aumento da obesidade está na alimentação dos paulistanos. As pessoas visitadas também responderam a um questionário sobre seus hábitos alimentares, mas as informações ainda estão sendo estudadas pela equipe de pesquisadores.

Tendência mundial
Segundo o coordenador da pesquisa, o médico epidemiologista Luiz Francisco Marcopito, os dados reforçam uma "preocupante tendência mundial".
"A incidência de diabetes também deve se tornar cada vez mais alarmante", afirma ele, referindo-se à conhecida associação entre a obesidade e um maior risco de desenvolver a doença.
Mais que a obesidade, o inimigo número um da saúde é o sedentarismo. "Basta olhar a sua própria família. Há mais gente obesa ou sedentária?", questiona o médico esportista Victor Matsudo.
Ele é coordenador do Agita São Paulo, um programa que tem por objetivo ajudar as pessoas a adquirir o hábito de fazer atividades físicas que tem 300 parceiros.
Mais que sessões de alongamento ou de abdominais, a iniciativa sugere ações bem mais simples. Exemplo: iluminar e pôr música ambiente nas escadas, para que elas sejam usadas no lugar dos elevadores.
De acordo com Matsudo, o sedentarismo está por trás não só de obesidade, mas também de diversos tipos de câncer, de osteoporose e até de depressão. "Embora pouca gente saiba, a falta de atividade física pode matar."
Segundo a pesquisa da Secretaria de Estado de Saúde feita em 2001-2002, 71,8% das mulheres e 59,2% dos homens da cidade de São Paulo são sedentários.
Para o coordenador do Agita São Paulo, as empresas e o governo já estão começando a tomar consciência da necessidade das atividades físicas. "Uma pessoa ativa falta menos ao trabalho, tem menos doenças, produz mais. Exercício é a melhor forma de combater o estresse", diz ele.

Mudança de hábito
"Parei de fumar há um ano e meio e fiquei viciada em açúcar. Engordei 9 kg", diz a figurinista Patrícia Zuffa, 40.
Há oito meses, ela resolveu mudar seus hábitos. Depois de abandonar o cigarro e as noitadas, decidiu que não dava mais para seguir a vida sedentária.
Hoje, malha com um personal trainner quatro vezes por semana em uma academia de São Paulo e corre 6 km seis vezes por semana.
"Consegui atingir o índice de 22% de gordura no meu corpo, que está dentro de média, mas quero chegar a 18%", disse ela, que ao começar a fazer exercícios tinha o índice de 35%.
Patrícia diz que não adianta só praticar exercícios sem mudar os hábitos alimentares. Ela trocou a carne vermelha por proteína de soja, que, diz, é boa para hormônios femininos.
Colaborou Fernanda Fernandes, da Reportagem Local

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